Nossa terra tem tido, ao longo dos anos, alguns arqueólogos da história que muitas vezes nos surpreendem com revelações ora curiosas ora bombásticas e impressionantes sobre nosso passado mais antigo. Um dos primeiros pesquisadores com esse feitio foi Bento Aranha, jornalista combativo, revolucionário e republicano, outro, mais adiante no tempo, foi J. B. Faria e Souza, colecionador contumaz de nossos jornais e que nos permitiu usufruir de bela coleção da qual o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas é o guardião e proprietário, e, mais recentemente, porém de não menor relevância, André de Menezes Jobim, dedicado organizador de arquivos, musicólogo e herdeiro do zelo de Crishanto Jobim com as coisas mais antigas e expressivas de nossa terra.
E foi debruçado sobre anotações e artigos desses amazônidas que recolhi muitas informações que tenho utilizado em crônicas, artigos, discursos e livros – sempre citando a fonte, claro – e brindado os leitores com temas particulares de nossa história, como este de agora, em relação ao qual Jobim me permite identificar os companheiros de viagem de Eduardo Gonçalves Ribeiro quando de sua chegada inaugural ao porto de Manaus, nos idos de 1887.
Eram três os militares do Exército brasileiro, formados na Escola do Rio de Janeiro e que acabavam de passar curta temporada a serviço em Belém do Pará os que aportaram em agosto daquele ano chegados na lancha “Hattie Fullerton”, todos com a patente de tenente: Eduardo Ribeiro, conhecido como “Pensador”, Marcos Franco Rabello e Coriolano de Carvalho e Silva.
Teriam vindo por determinação do conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, então Comandante das Armas do Pará, ao que dizem, visando conter movimentos estranhos à ordem da tropa ali sediada. Todos eles se tornariam governador de Estado, sendo que dois logo nos primeiros dias da República: Ribeiro no Amazonas, a princípio em substituição a Ximeno de Villeroy, mas eleito em seguida; Coriolano de Carvalho no Piauí, após brevíssima passagem pela cidade do Rio de Janeiro; e, Marcos Franco Rabello que viria a governar o Ceará em 1912 para consolidar o rompimento do domínio de Antônio Acioly. Nesse ponto divergem os destinos. Ribeiro enfrentou duras resistências e perseguições da classe política amazonense e terminou assassinado em 1900. Coriolano deixou o cargo em 1896 sob aplausos gerais e seguiu na vida militar e Rabello foi deposto em 1914 porque mandou invadir a cidade de Juazeiro, de “padim” padre Cícero Romão Batista, tornando-se, anos seguidos, professor da Escola Militar.
Coriolano voltaria ao Amazonas para servir como Inspetor de Obras do Estado no governo de Constantino Nery (1904-1906), foi eleito Intendente Municipal de Manaus em 1905, tornou-se Inspetor da 1ª. Região Militar, avançou na carreira ultrapassando várias etapas de formação e galgando diversas patentes reformou-se como General de Divisão em 1918, com 44 anos de serviço ativo.
Ribeiro continuou a ser perseguido pelos algozes da política local, mesmo depois de morto, com um grave e profundo processo de tentativa de apagamento da memória e desqualificação de sua honra e dignidade pessoal, o qual se estendeu por vários anos e por diversos meios e formas. E foram muitas as ações neste sentido, mas a grandiosidade de sua herança em favor da cidade e da educação, do urbanismo e da arte em particular foram e tem sido o sustentáculo da preservação de sua história e de seu trabalho na capital amazonense, estando em curso a justa recomposição de sua imagem que, em verdade, sempre esteve incólume em meio à impressão das pessoas de bem e estudiosas da vida político-administrativa amazonense, apesar de abalada no seio de clãs dos partidarismos políticos e das oligarquias desenfreadas que ele enfrentou.
Eis como é valioso redescobrir e revelar o passado.
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