Manaus, 16 de setembro de 2024

Crônicas do cotidiano: Coisas das Arábias e nossas quinquilharias

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Não se trata da marchinha de carnaval Allah-la Ô, de Haroldo Lobo/Antônio Nássara e orquestração de Pixinguinha, lançada no Carnaval de 1941, de grande sucesso até hoje, com regravações de vários artistas. Uma grande brincadeira do carnaval brasileiro, mas que pode até servir de fundo musical e crítica social ao discurso político do “Aquecimento Global”, assunto tão sério que reuniu, na sua 28a.Edição, em Dubai, os Chefes de Estado ou seus plenipotenciários tentando propor algum freio aos desmandos que aceleram a ocorrência de fenômenos climáticos adversos que comprometem a vida saudável em nosso planeta. Tudo em meio ao negacionismo globalizado, que nega a ciência, de um modo geral, e renega tudo que a duras penas conseguimos construir como entendimento civilizatório a partir do Século das Luzes. E não poderia ser de outro jeito, visto ser o negacionismo a base ideológica da extrema direita, que ganha corpo mundo afora. Sem esquecer a crise mundial de tão profundas discordâncias, tal como o foi no início do século XX, de mudanças no tabuleiro das hegemonias políticas mundiais.

Uma COP estranha: os anfitriões, os leões da OPEP, prontos para dizer ao mundo que não é bem assim, tem muita coisa pior que o petróleo poluindo o mundo – e não só o petróleo; mas, diante das circunstâncias, aos convidados interessados, aceitam aplicar alguns caraminguás em países dispostos a serem seus sócios, bem distantes, em projetos ecologicamente corretos; como encantadores de serpentes, oferecem um cenário suntuoso aos olhos de certa mídia internacional, sedenta de boas paisagens e palácios decorados em ouro para ostentar a força dos que não aceitaram a ideia de investir, também, na superação das desigualdades sociais, mesmo tendo miseráveis, vítimas de guerras, ao seu redor; e não estão nem aí para o monte de bombas que já mataram e continuam matando milhares de pessoas logo ali, do outro lado da cerca de seu quintal.

E as caravanas vão chegando: dignitários bem-vestidos, acompanhados de assessores desembarcam de carros reluzentes, até àqueles vindos dos países mais pobres do mundo. Ninguém chega montado em camelo! Todos têm denúncia a fazer, propostas “inteligentes” para pôr um fim aos descalabros ou, ainda, dispõem de largos recursos naturais, mas, se não puderem garantir os mínimos vitais para seus povos, serão devastados pelas forças predatórias do capital, que não é parceiro de soluções que não garantam a reprodução do capital investido, pois não existe para ter comiseração com ninguém. Bombas caindo ao lado e “boas intenções” brotando de escombros!

O Brasil tem feito bonito nesses eventos internacionais. O nível técnico, a convicção na ciência e a incorporação destes valores ao discurso político e ao trato com os organismos multilaterais, o torna player na Questão Ambiental, tanto é que sediará a próxima COP, em Belém-PA. O problema é a confiabilidade nos projetos a longo prazo. Uma árvore leva mais de dez anos para tornar-se adulta. Como financiar reflorestamento sem as garantias de que árvores plantadas não serão destruídas no próximo verão ou cortadas, criminosamente, para fazer carvão ou lenha de padaria ou para dar lugar ao pasto, por grileiros que adotam, não raramente, a exploração do trabalho igual ou análogo ao da escravidão? Isso vale para todos os biomas brasileiros, sobretudo, para a Amazônia, a grande vitrine do evento, infelizmente, aqui, envolta em “brumas de fumaça” das queimadas sufocantes, crime à luz do dia e que o Estado brasileiro parece não ver, por inépcia ou por conivência de governantes. Os que pensam, tão somente, em créditos de carbono com a fábula da floresta em pé, são tão estúpidos quanto os antiambientalistas empenhados no retorno ao extrativismo “cata coquinho sofisticado”, que se aproveita das pesquisas feitas nas universidades públicas sobre os biomas para criar produtos sem perspectivas de escala econômica sólida; pois não têm um projeto sério que garanta a dignidade dos milhares de humanos, sujeitos que tem história, cultura construída e participação ativa nas relações de produção autóctones. Coisas que parecem quinquilharias aos olhos dos novos saqueadores, mas nos são caras e importantes!

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