Manaus, 19 de junho de 2025

O menino do Boulevard

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Há muitos meninos carregando esperanças nessa cidade que tanto amamos. Sempre houve, aliás, porque é nesses tempos que de maneira muito fértil afloram os desejos mais ardentes de um futuro de sucesso e realizações. Eu mesmo – quero declarar – vivi minhas inquietações juvenis e experimentei sonhar e realizar sonhos incríveis. Um desses meninos-homens, em especial – hoje carregando muitas luas e lembranças -, dentre os que tenho o privilégio de conhecer e admirar, este me encanta sobremaneira, e dia desses se pôs a falar do seu antigo reduto de experimentações para a vida: o Boulevard Amazonas.

Falou do “Boulevard de cima” e do “Boulevard de baixo”, bem delimitados pelas linhas de bondes dos Bilhares e de Flores; referiu as brincadeiras de rua, de bicicleta do irmão velho que todos costumavam usar ou ser levados na garupa; do vendedor de caldo-de-cana. Há de ter lembrado, dentre as recordações mais íntimas, dos tempos de passar fogueira, fazer adivinhações, “cair no poço” e escolher quem e como iria ser retirado, se com beijo, abraço ou aperto de mão…

Contou-me que por ali nascera em casa de madeira, tipo sobrado, e aprendera a ver a paisagem quase silenciosa e bucólica que não mais encontra. Poucas casas, vizinhos conhecidos e fraternalmente conviventes como seu Gaudioso, dona Clotilde e sua filha Fátima, seu Gouveia, Antonico das Águas, Neci Paulina, Análio, Lírio, Lirkes, velho Serra, seu Alípio e seu Olímpio, Duca Brito, dona Zuzu… e tantos outros, acostumados a ver passar o boi-bumbá “Mina de Ouro”, todo faceiro, com Catirina e Pai Francisco bem animados e o amo tirando toadas e desafios à luz de lamparina. Era brincadeira de São João, mas o menino assistia embevecido.

A formação inicial foi no Grupo Escolar “Antônio Bittencourt” pelas mãos da mãe e mestra, o mesmo estabelecimento que, pelo turno da manhã, se transformava em Grupo “Plácido Serrano”, salas pequenas, mas férteis de alegria e disciplina. Depois o estudo de violino na casa de dona Stela, um dos raros meninos a carregar instrumento musical naqueles anos e a participação na Mocidade Espírita.

Quase no terreiro da escola estava o campo de futebol da “Coreia”, onde se encontra o Hospital Getulio Vargas, no qual seus dotes de bom atleta foram demonstrados em inúmeras partidas, ao fim de tarde, até mesmo naquela na qual a cotovelada do Sicsu deixou marca para sempre, mas não o impediu de vestir as camisas “Luiz Silva Futebol Clube” ao lado de Fernando Péres, Mário China e Kid, e foi destaque no aspirante do Nacional Futebol Clube.

​No Ginásio Amazonense Pedro II se tornou líder do Grêmio, fez política estudantil no Partido “X”, elegeu miss, comandou greve que demitiu o diretor, trancou o portão com cadeado e fez do padre o novo diretor… Tornou-se professor, liderou mudanças radicais no Instituto de Educação, criou escolas, modernizou a Administração pública, formou-se em Direito, mestre e doutor conquistando Medalha de Ouro no doutorado. Se fez juiz, desembargador federal, presidente de Tribunal, publicou livros, plantou árvores, cativou amigos, apaixonado pelos pais e por artes, criou filhos. alcançou a imortalidade acadêmica e presidência de entidades de cultura, letras e história.

​Jamais deixou de ser elegante no vestir, escrever, tratar e falar. Jamais deixou de viver com prazer e alegria. Não esqueceu suas raízes fazendo questão de lembrar do Boulevard de sua infância e primeiros anos de juventude. Hoje, passando dos oitent´anos, se esmera em continuar sonhando e realizando sonhos, cheio de esperanças e confiança no futuro.

Esse menino é José, José Braga, um exemplo e um encanto.

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