Manaus, 22 de novembro de 2024

Comunicação e a indústria cultural

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Sobre a percepção dos bairros populares de Manaus em relação à comunicação de massas e à indústria cultural, imaginemos uma família de um bairro da periferia, de rendimento não superior a três salários mínimos, recém chegada do interior e acostumada a divertir-se se em comunidade, tendo o rádio apenas como veículo noticioso e de grande credibilidade, reunida em torno de um aparelho de TV. O programa é uma “novela”, como Babilônia, da Rede Globo. Será este público capaz de decodificar a informação? Em que nível se dará esta decodificação? Babilônia já desenvolve sua intriga num meio totalmente diverso daquele público: intrigas melodramáticas nos substratos superiores da sociedade de classes sulista. É certo que esse público também atravessa um processo de desintegração familiar, mas a extrapolação do problema é impossível para ele. Nem mesmo a língua em que a “novela” é falada ele consegue compreender totalmente, pelo menos vinte por cento das palavras, o resto são completamente novas e sem significado. O que resta são as borras da redundância, os tiques de linguagem, a moda que lhes é acessível e certos padrões morais que se ajustam ao seu próprio processo de desintegração. Essas aquisições aberrantes plasmam se com a própria empatia do vídeo e as pessoas transferem para a TV a antiga credibilidade do rádio. Uma “novela” de TV não é um simples divertimento, ela tem, assim, uma realidade de peso bem maior que aquele conferido às antigas ficções.

Ainda sobre a credibilidade da imagem da TV, ela tem uma especificidade quase de documento, como é possível ver até nos anúncios locais. Sendo a maioria dos anunciantes GO ramo do varejo, e já que os veículos oferecem preços baixos, as campanhas publicitárias são curiosamente anacrônicas. O uso da imagem da própria loja ou dos produtos de forma crua tendo um áudio rebarbativo é recorrente. Os produtores são reunidos frente à câmera fotográfica, como numa delegacia de polícia se apresentam os contrabandos apreendidos. Não é a imagem abstrata ou o apelo subjacente do produto que interessa, é o produto em si, com sua presença e sua massa, é o plano geral do salão de vendas da loja, a fachada congestionada de apelos. Na imagem de baixa definição da TV, esses anúncios são fantasmagóricos. A locução primária acompanha com um chamado grosseiro, voz sem tratamento, uniforme, como se o consumidor respondesse ao apelo como um verme responde aos estímulos do calor. Tanto o anunciante quanto o consumidor, acreditam nessa terra aterra da publicidade medíocre. Um anúncio muito repetido na TV’, produzido para uma fábrica de massas alimentícias, é bem característico, O apelo não se encontra no prestígio da marca, nem no sabor e qualidade da massa alimentícia. Os diapositivos mostram máquinas e operários num ambiente mal iluminado. Louva se o grau de mecanização, vendem se máquinas trabalhando, é o próprio “progresso” que é anunciado.

Em relação ao cinema, forma de diversão da sociedade urbana, o fenômeno se repete dentro das expectativas É uma diversão conhecida desde o princípio do século, mas sempre tratada com a timidez do comércio de banana. A televisão veio destruir a velha forma de exibição insensível, provocando o fechamento dos desgastados “poeiras”. Com a criação de apenas um canal de TV (hoje, Manaus conta centenas de canais a cabo), a crise cíclica que se instala nos métodos de exibição vem à tona. Os exibidores não procuravam investir nas casas exibidoras e nem mudavam a programação.

A exibição transforma se num negócio sem atrativos. O público abandonava o cinema, afastado pela indigência da projeção e do programa. Não havia diferença entre o baixo nível da televisão e os filmes exibidos.

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