Continuando a segunda parte dos relatos do artigo em tela, segundo Rodolfo Moraes, professor de Língua Inglesa do LCV – Luís Vaz de Camões, um PhD vinculado ao Instituto de Tecnologia de Massachussetts considerado o ‘pai da linguística moderna’ é o cientista cognitivo que mais tempo dedica ao estudo da linguagem em suas complexas relações. Por sua vez Bono Vox, líder da banda U2, afirma que ‘se o trabalho de um rebelde é derrubar o velho e preparar o novo, então este é Noam Chomsky um rebelde sem pausas, o Elvis da Academia…’ referindo-se ao estudioso por ser um ativista americano e por ter quebrado paradigmas sobre a linguagem. E assim é o que ocorre em nossa sociedade: por mais que esteja fora do mapa do caminho ou da curvatura da vara, os seres humanos têm como provar e comprovar a eficiência técnica, apesar dos outros sujeitos não acreditarem. E, desde modo, o petiz continuou sua saga…
Todavia a mãe do futuro artista, anteriormente, dirigiu-se com ele até a residência do professor Felisberto Santana (1913-2002), um pernambucano erudito que veio para o Amazonas e logo se itacoatiarizou tendo como sonho reavivar uma das primeiras escolas de música regional e do Nordeste, tão encantado ficou quando soube da existência de uma instituição musical no interior do Estado, na década de 30. Nas dependências da instituição, na Avenida Manaus, as apresentações de praxe iniciadas pelo professor… E agora o garoto entra silenciosamente para o teste, despedindo-se de quem o trouxera. Em seguida o diretor solicitou ao aluno que escolhesse qualquer peça e o jovem aprendiz em uma carteira da sala de aula, com um quadro marcado com as pautas musicais riscadas horizontalmente e executa uma música, solando Gotas de Lágrimas… O maestro reagiu entre assustado e reflexivo. Imediatamente após o recital, envia um recado pelo rapaz para chamar sua genitora para dizer-lhe que não tinha mais nada a ensinar ao pretenso neófito. Aos 17 anos a lenda é conhecida em toda a cidade e já começa a trabalhar profissionalmente…
Puxando a sardinha para o nosso lado e colocando em prática o que preconiza a corrente historiográfica Nova História – Le Goff e Pierre Nova, da 3ª geração da Escola dos Analles -, ao pesquisar a obra executada na prova, descobre-se que ela é uma a valsa, um solo para violão, do LP Gotas de Lágrimas, da gravadora ODEON, de 1930, do maestro Mozart Bicalho (1902-1986), nascido em Bom Jesus do Amparo – MG. Ele era violonista, compositor e poeta brasileiro na década de 20 e compôs inúmeros hinos municipais tais como os de Mesquita – RJ; Coronel Fabriciano, Baldim, Brás Pires e Dom Joaquim estes últimos, mineiros. Porém para realizar a audição nosso personagem teve que emprestar o disco de ‘seu’ Arlindo Boró Boró, então diretor-comercial da Rádio Difusora. Após limpar os sulcos do LP colocou no gramofone para passar horas exercitando as frases musicais. Todavia Abismo de Rosas, Sons de Carrilhões e Se ela pergunta já faziam parte de sua playlist. Aprendeu ouvindo os clássicos populares de Dilermando Reis, Américo Jacomino, Glauco Viana, Rogério Guimaraes, dentre outros.
Entre um trabalho voluntário e outro, o adolescente possui uma profissão de verdade. Entretanto legaliza um restaurante para complementar a renda familiar que após às 15h, funcionava como bar ao qual batiam ponto seus amigos Pedro Mocotó, Raimundo Durão, Ivanildo, Lucas Santos e Francisco Menezes; Galdino e Jones, dedilhando e exercitando as cordas vocais, alguns começando recentemente. Se reuniam todas as tardes naquela palafita da beira-mar não somente para ver o espetáculo do pôr do sol, mas com a argumentação de admirar as ondas da natureza que corriam sobre o rio, saboreando a mais tradicional espumante elaborada na Indústria de Xexuá Ltda – uma das quatro destilarias tinha filial em Fortaleza (CE) -, tônico vital que fazia a alegria de muitos, exportada para todos os continentes, conforme boletins mensais da Associação Comercial de Itacoatiara que circulavam na Europa.
