Manaus, 21 de novembro de 2024

Um basta ao preconceito

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Nossa cidade e nosso estado foram construídos por gente das mais diversas origens e costumes. E é um absurdo que aqui se alimente preconceito de qualquer espécie.
Principalmente preconceitos culturais e de étnicos. Vejamos nossa história. Um pouco antes do ciclo da borracha, empurrados pelas perseguições, fome e discriminação, judeus sefaraditas marroquinos, bem como de outros grupos culturais da Europa e Oriente Médio, aportam na Amazônia a partir de 1810, a maioria procedente de Tanger, Tetuan, Fez, Rabat, Sale e Marrakesh. Em Belém fundaram em 1824 a Essel Abraham, a primeira do Brasil depois de mais de duzentos anos. Era uma imigração bem preparada, com homens e mulheres educados para o trabalho, que logo ocupariam importantes nichos empresariais, especialmente no comércio, na exportação e importação, na indústria e na cultura. Outra corrente migratória importante foi a dos sírios e libaneses. No final do século XIX, com o crescimento da economia do látex, levas inteiras de homens e mulheres deixaram suas cidades e aldeias, como Baalbeck, Ghazir, Dimen, Beirute, no Líbano, e Ayo, Hamma e Damasco, na Síria, para reconstruir sua existência na Amazônia. Gente persistente, apegada ao sentido E de família, logo estavam concorrendo com os outros imigrantes e formando novos costumes e valores culturais.
Foram os sírios e libaneses que introduziram na região o sistema do crediário, trazendo para um mercado elitista a população pobre. Outros grupos étnicos e culturais também vieram contribuir para a formação da Amazônia moderna. Em 1867, com a derrota da guerra da secessão, centenas de confederados, sob a liderança do major Warren Lansford Hasting, deslocam-se para a cidade de Santarém, ocupando depois outras localidades do baixo amazonas.
Da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, ficou o extraordinário legado dos trabalhadores de Barbados e Jamaica, que ficaram em Rondônia e ali imprimiram fortes sinais de sua presença. Dos europeus, além da constante e ininterrupta imigração portuguesa, há que se destacam a presença dos italianos. Oriundos em sua grande maioria do sul da Itália, especialmente das empobrecidas províncias do
Mezzo Giorno, Potenza e Calábria, os italianos se destacaram na Amazônia nos campos da educação, arquitetura, música, comércio e indústria, artes cênicas e na introdução, junto com os espanhóis, dos primeiros movimentos operários organizados. Os últimos grupos de migrantes estrangeiros foram os japoneses, que a partir de 1928 começaram a se instalar nos municípios de Monte Alegre, Marabá, Bragança e Conceição do Araguaia, estado do Pará. Até o final da década de trinta do século passado, quase 500 famílias chegaram à região, com o intuito de introduzir o cultivo da pimenta-do-reino e da juta, mas tiveram um importante papel na introdução de novas variedades de plantas e hortaliças, além da difusão de técnicas avançadas de produção agrícola. Com a crise e o fim da economia da juta, muitas famílias japonesas decidiram mudar para as cidades de Manaus e Belém, onde se integraram e contribuíram com os seus valores culturais, seu cultivo pela cortesia, respeito à hierarquia e sensibilidade estética. Por isso, é preciso dar combate sem quartel a qualquer tipo de racismo, se formos fiéis às origens do povo amazonense.

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