Manaus, 19 de junho de 2025

Negritude valorosa e feminista

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*Pedro Lucas Lindoso

Em alusão aos festejos e comemorações do dia da Consciência Negra desejo homenagear duas mulheres negras que conheci menino, nos anos sessenta aqui em Manaus.  Mulheres que tinham a total estima e admiração de nossa família. Pessoas as quais fui levado a demonstrar respeitoso carinho e incondicional afeto.

Falo de Josephina de Mello, destacada enfermeira Ana Nery e de dona Wanda, famosa tacacazeira da Vila Municipal.

Josephina era filha de funcionário brasileiro da Manaus Harbour e de uma enfermeira obstétrica nascida em Barbados. Estudou no Colégio Estadual do Amazonas diplomando-se Professora Normalista pelo Instituto de Educação do Amazonas. Samaritana Socorrista pela Cruz Vermelha Brasileira de Manaus, durante a II Guerra. No ano de 1944, ingressou na Escola de Enfermagem de São Paulo. Posição social e educação bilíngue conferiam à Josephina posição de relevo entre as alunas Ana Nery.

Destacou-se durante sua formação profissional no Hospital das Clínicas. Assistiu a aulas na Faculdade de Medicina da USP. Participou do Primeiro Congresso Nacional de Enfermagem. Formada, Josephina foi contratada pelo Serviço Especial de Saúde Pública. Recebeu incentivos financeiros para estudar como bolsista na Universidade de Minnesota, Estados Unidos, curso que concluiu em 1951.

Exerceu função de enfermeira distrital em Santarém-PA. Trabalhou, no Acre e Rondônia. De volta a Manaus conquistou o cargo honorífico de Provedora da Santa Casa de Misericórdia de Manaus assumindo como pioneira em uma função destinada normalmente aos homens.

Em 1958 foi designada para o cargo de Vice-Diretora da Escola de Enfermagem de Manaus. A primeira Diretora foi Iraildes Alves. Ambas construíram a melhor Escola de Enfermagem do Brasil, dirigida por muitos anos por Josephina.

Recebeu várias comendas, destacando-se a de Ana Nery, de Enfermeira do ano, etc. Em 1978 recebeu a Medalha Mérito Oswaldo Cruz, conferida pelo Presidente da República.

E dona Wanda? Em sua simplicidade e bondade comandou a melhor banca de tacacá da Vila Municipal, hoje Adrianópolis. Tinha uma escoliose grave, que nunca a esmoreceu ou impediu de trabalhar e ser esteio da sua família. Venceu preconceitos com seu sorriso irradiante.

A essas duas mulheres negras altivas e de excepcional caráter, já falecidas, minhas homenagens.  Elas foram as melhores em seus afazeres. As mais perfeitas representantes de uma negritude valorosa e feminista.

* Escritor amazonense, nascido em Manaus. Filho de José Lindoso e Amine Daou Lindoso. Ex-advogado do extinto Banco Nacional de Crédito Cooperativo – BNCC. Em 1990 foi nomeado diretor de Assuntos da Cidadania do Ministério da Justiça. Ex-procurador geral da Embratur-Instituto Brasileiro de Turismo.Ex-assessor jurídico da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Professor da disciplina Introdução ao Estudo do Direito. Membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.

N.R: Doutora Josephina de Mello – extraordinária mulher amazonense! Francisco Gomes da Silva teve o prazer de trabalhar com ela, assessorando-a na Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Manaus. Além de haver paraninfado o nosso historiador, quando de sua diplomação pela Faculdade de Direito, em 1972, Josephina de Mello foi madrinha de batismo de seu filho mais velho – atualmente o doutor Fábio de Oliveira Gomes. Honra e glória à nossa heroína. Saudades, muitas saudades daqueles belos tempos…

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