A seguir obteve licença e carteira de músico profissional devidamente registrada na OMB – Ordem dos Músicos do Brasil, seccional do Amazonas no município para trabalhar na noite; também se filiou a SICAM – Sociedade Independente de Compositores e Autores Musicais. Em 1966 junto com seu amigo Francisco Guimarães, para ganhar experiência e obter mais conhecimentos na área, manteve um programa aos sábados, às 18h, em uma emissora local. Canta em castelhano, francês e italiano, falando fluentemente dois idiomas. Em 2021 completou 40 anos na noite e ainda continua na ativa fazendo suas ‘lives’, tendo sido entrevistado aqui e no exterior por dezenas de TVs, jornais e emissoras de rádio. Atualmente está produzindo o 5º CD de sua carreira.
Muito lúcido, seguro e feliz nas lembranças afetivas e familiares, Tempo Bom (Moisés/João Paulo) interpretada por Chico da Silva, é o exemplo mais fiel das recordações que traz da infância e adolescência que traduzem esse retrato de época:
Daquele tempo de Menino
Ainda tenho no meu peito muita saudade
Roda pião
Estilingue no pescoço e papagaio pra soltar…
talvez revivendo as desabaladas carreiras pelo quintal de dona Bita, próximo a delegacia de polícia em que residia; do Campo da dona Liúca, ou então, quando batia bola com seus colegas no ‘sindicato’.
Para entendermos essa trajetória de sucesso ele cria a banda Blue Stone e em 24.12.1968 com nova formação lidera o grupo Os Humildes com Sansão, Ely (Pinheiro), Zé Rolim e Mathias para tocar os embalos da juventude que com algumas alterações transforma-se em The Hambleis Boys, tendo João Lira, o Ponta, como empresário. Esse conjunto obteve o 2º lugar em um concurso de grupos e bandas musicais da Amazônia, realizado por um matutino da capital. Alguns especialistas afirmam que os garotos da Cidade da Canção mereceram a láurea maior, pois enfrentaram uma batalha com dezenas de bandas manauaras, inclusive o Blue Birds que decretaram como vencedor.
Em novembro de 1975 transferiu-se para Manaus como alvo trabalhar no chão de fábrica do PIM – Polo Industrial de Manaus para continuar os estudos e materializar os sonhos, gerando renda para si e para sua família. Foi selecionado pela empresa Tecnos da Amazônia e logo na chegada reuniu a moçada e recursos para fundar o Grupo Pop, nos Educandos, bairro em que era formatada a banda nos ensaios, começando sua trajetória de sucesso no segmento musical. Trouxe para auxiliá-lo Adonay em 1985 que, tocando todos os estilos, estreia nos nigths manauaras de então.
O Tiro ao Álvaro desse artigo – como escreve o cronista paulistano do samba Adoniram Barbosa -, é linkar os cientistas às suas teorias com a praxis cotidiana demonstrando para as esferas governamentais que é simples transformar, sensibilizando o sujeito e dando as ferramentas necessárias para tornar-se cidadão, aproveitando as habilidades humanas nele inerentes apenas com a vontade política de fazer valer. Ferdinand de Saussure (1837-1913), filósofo e linguista suíço propôs em suas pesquisas a teoria literária como objeto de estudo. Estudava a linguagem, isto é, a separação da língua e da fala. Conforme Everton Pinheiro, Mestre em Língua Portuguesa da EETI Francisca Botinelly, ele foi além estudando os signos… um dos cientistas que em muito contribuiu para a Semiótica. Deste modo a tese de Saussure reafirma a lista de Gardner, sobre a Inteligência Linguística e de que é possível somar-se a outros tipos como a Musical, por exemplo.
