“E muito comum hoje se falar no conceito de desenvolvimento sustentável, até mesmo a linguagem da publicidade utiliza o termo para vender seus produtos …
…Esvaziado de seu significado mais profundo, o termo rapidamente se transformou num jargão que parece tudo explicar. Para os formuladores do conceito, a questão da sustentabilidade é crucial para a sobrevivência da Amazônia, já que o caminho que o processo de ocupação econômica está seguindo, nada restará da selva como hoje a conhecemos. No caso da Amazônia, que é um ecosistema muito volátil, embora guarde em seu meio a maior diversidade de espécies vivas que o planeta já teve, o avanço das frentes destrutivas tem configurado uma catástrofe, queimando e passando a motosserra em espécimes que jamais chegaremos a conhecer. O planeia terra tem cerca de quatro e meio bilhões de anos e pode seguir por mais cinco bilhões de anos. Os planetas do sistema solar são estéreis, somente nossa Terra criou organismos e fez evoluir vida inteligente.
Mas nas próximas décadas do século 21, veremos desaparecer milhares, talvez milhões de espécies. A maioria das vidas que se extinguirão está na Amazônia, que também será destruída tanto como selva quanto como ecossistema. Mesmo que não se aceite visões pessimistas e apocalípticas, é preciso compreender que em pouco mais de uma geração este quadro se cumprirá. O fim da Amazônia arruinará o solo, mudará o clima em escala global e resultara na extinção mais radical de espécies que a que ocorreu no período Cretáceo, sessenta e quatro milhões de anos atrás. Naquele passado remoto a colisão de um corpo celeste com a Terra, escureceu os céus e matou 50% das espécies existentes. A vida vai resistir e sobreviver à doença capitalista, como sobreviveu ao impacto do asteroide. É neste quadro de iminente catástrofe que se inscreve a teoria do desenvolvimento sustentável. A primeira regra da sustentabilidade, seja no seu aspecto econômico, sociais ou ecológicos, é a que diz que o maio ambiente deve se manter através dos tempos com as mesmas características fundamentais. Este parece ter sido o caso da relação estabelecida pelos povos indígenas com a Amazônia, mantendo o equilíbrio através das práticas de sistemas tradicionais que se desenvolveram em milênios de seleção natural.
Infelizmente não há dados para se julgar o quanto o meio ambiente mudou com a intervenção indígena, mas é possível inferir que o meio ambiente se ajustou sem traumas ao manejo das sociedades tribais. É certo que o meio ambiente tem sua dinâmica própria e se transforma mesmo sem a intervenção humana, mas no caso da Amazônia, nos dias de hoje, há muito poucos lugares que não foram desequilibrados pela pressão das frentes econômicas, transformando uma relação harmônica primordial numa rotina de agressões que comprometem as características fundamentais da região.
O que leva à segunda regra que enuncia uma taxa de uso dos recursos naturais renováveis abaixo de sua taxa de renovação. O problema desta segunda regra é que ela esbarra entre a natural demanda das sociedades humanas e a lógica do sistema capitalista, que nada tem a ver com demanda natural. Vale dizer que no cálculo da produção, fabricação e comercialização dos produtos estivessem computados os valores dos recursos naturais, na mesma proporção dos insumos e do capital variável.
Provavelmente a aplicação desta segunda regra ponha em cheque a terceira, que propõe ao sistema econômico uma rentabilidade razoável e estável através do tempo para que o manejo sustentável continue atrativo para aqueles que nele .se engajam. Não é por nada que alguns dos exemplos de sustentabilidade acontecem em comunidades pré-capitalistas, com pouco ou nenhum contato com as economias das nações abrangentes ou com o mercado internacional.
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