Manaus, 18 de junho de 2025

Um príncipe

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Entre 1809 e 1819, uma série de medidas administrativas do então príncipe regente e depois Dom João VI são implantadas para estimular a caminhada do Brasil de colônia à Nação, embora este não fosse exatamente o objetivo da monarquia portuguesa. 

O que o príncipe desejava era aumentar a eficiência da colônia, melhorar as condições materiais e introduzir algum conhecimento tecnológico que lhe permitisse um certo conforto. Mas configurou-se um caso muito curioso. Impossibilitado de promover avanços ou mudanças na estrutura econômica, Dom João VI investe em educação e cultura.

Quando nos debruçamos sobre esta época, quase sempre nos surpreendemos como em pouco mais que uma década, uma miserável colônia periférica ganha corpo e passa a gestar a sua própria independência. Com Dom João VI, o Estado importado para o Brasil descobre a importância da educação e da cultura, para o bem e para o mal. Este Príncipe melancólico, a quem quiseram dar tintas de burlesco, era homem bem educado, embora não pudesse ser chamado exatamente de um intelectual. Sensível e emotivo, era comum chegar às lágrimas, e sem as escondê-las, mas cultivava um senso de humor fino e cortante, nada lusitano. E como era comum urbano, em sua família, adorava ouvir música, tinha gosto refinado mas não desprezava uma melodia popular.

Sinais de seu refinamento podem sem encontrados nas suas relações com as coisas da arte. Embora se equivocasse com o caráter de alguns de seus colaboradores, jamais errava quando se tratava de identificar artistas de talento ou jovens com aptidão. Ao chegar no Rio de Janeiro, logo se interessou pela pequena mas efervescente vida intelectual da cidade.

Para ele era surpreendente que os conventos não apenas se preocupassem em promover coloridas procissões, mas também promovessem debates artísticos e discussões científicas. O que explicava a presença do brilhante compositor sacro, o mulato Padre José Maurício, muitas vezes convidado a deleitar o príncipe com sua inspirada música na capela do Paço. Da mesma forma, caiu-lhe nas graças o pintor José Leandro, um desses talentos capazes de superar todos os obstáculos apresentados pelas limitações coloniais, que o retratou muitas vezes e em 1817 criou o painel da família real rendendo graças à Virgem do Carmo.

Na falta de escolas superiores, os conventos formaram homens como o matemático frei Pedra de Santa Maria, o físico e químico frei Custódio Serrão e o botânico frei Leandro do Sacramento, sem falar nos médicos, nos oradores, ou de desenhistas como frei Francisco Solano, ilustrador da magnífica Flora Fluminenses.

Todos esses sábios, artistas e intelectuais, eram filhos da acanhada colônia e haviam vicejado sem as facilidades da metrópole e distantes dos ambientes cultos da Europa. Mas Dom João não vivia apenas no Paço e muito menos limitava o seu convívio aos círculos eclesiásticos e políticos. Aliás, uma de suas

primeira medidas no Paço foi mandar substituir as gelosias de madeira, lembrança dos mucharabis, por janelas com vidraças. Sabia como era a vida no Rio de Janeiro, com sua população esmagada entre o mar, pântanos, montanhas e um cenário esplendoroso.

Era uma população alegre, apesar da insipidez da vida social e da presença sórdida de vagabundos e mendigos, além da escravaria.

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