Manaus, 20 de junho de 2025

A cátedra vazia

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*Dom Sérgio Eduardo Castriani

Quem vai a Itacoatiara não pode deixar de notar a belíssima igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Se já era bonita e imponente, ficou muito mais bela depois da reforma feita por dom Carilo Gritti, bispo e arquiteto, morto há pouco mais de um ano. Homem de personalidade forte e de uma fidelidade a toda prova, conseguiu exprimir arquitetonicamente essas duas virtudes quando conservou a antiga igreja e ao mesmo tempo fez uma nova. É essa a sensação que se tem ao entrar no majestoso templo. É a mesma igreja, mas é também uma outra. Coisa de artista.

Um dos elementos que atraem no edifício é o destaque dado à cátedra. Quem entra logo percebe que está numa catedral, lugar da cadeira onde se senta o bispo, que desse ponto exerce a missão de ensinar, governar e santificar. Em algumas ocasiões, na Igreja Catedral, o bispo se reúne com os presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas e todo o povo de Deus. Aí está presente o Corpo de Cristo, obra do Espírito Santo, para a glória do Pai. A quinta-feira santa é um desses dias, em que a igreja se reúne para a missa do Crisma. Ordenações também são ocasiões de tais encontros.

De um ano para cá, celebrei três vezes na catedral de Itacoatiara, a missa das exéquias de dom Carillo, a sua missa de sétimo dia e a missa do Crisma deste ano. A cátedra estava vazia. Depois que ele adoeceu e veio a falecer ninguém mais sentou-se na importante cadeira do lado esquerdo do altar.

A vida da igreja não parou. Mas sem um bispo que a presidisse. Cada vez que me encontrava com pessoas de lá era perguntado sobre quando receberiam um novo pastor. E esse pastor foi esperado na fé em Deus que ouve, vê e atende os clamores de seu povo. Já passaram por ali três, e cada um a seu modo amou aquela igreja particular. Homens de fé inquebrantável e de convicções definidas, que deram tudo de si ao rebanho a eles confiado.

Hoje a cátedra será ocupada por um novo bispo com a posse de dom José Ionilton. Há 15 atrás ele foi ordenado bispo na Bahia, sua terra natal, e assim entrou na sucessão apostólica tornando-se apto para a missão. Missão que ele aceitou como chamado de Deus através da igreja, que tem seu jeito de escolher os bispos. Mas uma coisa é certa, ninguém se faz bispo por si mesmo, é sempre um chamado e um envio. Mas é também acolhida. Impressionante como logo após ser anunciado o bispo já é amado pelo povo. Sabem que este homem limitado, com defeitos e pecados, os ama e por isto está nessa posição. Pobre do bispo que não amar o seu povo. As honras e as alegrias da festa passarão rapidamente e a realidade dura da vida se imporá.

Se houve amor o jugo será suave e o fardo leve. O bispo não está sozinho na sua tarefa de conduzir o rebanho. Seus primeiros colaboradores são os presbíteros, e os outros bispos com os quais forma um colégio. Quanto maior for a comunhão dentro desse corpo apostólico, maior será a chance de uma evangelização eficaz e de um pastoreio profícuo.

Louvado seja Deus que nos concede a bênção de um novo bispo. Temos um novo pastor em Itacoatiara, dom José Ionilton!

*Arcebispo Metroplitano de Manaus. Artigo no jornal Amazonas Em Tempo, Seção Opinião, de 30/07/2017.

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