Manaus, 9 de dezembro de 2023

Tudo como antes…

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Antes da primeira crise da borracha (houve uma segunda) muita gente de visão emitiu sinais de alerta para a necessidade do poder público dar maior atenção ao plantio racional da seringueira. A falta de preparo intelectual impediu que os homens públicos vislumbrassem o futuro que chegou trazendo muita pobreza e miséria para toda a sociedade amazonense, embora o problema tenha sido muito mais grave para os pobres e para a gente do seringal.

Nem mesmo o “festejado” Eduardo Ribeiro se interessou  por isso, chegando a dizer, em 1895: “não exagero em dizer-vos que as fontes de receita deste estado são inesgotáveis”, com esse ufanismo burro sendo copiado pelo governador do Pará (Augusto Montenegro) que declarou, em 1910: “não nos devemos preocupar com as plantações de borracha que surgiram na Ásia…”. E nesse mesmo ano terminou o ciclo do ouro negro e o preço da borracha despencou de 655 libras/ton., para £ 380, provocando uma enorme perda de divisas.

 

AS ADVERTÊNCIAS

As advertências de homens da envergadura de Cosme Ferreira Filho, Felisberto Camargo, Carlos Eugênio Chauvin não tiveram repercussão, o mesmo acontecendo com o texto do Jornal do Commercio (14/04/1913) que advertia “o homem inteligente, não somente para a vantagem, mas a extrema necessidade do plantio da Hevea”. E a importância do látex no Amazonas foi definhando e passou dos 100% da produção brasileira até 1892, para míseros 2,1% em 1930. O chororô decorrente do desmazelo foi direcionado para a Presidência da República, revoltando o presidente Affonso Penna que, em Mensagem Presidencial escreveu “ser preciso corrigir os excessos do Amazonas, conserva-lo sob tutela, humilha-lo, estinhar o seu erário”.

 

IGUALDADE E SIMILARIDADE

O fracasso do modelo da borracha parece muito com o fracasso do modelo Zona Franca até no repúdio da presidência que vetou parte de uma Medida Provisória que beneficiaria a Zona Franca, tentando “corrigir os excessos, tutelar nossa economia, humilhar o povo e estinhar nosso erário”.

 

A ILUSÃO DO FAUSTO E A SOLUCÃO

A imobilidade dos dirigentes atuais é igual à dos dirigentes do período da borracha. Mesmo tendo tido muitos anos para repensar o frágil e insustentável modelo Zona Franca, agora, diante do caos, a classe politica tenta reverter a questão fazendo uma coisa que sabe fazer muito bem: ir ao poder maior e negociatar (de negociata) o apoio ao governo e suas roubalheiras. O problema é que agora a coisa ficou mais difícil, pois o Ministério ao qual a Suframa está vinculada, tem, como titular um senador interessado em criar uma zona franca no agreste de seu estado – Pernambuco – que, por questões logísticas, vai liquidar a nossa distante Zona Franca. Ao primeiro sinal concreto de definhamento dos lucros, todas as empresas do PIM vão abandonar Manaus e se instalar nos incentivos da zona franca nordestina.

O Amazonas, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso ganhou a opção de utilizar a biodiversidade para fabricar produtos de alto valor agregado, mas uma inculta e desprezível deputada federal considerou o acordo com o projeto como via para a biopirataria e FHC medroso, editou uma Medida Provisória que liquidou o Centro de Biotecnologia do Amazonas. Para não parecer coisa de ambientalista, vou dar alguns exemplos de valor agregado à produtos da biodiversidade; 1) duas substâncias – vinblastina e vincristina, isoladas de uma planta nativa de Madacascar (Catharanthus roseus) que também está presente em todas as ruas e jardins de Manaus, diminuíram de 90% para 10% o índice de mortes causadas por um certo tipo de leucemia infantil; 2) do veneno da jararaca foi fabricado o anti-hipertensivo Captopril que deu à Squib mais de 1 bilhão de dólares durante vários anos e salvou muitas vidas que não têm preço para aumentar o PIB, mas têm muito valor. Do mesmo veneno foi fabricado o Evasin patenteado por pesquisadores brasileiros do Instituto Butantã; 3) Um principio ativo imunodominante isolado do veneno da coral verdadeira chega a custar mais de US$30,000/g. (trinta mil dólares por grama) Que produto do PIM tem esse preço?; 4) a bactéria Chromobacteruim violaceum, assinalada no rio Negro por Vera Guarim e por mim em minha Dissertação de Mestrado, fabrica uma substância – violaceina – importante no tratamento de um certo tipo de câncer, que foi patenteada pela Unicamp. Enquanto isso o CBA continua inoperante e medíocre, como todos quem impediram sua ativação.

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