“Este artigo reúne algumas pequenas lembranças que tenho da convivência na Academia Amazonense de Letras, as quais me parecem oportunas de serem revividas na oportunidade em que estão sendo preparados os eventos comemorativos do centenário de fundação da entidade, a ocorrer no próximo ano de 2018.
Tendo chegado àquela Casa em 1981- o mais jovem de todos em sua história – após ter recusado carinhosamente o convite que me foi formulado pelo desembargador André Araújo para ingressar no Silogeu em 1973, vi de perto o entusiasmo de alguns daqueles homens-monumento cujo respeito cultivava e cultivo, como Mário Ypiranga, Mendonça de Souza, Genesino Braga, Newton Sabbá Guimarães, Agenor Ferreira Lima, Manoel Lyra, Nonato Pinheiro, William Rodrigues, João Crisóstomo, aos quais foram se reunindo outros do mesmo quilate como Paulo Nery, Octávio Mourão, Aderson Dutra, Jauary Marinho, Josué de Souza, Bernardo Cabral, e tantos outros.
As reuniões de diretoria para cujos encargos logo me carregaram, sempre aos sábados, inicialmente de paletó e gravata deram lugar ao blazer sem gravata, pouco depois do meu ingresso. Eram tertúlias agradáveis. Boas conversas, Aderson Dutra sempre com uma piada na ponta da língua, especialmente causos do interior com seu modo bem barreirinhense de falar; Mário Ypiranga a recontar fatos antigos com clareza e memória privilegiada; Agenor sempre preocupado com as atas e os ofícios; William, contando os tostões para pagar a luz e a zeladora; Mendonça de Souza e suas inovações na presidência; João Crisóstomo, meu velho e querido professor, com sua mansidão, sempre com palavras respeitosas, pausadamente, conciliador; Genesino distanciado das reuniões por mágoa, diziam os antigos, injustiça que teria sofrido; Padre Nonato sempre alvoroçado, cuidando das correções do uso do idioma, a Mar alto e contar conversas com Pericles e Adriano; e assim, cada um de nós la construindo uma parte na história centenária que se vai comemorar.
Nas eleições para acadêmicos, buscava-se sempre a harmonia. Os mais velhos, mesmo residindo fora do Estado, eram ouvidos, cheirados e perguntados com insistência, muitas vezes por carta, outras por ligação telefônica, e o escolhido, via de regra, resultava da conciliação entre os “principais”, Arthur Reis, Violeta Branca, Araújo Uma, Mário Moraes, sempre opinavam. Não havia edital público, era sempre uma lista que concordávamos ou não, e ia a votos. O edital aberto ao público foi aplicado a partir da minha presidência. Antes alguns nomes eram rifados de pronto, pelos líderes maiores. Não, não e não! diziam em algumas situações, e não adiantava avançar. Para outros, afirmavam de estalo: claro, já deveria estar no meio de nós, tal como sucedeu com Max Carphentier, Francisco Gomes e José Braga, por exemplo.
O nó mais complicado era quando surgia um nome feminino, ou de alguém que havia se referido à Academia, com desdém. Violeta ingressara há muitos anos, pelas mãos de Péricles, não residia em Manaus e quase nunca esteve na Academia. Em certo tempo alguns poucos aparecemos com o nome de Rosa Brito. Depois do primeiro impacto, tudo fluiu bem sob a liderança de Mário Ypiranga e Mourão, principalmente e mais adiante o de Carmem Novoa, candidatíssima de Padre Nonato Pinheiro e Oyama Ituassu, e fomos seguindo, lentamente, e hoje temos a honra de seis mulheres igualmente cultas na Academia.
Mas nem tudo foi assim harmonioso. Aqui e ali, resistências a novos candidatos à presidência, ao ânimo de reaproximar antigos acadêmicos que se encontravam em casa, recolhidos. Tudo isso ao mesmo tempo em que vivi a emoção de ver, em traje de gala, Nogueira da Matta na única sessão do meu tempo; ouvir Plinio Coelhona tribuna, saudando José Braga; aplaudir de pé o improviso de Josué de Souza, premido pela idade a proferir um dos mais belos discursos da Casa; assumir a presidência da Casa, no vigor da juventude; acolher Samuel Benchimol, meu mestre e grande pesquisador, mesmo quando a vida física parecia escoar de vez naquela noite; sem esquecer da solene sessão.
Há muitas coisas para contar. Que falem os mais antigos, como o decano Thiago de Mello, Elson Farias, Jorge Tufic, Newton Sabbá, porque daqui do meu canto estou começando a revelar o lembro, o que vi e o que vivi, para registro histórico nesse momento singular do centenário.
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