Essa fase da vida política amazonense e demonstra as inúmeras crises políticas, sociais, econômicas e partidárias que permearam o governo.
Uma das oligarquias mais referidas nos estudos de História do Amazonas, faz algum tempo, tem sido a liderada pelo jurista e magistrado César do Rego Monteiro, piauiense que fez carreira na política, no campo do direito e na magistratura em Manaus, mas que se notabilizou pelo exercício oligárquico do governo do Estado no período de 1921 a 1924.
A escolha do seu nome para suceder o baiano Pedro Bacellar na chefia do governo estadual foi bastante tumultuada, e, desde a posse, realiza da debaixo de bala e com resistência de um expressivo grupo de políticos de oposição, do nerismo, inclusive, tudo prenunciava um governo tumultuado em meio à enorme crise financeira provocada pela constante queda do preço da borracha no mercado internacional, a falta de alternativa econômica para a região e o esbanjamento dos governos que o antecederam.
Muito bem caracterizada pelo empreguismo familiar em cargos de mando e com exercício complementar do poder político como os de prefeito da capital, chefe de polícia, secretário de governo e presidente do Poder Legislativo, postos que estiveram entregues aos filhos e ao genro de Rego, o governo reguista impôs um enorme descalabro na administração e nas finanças públicas que, diga-se a verdade, vinham combalidas desde os fins de 1913 se considerados os elevados níveis de 1890-1900.
Em trabalho muito bem elaborado a respeito do assunto, a professora Eloina dos Santos, da Universidade Federal do Amazonas e antiga mestra do Instituto de Educação do Amazonas, estuda, com precisão e clareza, essa fase da vida política amazonense e demonstra as inúmeras crises políticas, sociais, econômicas e partidárias que permearam o governo e terminaram por conduzir a um clima propício à revolução dos tenentes de 1924, com deposição do governador e seu grupo.
Inúmeras cenas podem ser descritas e casos podem ser recontados para que o leitor tenha uma ideia do que sucedeu naquela época, seja em relação aos achaques a que os funcionários, aposentados e pensionistas estaduais eram obrigados a se submeter para recebimento de parte dos seus salários, com ágios cada vez maiores, seja em relação aos desmandos internos na Administração, contratação de obras, propostas de empréstimos externos em momento em que o Estado não tinha condições de arcar com tais responsabilidades, assim como em relação à crise moral que se alastrou envolvendo familiares, amigos, políticos e serviçais do Palácio Rio Negro e dos poderosos de plantão.
Um episódio, entretanto, bastaria para bem caracterizar a repulsa do povo, ou boa parte dele, em relação ao governo, assim como o desprezo deste em relação à população. Nesse sentido pode-se referir a reação do governador em mandar a cavalaria expulsar os populares que, da rua, assistiam a entrada de convidados para um baile sofisticado e à rigor no Palácio; ou o “quebra-quebra” e “bota-fora” que sucedeu à deposição do governo em julho de 1924 com a invasão de casas dos políticos vinculados ao regime decaído e destruição dos imóveis, incêndio em oficinas de jornais, revistas, livros e móveis, tudo isso levado a efeito por grupos de populares ensandecidos que culminaram por impor a fuga dos correligionários de Rego.
Como se não bastasse tudo isso para demonstrar o fim da oligarquia Rego Monteiro, um fato excede a todo e qualquer parâmetro de revolta admissível diante da queda política e da assunção dos militares ao governo estadual: o assassinato de Calambange, considerado o principal capanga do coronelato daquele grupo político, e que, depois de ter praticado “muitas e boas” foi amarrado, ensacado com pedras pesadas e levado para a baia do Buiaçu, na qual foi jogado quem sabe para encontrar-se com a cobra grande que ali faria seu “habitat”. E para que não restasse dúvida de sua morte, a lancha que fez o “servico” permaneceu no local por mais de um dia para confirmar o feito.
Foi o fim trágico de um governo.
Views: 119