“De forma corajosa, discutindo com outros professores assunto que domina na prática judicial e honrando as vestes talares, Telma Roessing trouxe à luz do mundo comum de todos nós a realidade com a qual se deparou no curso de muitos anos intramuros de varas da justiça (…).
Atendendo a convite, comparecemos; eu e minha Rosa, à Galeria de Arte da sede do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos – aliás, bela galeria enriquecida por peças elaboradas exclusivamente por mulheres, sob a organização de Sergio Cardoso, o vulcão da animação cultural -, e participei do lançamento de importante tese de doutorado levado a efeito na Universidade Federal do Amazonas por meio do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia.
Acolher um novo livro, que é sempre fruto de reflexão, pesquisa e doação de quem dedicou horas muitas na sua elaboração deve merecer, a qualquer tempo, o maior respeito e acatamento, ainda mais quando o tema abordado embora possa ser considerado provocação social, decorre de meditação rigorosa, pesquisa aprofundada, audiência de muitas outras pessoas e enfrenta, com autoridade científica e acadêmica, assunto que gera polêmica, se debate em controvérsias e sobre o qual grande parte da sociedade tem juízo previamente formado, contrário e discriminatório.
Refiro-me ao trabalho da doutora Teima de Verçosa Roessing, juíza amazonense e herdeira de ilustres personalidades das letras, ciências jurídicas e reserva moral da nossa terra, encimadas pelo desembargador Mario Sílvio Cordeiro de Verçosa e pelo respeitável militar e revolucionário Pedro Henriques Cordeiro Júnior que ainda aguardam por biógrafo que desvende as expressivas contribuições que prestaram à evolução do homem em sociedade.
De forma corajosa, discutindo com outros professores assunto que domina na prática judicial e honrando as vestes talares, Teima Roessing trouxe à luz do mundo comum de todos nós a realidade com a qual se deparou no curso demuitos anos intramuros de varas da justiça que é a criminalização e a punição de usuários de drogas ilícitas no sistema de justiça penal de Manaus, e o fez não só sob a ótica do direito, mas valendo-se de bases teóricas consolidadas em outras ciências sociais para melhor compreensão e tradução do “problema”.
O que a autora reclama, de início, é a necessidade de que o “fenômeno do uso de drogas” não mais seja explicado de forma simplista, como se fosse apenas questão de criminalidade ou de saúde, mas. seja observada de forma mais profunda e conforme a realidade social impõe, muitas vezes resultante de problemas existenciais como tristeza, solidão, sentimento de pertencimento, enfim, de motivações as mais diversas.
E foi com este olhar de maior acuidade que ela traçou seu plano de estudos e se embrenhou neste mundo particular, quase sempre sombrio, íntimo, e que penso deve alvoroçar sentimentos de toda a ordem seja de pena, dor, revolta, angústia e impotência, a cada situação que seja apresentada a quem decide como o Estado deve proceder no caso concreto.
Tomei o livro em mãos e, de uma sentada, avancei na leitura horas seguidas, interrompidas somente porque o tema impôs à autora estudo denso que exige reflexão do leitor para sua melhor compreensão e porque, sem dúvida, os depoimentos originais trazidos à luz do dia revestidos pela compreensão de fato e de direito com visão sócio-econômica-política, reclamam interrupções e meditação.
O mundo que se abre todos os dias diante de nossos olhos não acostumados a perceber essas “misérias”, essas “verdades”, essas “dores” e tantasrazões; o nosso mundo comum impõe que, para melhor aproveitar a obra tenhamos que retirarvendas romperpreconceitos, abrir o coração e a mente, mas, sobretudo, enfrentar a nossa ignorância diante de realidade concreta que cresce eparece se consolidar ao nosso redor.
Metódica, disciplinada, bem formada no campo do direito e da psicologia, experimentada no cotidiano daaplicação do direito e do fazer justiça, estudiosae sempre recolhida? uma simplicidade sem par, Teima de Verçosa Roessing entregou obra de real e singular valor e de profundo valor humanista.
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