Tenho seguidamente escrito aqui a propósito da Zona Franca de Manaus. Meus sete leitores e muitos desafetos sabem minha posição em relação a este já caduco projeto…
…Inventado pelos tecnocratas da Ditatura Militar. Mas fiquem todos tranquilos que desta vez não pretendo demonizar o que já é um fato consumado. Os projetos megalomaníacos dos tempos da Redentora desabaram sobre a Amazônia e as consequências são sobejamente conhecidas. O que agora desejo ressaltar é um aspecto pouco observado da questão: os resultados do impacto do projeto que aqui foi enfiado goela
abaixo da velha oligarquia desta outrora capital mundial do látex. Uma matéria prima que serviu aos fins mais obscenos. A Zona Franca desde sua implantação em 1968 sofreu várias metamorfoses, o que é natural quando pensamos na dinâmica de uma sociedade errática como a brasileira. O que fez com que cada mudança na estrutura da Zona Franca obedecesse não um processo evolutivo típico das estratégias do capitalismo, mas à lógica dos interesses mesquinhos das oligarquias locais que se consideravam aliadas do regime autoritário, embora os próceres do regime relutassem em entender essa gente como aliados. Muitas vezes tive notícias do desprezo que Brasília cultivava por esses políticos da barelândia. Especialmente durante a gestão do coronel João Walter, que procurava manter distância dos políticos locais. Chamo a atenção deste detalhe quase sempre convenientemente esquecido, porque entre os objetivos dos tecnocratas federais e o curto horizonte dos nativos se abriu um abismo, gerando consequências desastrosas. Quando os tecnocratas pensaram na Zona Franca para desenvolver a Amazônia Ocidental, preocuparam-se com os resultados econômicos e passaram por cima de quem estivesse no caminho. Escolheram Manaus por já ter um projeto tramitando no Congresso Nacional elaborado pelo poeta modernista e deputado Pereira da Silva, que instalava na cidade um porto não alfandegado. Em 19.68, o ano que nunca terminou, esta medida desabou de forma sinistra em nosso meio. A cidade tinha ‘300 mil habitantes. Em 1970 pulou para 600 mil. Nenhuma luz vermelha acendeu. A nossa oligarquia udenista estava embevecida com os produtos da Booth- Line e nem se deu conta da tarefa que tinham pela frente. Não teve capacidade de compreender que era hora de criar uma estratégia de proteção e preservação de nossa cidade. A Zona Franca se tornou um sucesso para os empresários, mas os políticos locais, despreparados historicamente, deixaram a Zona Franca fazer de Manaus o favelão no qual vivemos hoje. E os estudos provam que cidades que passam por este processo se guirão se favelizando ao infinito. Por isto é triste constatar que Manaus tem futuro, mas não tem mais um porvir.
Views: 23