No aeroporto, a moça do check-in está se entendendo com a passageira:
– Mas parece que já fiz o seu check-in, minha senhora!
– Meu check-in? Não pode ser! Acabei de chegar!
– Está aqui no monitor: Maria, Ramos!
– Sou eu! Nome completo Maria do Perpétuo Socorro Ramos! Olhe na minha identidade pra ver!
– Estou olhando! Aguarde, por um momento!
A passageira aguarda, porém não se contém calada; investe contra a moça:
– A agonia é vocês que fazem. Não colocam direito o nome da gente no bilhete!
– Só um momento, por gentileza, minha senhora!
– Meu nome não é somente Maria Ramos, como está aí!
– Mas, minha senhora, essa é a prática em qualquer parte do mundo… o primeiro nome e o último sobrenome servem pra identificar o passageiro!
– Só que nem tudo que funciona no mundo funciona aqui!
Nisso, ela resolve dar uma trégua à moça do check-in e volta-se pra mim que era o próximo na fila, logo atrás dela:
– O senhor já imaginou quantas marias têm o mesmo sobrenome?! Na minha cidade (e disse o nome da cidade) tem mais maria que farinha, e lá os ramos imperam!. Quase todo mundo por lá já se meteu em ramos, sabia?
Percebi, mas fiz de conta que não entendi o duplo sentido que ela imprimiu nessa última frase. Então, ela continuou:
– Se for classificar assim como eles querem… vai dar maria ramos que não acaba mais… e ninguém fica sabendo quem é quem, o senhor concorda?
– Concordo, sim!
– Pra não confundir uma maria com a outra, a gente já desacostumou de falar “maria disso e daquilo”. Já vai direto pro segundo nome: do-carmo, de-lurdes, das-dores. Fica até mais bonito chamar a pessoa pelo agrado, o senhor não acha?
– Acho!
– Um apelidozinho também resolve. Não é assim no interior?
– É verdade! É assim mesmo!
– Olha aí a coincidência: a primeira-dama e a cunhã poranga começam por maria e terminam em ramos. E eu não duvido que fora bem uma dessas duas que passou na minha frente e deixou a confusão pra mim. São elas que só vivem pegando avião… pra cima e pra baixo! Parece que não têm o que fazer!
Eu ia interrompê-la, para lhe perguntar “de que se ocupava… que maria ramos era ela, que também pegava avião?”. Mas ela me cortou o pensamento:
– Eu? Coitada de mim! Quem me dera! Como não sou nem primeira-dama e nem cunhã poranga, só pego avião por imensa necessidade. Não passo de costureira, ou seja, duma maria ramos, a costureira.
Nisso volta-se para a moça do check-in, apanha o bilhete de embarque, e se despede para pegar o vôo rumo à cidade onde imperam os ramos – viva, santa e… de tesoura afiada, como manda o seu ofício.
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