O que fazer com um Parlamento tão indecoroso, que afronta os mais comezinhos princípios do bom senso? Fôssemos um regime Parlamentarista, seria dissolvido, uma nova eleição seria convocada e marcada para recompor a casa, ajustá-la à vontade do povo, dentro dos ditames da lei e a favor da ética parlamentar e do bem da Nação. Não pode! Nosso regime de governo é Presidencialista. E no mais, esse parlamento é a expressão da vontade do povo! Foi o povo que quis e agora o aguente! Por lá transitam figuras estranhas e insanas: uns com chapéu na cabeça; outros com bíblias na mão; vários armados de pistolas e ódio ameaçando apertar o gatilho; outros com tiaras ou perucas na cabeça fazendo troça; outros, ainda, embrulhados em bandeiras do Brasil ou de outros países; um bando de adultos com esparadrapos na boca para não pronunciar os palavrões chulos da nossa língua. Não sei se são assim na vida real e fora do Congresso ou, apenas, “representam” em uma peça bufa. Certo é que, pelo andar da carruagem, não mudaremos o comportamento e as convicções ideológicas de aproximadamente um terço de Deputados e Senadores. Eles detém uma grande fração de poder. E assim, para cumprir o seu destino e o nosso, saem de seus apartamentos funcionais, mantidos pelo povo, com o fito de fazer arruaças no Congresso, desonrar o mandato, distratar colegas e autoridades que convidam ou convocam para prestar esclarecimentos ou contas de seus atos no exercício da função pública. É um levante todos os dias contra a lei, os bons costumes e a sanidade dos que discordam dessas condutas. Por pressão ou pusilanimidade, vários colegas cedem votos e formam maiorias e aprovam as mais estapafúrdias “leis” que terminarão no colo do Supremo Tribunal Federal, já ameaçado em suas prerrogativas de dizer a última palavra, nesses casos. Ou o que é mais grave: criar problemas de governabilidade que resultam em prejuízo para todos os cidadãos. Uns dizem que esse é mesmo o jogo nos Parlamentos. Concordando ou não, tudo isso é verdade vista a olho nu, com declarações contundentes e cenas explícitas de traição, de pugilismo grotesco no plenário e nas Comissões Parlamentares. No entanto, não é um privilégio só nosso. Tem método, e não é somente o que parece ser! A desfaçatez é universal, a nossa nos pertence em consequências. O Parlamentarismo não tem sido a solução para resolver tais problemas; o federalismo, no nosso caso, se espedaça no egoísmo e na prepotência dos maiores negando respeito aos menores estados e facilitando a criação de um centro poderoso e uma periferia onde se concentra a subalternidade. Anomia social? Pode até ser! Parece, também, ser coisa muito pior, que não conseguimos detectar com clareza. Mas, é disso é que precisamos tratar.
O boicote às políticas públicas contra as desigualdades arraigadas à nossa formação social sempre foram o meio mais usual das elites perpetuarem o status quo. E isso se fez sempre à luz do dia, naturalizando as relações de trabalho desiguais e as chamadas relações sociais de convivência, todas estigmatizadas na figura “dos que mandam” e “dos que obedecem”, formando a hierarquia das subalternidades. A ostentação dos ricos nem sempre foi problema, tanto é que até esquecemos de cobrar-lhes as origens da riqueza ostentada e muitos preferem até justificar isso contentando-se com o epíteto de que o “mundo sempre foi dos mais espertos”. A ideia de fazer uso do poder, do prestígio dos cargos ocupados em benefício próprio ou do bando que representa, nem sempre causou asco e há os que esperam a sua vez para repetir os feitos de antecessores com maior esmero. Impedir a livre concorrência sempre foi um artifício pouco contestado entre os privilegiados, é assim “que a roda gira”. E o “jeitinho brasileiro” virou marca identitária entre sujeitos de conduta errática, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas para acomodar o nepotismo e a corrupção.
Suspendendo a beirada do lençol, tenho visões pavorosas: a “clava forte” da tal “Teoria do Destino Manifesto”; a “Teologia do Domínio” e do “Fascismo Católico” ressurgentes; o submundo das milícias e do tráfico, associados aos rentistas, herdeiros do tráfico negreiro, hoje, na Faria Lima, capturando os partidos políticos do Estado Laico Brasileiro. Não sendo miragem, os que primam pela decência precisam se manifestar. O resto é oportunismo e sem-vergonhice mesmo!
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