“Sem dúvida eram dois gigantes da palavra para aqueles anos de tantos oradores festejados e bem acolhidos pelo público.”
Desfeitas as dúvidas porque confirmados os fatos, temos que a Sociedade Amazonense de Homens de Letras, depois denominada de Academia Amazonense de Letras, foi idealizada por Benjamin Lima, Péricles Moraes, Odilon Lima e José Chevalier. Não resta hipótese diversa porque a revista da Sociedade assim declara em seu número inaugural, e o faz expressamente, além de esclarecer, a não deixar margem para questionamento, que ela foi inaugurada no dia 7 de janeiro de 1918, tendo como primeiro Conselho Diretor um grupo de cinco imortais: Adriano Jorge, Pericles Moraes, Benjamin Lima, Aurélio Pinheiro e Paulo Eleuthério, com previsão de ser renovado de dois em dois anos.
A conferência inaugural foi da lavra de Péricles Mello Moraes, versando sobre “O tolstoismo e a verdadeira concepção de beleza”, e deve ter sido objeto de enlevo para quantos lotaram a sessão; e a segunda conferência, levada a efeito em 4 de julho, posta sob a elegância de José Francisco de Araújo Filho, com tema bastante sugestivo sobre “A poesia do direito”. Sem dúvida eram dois gigantes da palavra para aqueles anos de tantos oradores festejados e bem acolhidos pelo público.
Naquela época, ao que deduzo, parece que o tempo andava mais lento, tal como decorre pensar do título do livro de poemas de Raymundo Monteiro, e todos davam-se mais aos deleites do espírito, em suas conferências enfocavam temas audaciosos e, de certa forma, bem extravagantes para o entendimento de agora, mas que, ao serem lidas nos dias de agora, em sua maioria, têm real sentido literário. Da palavra de Pericles vale anotar o que disse a imprensa de então: “o orador foi imaginoso e fecundo, fazendo a longa e torturada psicologia artística de Tolstoi, o incomparável solitário de Yosnaia Poliana, misto de demagogo e de artista … o filósofo mais singular do seu tempo.”
Tudo caminhava com entusiasmo entre os trinta fundadores da Sociedade de Letras, animados pela nova realização depois de várias tentativas de ser fincada uma entidade literária e de artes, afinal conseguida. Pouco depois o primeiro corte entre os sonhadores: a morte de Heliodoro Balbi, vagando a cadeira de Tito Lívio de Castro, que há começara a haurir o brilho do grande tribuno.
Morto no Acre, a notícia do seu desaparecimento chegou a Manaus causando grande impacto. A revista da Sociedade, denominada. “Revista do Norte”, lançada em dezembro de 1918 quando deveria ter circulado dois meses antes não o fazendo em razão das febres e consequências da “influenza” que se abatia sobre a capital amazonense, trazia a nota trágica da perda irreparável: “tremenda, dilacerante, acabrunhadora, irremediável” a notícia, chegada de última hora na edição da Revista, “deixando-nos estarrecidos de comoção.” O fato é que ele fora, como, tantos outros, “ferido por um golpe traiçoeiro da influenza maldita”.
A Revista, ornada por artigos e poemas de Álvaro Maia, José Chevalier, Raymundo Monteiro, Pericles Moraes, Odilon Lima, Huascar de Figueiredo, Jonas da Silva, Benjamin Lima, Genésio Cavalcanti, Coriolano Durand, Araújo Lima e Nunes Pereira, fechava a edição com essa nota trágica.
E lá estava, na mesma página e pouco acima dessa nota triste, o notável poema titulado “Durante a febre”, com o qual Balbi roga vá aos deuses ser lançado ao mar, “com a ilusão imortal de um combate de sóis”.
Foi o primeiro golpe que se traduz ainda agora em encantamento imortal todas as vezes que ele se sucede entre os reconhecidos pela Academia, desde a antiguidade como herança francesa.
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