Manaus, 19 de junho de 2025

Cidade científica de Humboldt.

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Para seu blog, meu caro historiador que resgata o passado da mais importante cidade do mundo – Principado de Itacoatiara.

Vou retomar o tema interrompido com o aniversario de Manaus, para dizer que, no início dos anos de 1970 , durante a ditadura militar e logo depois de Estocolmo 1972, o então Ministro do Planejamento – João Paulo dos Reis Veloso – diante do binômio ocupação-uso da Amazônia (soberania-economia), solicitou a um de seus auxiliares – Pedro Paulo Lomba – que elaborasse um projeto amazônico que tivesse sólidas bases científicas e tecnológicas. Naquela época os gritos de guerra e as palavras de ordem dos movimentos ambientalistas ainda não tinham chegado ao Brasil, embora no Rio Grande do Sul, José Goldemberg e sua Agapan, já começassem a fazer ecoar as diretrizes daquele Encontro da Terra que modificou o mundo. Em uma viagem de Brasília para Manaus, onde se encontraria com o pessoal do INPA, Pedro Paulo Lomba fez um esboço da Cidade Cientifica de Humboldt (Projeto Aripuanã), localizada no noroeste de Mato Grosso, ao lado da Cachoeira de Dardanelos, sob o comando do CNPq que era ligado ao Ministério do Planejamento.

 

UM RESUMO

Evidentemente não dá para descrever o projeto no espaço deste artigo, porém em linhas gerais a ideia era mostrar que uma cidade no meio da floresta amazônica, podia ser sustentável. As dificuldades eram imensas a começar pelo acesso que tinha que ser feito por aviões búfalos da FAB, já que não havia estradas e pelo rio havia mais de 20 cachoeiras entre a foz do Aripuanã no rio Madeira, e a Cachoeira de Dardanelos. O local escolhido tinha sido a sede de um seringal, com uma pequena pista de pouso, ladeada por uma fileira de casas simples, onde vivam cerca de 150 pessoas. Na pista pequena apenas teco-tecos e os maravilhosos aviões Búfalo conseguiam pousar e decolar e assim a cidade teve que ser construída com material levado de caminhão até Vilhena (RO) e de lá por via aérea para Humboldt. Não participei muito dessa etapa, embora acompanhasse, com entusiasmo, o desenvolvimento do projeto que objetivava demonstrar a possibilidade de viver com conforto, no meio da floresta, em uma cidade dependente apenas dos recursos naturais do entorno, usando ciência e tecnologia.

CONVENIOS.

Os primeiros convênios foram feitos com o INPA, com a Universidade de Mato Grosso, com o Museu Goeldi e com a Faculdade de Agronomia e Veterinária de Jaboticabal de São Paulo. A energia seria fornecida por uma Usina de Bulbo que foi construída artesanalmente em uma pequena empresa – Quinsan – na cidade de São Paulo.

 

AS RESPONSABILIDADES.

Ao INPA, caberia a pesquisa dos ecossistemas, o desenvolvimento de tecnologia de aproveitamento dos produtos naturais e a implantação de projetos florestais. A Universidade de Mato Grosso ficou com a missão de operacionalizar o projeto e desenvolver um projeto de saúde, já que seu reitor Gabriel Novis Neves era um médico jovem e entusiasta. Ao Museu Goeldi estava destinada a face antropológica envolvendo, principalmente, o contato com os índios da Nação Cinta-Larga que habitava a região. A escola paulista ficou encarregada dos roçados e da criação de animais, isto é, prover os alimentos.

O avanço do projeto criava novas e entusiásticas esperanças, pois os indicativos sinalizavam sucesso no atingimento dos objetivos. Uma das providencias essenciais foi aumentar a pista de pouso, e a FAB transportou os tratores, ofereceu a tecnologia e aproveitou o conhecimento do gerente de campo – Pio Veiga Junior- que tinha sido piloto da Paraense Transporte Aéreos. Uma figura importante nesse contexto foi a experiência de um misterioso húngaro – Tibor – que vivia (escondido) naquele fim de mundo depois de ter sido membro do exército de seu país na Segunda Guerra.

Alguns jovens profissionais brasileiros foram contratados entre os quais o Marcio Zanutto, (hoje no Goeldi), o Carlos Roberto Bueno que é pesquisador do INPA e Coordenador de Extensão, e responsável pelo Bosque da Ciência desde minha gestão. Outra importante incorporação do projeto Aripuanã, foi a do José Marcio Ayres que muitos anos idealizou e criou o Projeto Mamirauá espelhado no Projeto Humboldt. Tenho absoluta certeza que nenhum governante atual tem qualquer informação sobre esse projeto pioneiro cuja semente ajudei a cultivar como coordenador da fase de transferência do CNPq para o Estado de Mato Grosso, onde foi ferido de morte pela usura do latifúndio devastador da floresta amazônica. Sei e vivi muitas histórias dessa odisseia e talvez resolva contar algumas aqui.

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Uma resposta

  1. Me lembro que a “cidade” contava com apoio financeiro de vários ministérios.
    Houve matérias em JB que apontaram para o fato de que a idéia do Lomba era de aproveitar o projeto para fins politico militares, como treinamento de guerrilha.
    Se tudo o que disse acima é “fake” eu considerei como verdadeiro.

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