Manaus, 19 de junho de 2025

Guardando as saudades

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“Guardei os sapatinhos que punha na janela para esperar o Papai Noel, e com eles as bolas coloridas e a ponteira azul estrelado que compunham a árvore de Natal dos meus tempos de menino bem pequeno”. 

Abri o baú das vidas passadas e nele recolhi, bem acomodadas, todas as saudades que me afligiam de modo muito especial nesses tempos de Natal cristão, em que afloram as lembranças que estavam recolhidas no fundo d’alma, sem jamais terem perdido a cor e a razão, mas que permaneciam quietas, tal qual meninos levados logo depois de um olhar mais duro e incisivo do pai muito amado. Digo que é das vidas passadas porque creio que assim sucede com todos os mortais, e que vamos florando como a natureza, por entre o sol e as tempestades, em busca de nos transformamos no homem de bem sempre desejado.

Guardei os sapatinhos que punha na janela para esperar o Papai Noel, e com eles as bolas coloridas e a ponteira azul estrelada que compunham a árvore de Natal dós meus tempos de menino bem pequeno, as mesmas que um dia foram substituídas pelos galhos secos cobertos de é algodão dos quais dependuravam caixinhas fósforos embrulhadas de presente. Com eles coloquei os carrinhos de madeira, os papagaios de papel, a caixa com o jogo de varetas, o boliche colorido, a cela da bicicleta vermelha de pneu balão que encantou minha primeira juventude, e tudo o mais que havia reunido das festas antigas de fim de ano que sempre foram as mais belas com que sonhei e vivi, sem imaginar como era duro para meus pais realizá-las.

Embrulhei-os, um a um, em papeis coloridos, porque são presentes eternos que nunca deixarão de ser osmeus melhores troféus. Na mesma hora recolhi do baú as esperanças que chegaram carregadas pelas mãos dessas saudades, e abri o coração para recebê-las com toda a pompa e alegria, aquelas que nessa época assumem ares de beleza ainda maior, e elas vieram encantadascom os versos mais antigos que falam de amor e luz, de fé, caridade e felicidade, e pelas modinhas modernas que ainda falamde paz entre as estrelas.

Olhei pela janela da casa e elas estavam lá. Corri para a varanda da sala em busca de ver as estrelas mais de perto e conversar com elas, como se pudessem me confessar os segredos que guardam de tudo aquilo que está por vir, sabedoras que são das conversas mais íntimas que os seres encantados que habitam os mundos celestes costumam travar quando preparam as surpresas com as quais vão brindar os homens no

Ano Novo que vai começar logo depois de passadas as festas do Natal. Mas elas não dizem nada… nem uma palavra sequer. E nem mesmo quando pergunto o que o Papai Noel vai me trazer de presente na noite mais esperada, nem isso elas me dizem, por mais promessa que eu faça.

Terei que me contentar com a certeza de que, no tempo certo, cada uma das esperanças que nutro vai se revelar em verdade diante de mim, mas até lá terei que saber construir os meus castelos de sonhos como se fosse aquele menino carregado de fantasias esperando a chegada do bom velhinho de barbas brancas que sempre atendia meus pedidos, fossem os contados nas minhas cartas solenes ou revelados em segredo aos ouvidos de minha amada mãe. Não me parece difícil conseguir essa proeza, afinal, cabelos recortados de fios de prata, logo eu que já fiz os sonhos de muitos meninos de todas as idades setornarem realidade, que ajudei a dar som, movimento e vida a estórias infantis, que vivi o “Glorioso” como exaltação do belo, logo eu, creio que saberei mais uma vez transformar as esperanças em alegrias e dar de mim ao meu amor, e juntos, encantarmos o futuro para que seja belo como as flores, brilhante como o sol mais puro, e nos leve às alturas nas asas do condor.

Guardei as saudades, mas abri o coração para as esperanças… e sonharei com elas como o menino sonha com o brinquedo novo que vai chegar na noite de Natal, e elas serão meus novos presentes, até que se tornem saudades.

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