Manaus, 22 de novembro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

Parte 3

TRIBUTOS A…

TRIBUTO AO ITAQUATEATRO**

É hora de arte e a arena está nua,
Constrói-se o tosco palco tão versátil,
Linguagem do povo em arte volátil.
As sacas de cimento e tintas frescas
Vão forrando os pequeninos quadros,
Traços vivos que não precisam de arabescos.

Armam-se as vozes, gozam-se os dramas,
As ribaltas são luzes da vida, e são gramas.
Cresce o humilde templo e a arfada cena,
Questionar a realidade vale a pena…
Veste-se a palavra em personagens,
Suores?…lutas? Sim, também, leituras e imagens.

As Barcas desdobram seus ensejos
“Que queres? Diz o Arraes angelical…”.
“Dom Patão ficou irado, magistral,”
Quati papa ovos, sonhos e os desejos,
Brinquedo? Só atrás da porta que é segredo…
Eis a nossa breve homenagem
Na trilha das pessoas que vingaram Personagens…

Ligam-se as luzes! Pouco aparato?
Levanta o pano, gente!… Hora de arte
Hora do ITAQUATEATRO!

** Itaquateatro foi um dos grandes grupos de teatro de Itacoatiara e teve seu apogeu nos anos 90 com PGlória, Bosco, Natan, Barreto, Angela…

CAMINHANTES

Tributo a meus pais

Num dia de abril, a manhã estava fresca e rubra,
O vento chamava os ingás verdes,
Ao colo de Dona Bajica,
Nos braços de “seo” Domingos,
Seu Graci veio ao mundo,
Nas margens da terra vermelha.

Outro rebento ecoou no fim de dezembro,
Era assim um outro membro,
Nasceu dona Palmira,
De Vovó Maria Palmeira,
Mulher de fibra, das castanheiras.
Palmira e Graciano casaram, saíram do Araça
E na terra vermelha, então, vieram morar.

Graciano, no comércio perto do Milicio,
Os esforços se dobravam,
A bordo de seu motor “Progresso”
Havia, é claro, excessos,
Tira a água…tira a água,
Vai na boca do panema,
Freta o barco…segue o rio,
É piracema, é piracema!

Dona Palmira, mãe regrada,
Que ante toda circunstância,
Velou-se nos batentes matinais,
Fazia “milagres” com pães,
Espelho de mãe dedicada.

Seu Graci, na garapeira,
Ela, nos sucos da lida,
Seguiam os dois labutando,
P’ra reservar suas vidas…
A vida foi sempre assim,
Não só de alegria, mas de muita, muita mágoa
Mas na vontade de seguir os trilhos
Venceu a prioridade:
A educação dos filhos.

Já no campo do Brasil, Graciano criou o time 61,
Depois foi o São Luís, nos campeonatos,
Equipe da família e de amigos…era um “timão”.
Porém, era o Penarol… seu time do coração.

Foi na esquina do campo,
Que carregou fardos consigo…
Mas “seo” Graci foi gente boa
Conseguiu muitos amigos,
Sem ódio, sem dano e sem ira,
Junto com Dona Palmira,
Ajudou a muita gente,
Pois sendo sempre homem justo,
Mostrou que com humildade,
Mesmo pobre, mas com os estudos
Afugenta-se toda maldade.

Infelizmente no mesmo abril,
No mesmo dia em que veio ao mundo,
“Seo” Graciano…partiu,
Para gozar a vida, em sono profundo,
Que aqui foi tanto discutida…e tanto,
E se foi… na paz com os anjos e com o espírito santo.
Descanse em paz, que aqui velamos teus cantos.

“Seo” Graci, nosso bônus pater, cumpriste tua missão,
Tua caminhada, que somos todos nós,
Não foi certamente em vão.

Meu pai, Graciano, já na eternidade,
e Dona Palmira, presente conosco!
Nenhuma dramatização,
Nenhuma encenação,
Representará uma vida com altos e baixos,
Mas com muitos amigos e filhos,
Muitos bons cachos.

Cada dor sofrida
Cada solidão passada,
Cada frio sentido,
Cada triste momento,
Haverão de se transformar sempre,
Aos seus filhos e netos,
Em vitórias e estudos por completo.

AMIGA DA ARTE

(Tributo à Terezinha Peixoto)
Recitado na missa de corpo presente.

A arte silenciou na rua,
Dos pincéis caíram nódoas, pois sim,
A cultura está nua.
Todas as metáforas estão em luto,
As pedras pintadas e riscadas
Tentam traduzir-te o teu esmero…
E o contador de histórias
Por mais que seja absoluto
Não, não conseguirá narrá-la.
Foi no Canto do Olímpio,
Traduziste inúmeras histórias,
Quadros…poemas… livros,
Doces…cestos e bordados
Foram companheiros e vitórias.

Oh! Amiga, ainda te escuto
Com aquela fala cordial e referente
Sempre orientando as pesquisas
Que enchiam de graça as crianças
Razões do coração e da gente…
Professora amante e amiga da cidade,
Tua agradável saudação
Ficarás na afetiva e eterna canção.

…É hora de arte, mas aqui não estás,
Ascendeste para um outro universo!
Ah! como ficará branco o meu verso.

Adeus professora Terezinha,
Eis minha triste saudação poética,
Abrira-se um grande vão na falta tua,
Hoje, a História está um pouco crua.
Nossa veia artística te reconheceu…
Que sua imagem de simplicidade,
Das Leituras, carinho e dedicação.
Seja exemplo para nossas crianças,
Luz e Amor…noutra Dimensão

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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