Os teóricos expõem o banco de teses nas IES – Instituição de Ensino Superior, em congressos científicos internacionais e simpósios nacionais, para serem testados, depois de exaustivos estudos e experimentos, cabendo a sociedade exigir e comprovar a experiência, os governos a cumprir o dever de casa e articular os recursos necessários para a materialização das ideias, tendo a escola como centro do mapeamento das informações, observando que é possível incluir o discente para acessar todas as Inteligências Múltiplas conhecidas, utilizando-se dos dois hemisférios cerebrais e no compartilhamento das experiências, especialmente na Idade pós-moderna da aldeia virtual.
Na terceira fase da descrição buscamos resgatar a produção cultural obtida pelo talentoso artista em sua trajetória: Cursou a EE Dep. Vital de Mendonça, no bairro centenário da cidade, a época que residindo na Fileto Pires. Mas um dos sonhos mais importantes foi criar o 6º Dimensão, um divisor de águas em termos musicais compondo com Antônio Venâncio, contrabaixo; Itamar Gadelha, Tecladista; Sansão, guitarra base; Artur Aquino, Crooner; Toninho, Sax, um dos grupos mais emblemáticos do interior da Amazônia, tocando desde as baladas melódicas dos anos 60 e 70, fazendo a turnê amazônica inúmeras vezes indo a Manicoré, passando por Borba, Nova Olinda, Parintins, Alenquer, Óbidos, Santarém (PA), todo Médio e Baixo Amazonas até 74, desaguando em quase todo Pará.
Fez uma turnê internacional em 1969 pela banda Golden Lions, contratado para tocar em companhias americanas sediadas na Venezuela, quando ainda era o 4º produtor mundial de petróleo, associado a OPEP – Organização de Países Exportadores de Petróleo – o que muito somou como experiencia internacional -, fazendo o país caribenho de costa a costa, exibindo seu talento em boates, clubes e hotéis rodando as principais cidades do país, cantando em variados estilos em todo território nacional, capital da grande pátria, como sonhava Simon Bolívar. Produziu shows para concursos de misses em estâncias hidrominerais, locais frequentados pela elite daquele país.
Abrimos uma janela para relembrar a estreia dessa banda que foi um dos fatos mais importantes de sua vida e deu-se na sede do Botafogo Esporte Clube, em nossa Avenue des Champs-Elissés celebrada com estardalhaço pela juventude local. O tema de abertura era ‘Milionários’, dos Incríveis, na qual o MC apresentava a banda e seus componentes ao público. Ainda garoto lembro da execução dessa música que tocavam nas sessões do Circo Hollywood – montavam lonas no Campo da Amazônia ao passarem por aqui -, por detrás da EE Ellis Ribeiro no Jauary, afirma o luthier Isaias Antônio. Na sequência retoma a carreira no Novotel, no Distrito Industrial, com carteira assinada por um ano com um repertório variado em italiano, francês e castelhano por exigência da clientela internacional; passando pelo Bar Pinguim, na Praça do Congresso e pelo Luso Sporting, em sessões para imigrantes lusos; Bar Xalaco, na Praça Dom Pedro (Alvorada), frequentado por universitários, intelectuais e políticos; finalizando a temporada no restaurante do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, nos anos 90. Inaugurou o Cube Nostalgia, na Cachoeirinha.
Foi homenageado no programa Carrossel da Saudade e pelo FECANI – Festival da Canção de Itacoatiara, em 2014. Gravou o LP Amor Latino, este com a participação especial do saxofonista Teixeira de Manaus e 4 CD´s, ou seja: Doce mel, minha alegria; Vamos nos amar; Lembranças e Saudades e Eternamente Boêmios, além de compartilhar dezenas de lives. Este ano (2021), entra em estúdio para gravar o 5º CD de sua carreira musical com composições autorais. O legado musical já está garantido por suas filhas Ariadna Fernandes, Newma Fernandes e Adrienne Fernandes que atuam como coralistas de igreja; Ary Nelson Fernandes tecladista, produtor musical e empresário no Estúdio AF Produções; Ary Júnior é instrumentista e cantor e Alain Fernandes, tecladista e guitarrista que dão continuidade a profissão do genitor. Ary Ferreira Fernandes, 72, é um nobre itacoatiarense, filho de Edgard Almeida Fernandes e de dona Izaíra Pereira Fernandes.
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