(Adivinhação: o que é que está no meio do começo, no começo do meio e na ponta do fim?)
Ali estava ele. Com cara de quem sempre ali esteve, mas somente agora notado. Repito: notado, apenas. Pois, apesar de notado, ali estava ele enigmático, misterioso, cruel, quase animal.
Não era de exclamação; também não era de interrogação, ainda que pudesse puxar para o lado de um ou do outro. Ponto final não era mesmo! Pois aparecendo no meio do conto querendo aumentar um ponto, tinha mais jeito de ser ponto inicial.
Bem, a conceituação desse novel ponto inicial chega a intrigar, porque se trataria de um ponto inicial, mas partindo do meio e, por isso mesmo, com enorme carga reflexiva, assustadora, como toda ideia de partida que somente é percebida quando já se percorreu metade do percurso.
Ali estava ele, estirado no meio do caminho do prosador, que nem um ponto-pedra drumondiano, um ponto-ponte, um ponto-portal, unindo o pólo real ao pólo paranormal.
Já que ele chegou indefinível, vamos provisoriamente chamá-lo de ponto reinicial (que tal?), imaginando que indica recomeço, retomada, mudança de rota. Lembrando que a imprecisão que sempre está presente em nossos atos pode nos levar a compará-lo a ponto de vista, ponto de equilíbrio, ponto de controle, ponto G, ponto cruz, pontapé, ponto-que-pariu, e todo o sortimento de pontos que conhecemos ou pensamos que conhecemos.
Podemos ainda trabalhar com a ideia de contraponto, contrastando e complementando. Ou ponto reversível, sem receio de sair emendando aqui e ali. Ou ainda ponto do avesso, disposto a exibir os ângulos obscuros do discurso.
E o que dizer de um ponto a ponto, que vai se mostrando aos pedaços, como exibicionista dançarino? Ou ainda um ponto ao ponto, comestível, digerível, antropofágico?
Nada disso e ao mesmo tempo um tanto de tudo isso que até aqui se falou.
Pois, era um ponto com vontade própria, ciente do embaraço que causou a sua súbita aparição. Um pontopreto no branco do papel, bem ali, no meio da escrita, prestes a se fazer carne e habitar entre os humores do atrapalhado escritor. Feito ponto crucial, ponto existencial, reverberando pelo texto, pronto a emergir em qualquer parte do rascunho, espocando na pauta como bolha num caldeirão. Entre intrometido e ávido, que nem ponteio de viola que chega para dar prumo à rústica composição do caipira; ou igual ponta de espinha de peixe espetando a garganta e que precisa ser logo escarrada para não provocar asfixia.
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