Manaus, 18 de junho de 2025

Homenagem a quem?

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A cidade de Manaus é pródiga em homenagens esdrúxulas. Maternidades recebem o nome das mães de políticos e às escolas são outorgados nomes …

… de personalidade cuja biografia, caso os alunos viessem a conhecer, teriam um péssimo exemplo. A cidade de Manaus é pródiga em homenagens esdrúxulas. Maternidades recebem o nome das mães de políticos e às escolas são outorgados nomes de personalidade cuja biografia, caso os alunos viesse a conhecer, teriam um péssimo exemplo. A nominação dos bairros é ainda mais surpreendente. Há o Nova Jerusalém, cuja única ligação com a Cidade Santa é a tradição de violência. Lamentável, no entanto, são os aglomerados que se originaram de invasões, que sem nenhuma ironia foram sacramentados como Alfredo Nascimento 1, Alfredo Nascimento 2 e Alfredo Nascimento 3, ou Amazonino Mendes e até um que provavelmente homenageava Goethe, o Cidade das Luzes, que na escolha do nome perece se reportar ao último desejo do grande poeta que no leito de morte pediu “mais luz, mais luz”. Os nomes dos bairros e de ruas são verdadeiros tesouros da excentricidade baré. Há os logradouros bíblicos, como o monte Horebe, uma ladeira que faria Moisés pensar duas vezes antes de atender o chamado da sarça ardente.

Mas é em matéria de monumento que sofremos mais. Um prefeito deu a louca e “reformou” a praça da Saudade, tascando uma escultura de um troglodita, provavelmente para perpetuar a tradição de barbárie da outrora cidade sorriso. Ou, quem sabe, o troglodita era a sua imagem e semelhança. Na rotatória do Mindu há um enorme cilindro em ereção que deveria ser chamado de monumento ao Viagra. Antigamente ejaculava água. Hoje, nem isso. Na Praça Nossa Senhora de Nazaré, em Adrianópolis, entronizaram uma imagem da Santa protegida por um nicho sobre uma ermida formando um conjunto absolutamente pavoroso. Cada vez que passo por ali me vem à mente que aquilo só pode ser obra de um perigoso ateu. No meio dessa toponímia ensandecida o que menos encontramos são nomes merecedores de homenagens. A estátua do Barão de Sant’Anna Ney, que celebrava a criação da primeira associação de jornalistas do Brasil, evaporou na expansão do tal Porto Privatizado, que invadiu e ocupou áreas municipais. A Rua Frei José dos Inocentes é tudo menos inocente, e a Rua Lobo D’Almada faria o homenageado arrepiar os cabelos. Agora há os esquecimentos, não exatamente fruto de uma afasia momentânea, mas resultado da ignorância que habita nas diversas instâncias do poder. Onde está a grande homenagem ao nosso maior herói, símbolo da resistência, que foi Ajuricaba. Eis uma figura histórica que merecia um monumento em área nobre e com grande visibilidade. A nossa omissão é ainda mais vergonhosa quando ficamos sabendo que no Rio Grande do Sul, na região das Missões, os gaúchos fizeram o que não fizemos fundando a Cidade de Ajuricaba. Outra omissão que revela menosprezo pelas nossas tradições culturais é o pouco caso com o primeiro artista nativo da Amazônia, nascido em Barcelos, então Capitania do Rio Negro, hoje Amazonas, o poeta e dramaturgo Tenreiro Aranha. E quem se lembra de Manoel Freitas Chagas? Ele foi voluntário e serviu no 10 Regimento de Infantaria. Depois de vários atos de bravura foi morto na batalha do Monte D’Aiano, durante a II Guerra Mundial. Foi o único amazonense a tombar lutando contra o Nazismo. Foi promovido Post mortem ao posto de Terceiro Sargento. Não há nenhum monumento, nome de rua ou qualquer referência a este herói amazonense na sua cidade natal. Autismo Baré puro!

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Uma resposta

  1. Ouvir falar no nome do Ed. da Assembleia Legislativa do Amazonas só lembra aos professores a falência do IPASEA, cujo processo caducou para livrar um Lins da ‘justiça’, imposto pelo Amazonino; Ao Corpo de Bombeiros da Zona Leste deram o nome de um tal de Sinézio Campos e, na mesma zona, um viaduto leva o nome do Boto Navegador. Ante a arena do Centro Cultural Povos da Amazônia existia uma estátua de bronze de um caboclo pávulo dentro da canoa. Presidente Figueiredo homenageia a quem, realmente? Que História é essa?

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