Manaus, 3 de dezembro de 2023

A santa padroeira

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“Os festejos da padroeira mobilizam os católicos e estimulam esse breve registro histórico, enquanto preparo livro com estudo completo, em memória dos que edificaram a fé tendo a Catedral como referência desse arrojo.

Em meio ao rescaldo das recentes e acirradas eleições, em pleno campeonato mundial de futebol no qual a seleção brasileira voltando para casa, festejamos o dia consagrado a santa padroeira do Amazonas: Nossa Senhora da Conceição que poderia ser Nossa Senhora de Manaus, como escreveu o poeta Max Carpentier.

Curioso relembrar que Manaus, desde há muito sede do poder da região do rio Negro, orginalmente, teve São José como padroeira, tal vez porque o forte aqui construído tenha iniciado ou concluído no dia consagrado ao es poso de Maria, tanto que foi denominado Forte de São José da Barra do Rio Negro, fixando-se no ano de 1669.

Aqui e ali essa questão vem à tona entre estudiosos da história e fiéis, sem que se tenha resposta precisa por falta de documentos primários que permitam assegurar as razões da origem e da mudança do padroado. Mas temos merecido e sido beneficiados, grandemente, pelos serviços sociais, educacionais e religiosos da Igreja Católica Romana.

Atribui-se aos carmelitas, presentes desde 1695, a mudança para Nossa Senhora da Conceção e a edificação da primeira ermida, nos fundos da antiga Câmara Municipal, Escola Solon de Lucena e Grupo Marechal Hermes. Pequena, modesta e descrita por viajantes, a ermida foi derrubada em 1781, quando em ruinas, e, reedificada com 90 palmos de comprimento, 45 de largara e 25 de altura, foi devorada pelo fogo em 1850.

O atual templo, construído palmo a palmo, com muito trabalho, desde 1858, inclusive por escravos libertos, com recursos dos cofres da Provincia, de loterias entre a população e de doações, foi ampliada em várias oportunidades e recebeu a benção em 14 de agosto de 1877, depois de 27 anos em casa emprestada. Anos a fio sofreu obras de conservação até a primeira grande e completa restauração realizada a partir de agosto de 2001, incluindo altares, imagens, pinturas decorativas, adornos, mobiliário, e, na qualidade de Catedral, acolhe os fiéis para celebrações diárias e festas católicas.

Na ocasião da restauração – que tive a honra de dirigir como secretário de Estado de Cultura ao lado de dom Luiz Soares Vieira, então nosso Arcebispo-foram revelados diversos “segredos” contidos no prédio e acervos, a forma de sua construção, os alicerces originais do tempos do Império parte dos quais se encontram á vista na antiga sacristia, a imagem original de Nossa Senhora devidamente restaurada com o maior zelo e qualidade por profissionais amazonenses e baianos, ex-votos, cápsula do tempo com mensagem de pedreiro-mestre depositada em um dos fechamentos de portas nas proximidades do altar principal, e nos rendeu o embrião do Museu Sacro que inclui peças utilizadas por Sua Santidade o Papa João Paulo II quando de sua visita a nossa capital.

Trata-se de preciosa imagem de 72 cm de altura por 25,5 de largura e 18,5 de profundidade, de autor ainda não identificado, que utilizou técnica mista de madeira dourada e policromada, fibras vetais, tecido enrolado, pintado e dourado. De procedência italiana, conforme as suas características e feita à semelhança de outra peça referente a Nossa Senhora do Monte Cirino, também restaurada no mesmo Studio Argolo, Antiguidades e Restaurações, de Salvador da Bahia. E tida como peça do século XVII, mas a datação não está comprovada.

Os festejos da padroeira mobilizam os católicos e estimulam esse breve registro histórico, enquanto preparo livro com estudo completo, em memória das que edificaram a fé tendo a Catedral como referência desse arrojo. E o farei em homenagem a Mário Ypiranga Monteiro que se dedicou a esse mister e pela experiência que adquiri na empreitada de restauração. Que seja possível oferecer este legado a minha terra, com as bençãos da nossa padroeira.

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