*Manoel Domingos
Continuação…
Parte 1 As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida
QUATRO SENSOS E TRÊS “ESSES” MEIO ROMÂNTICOS
Ávido?… isso é semi-demência,
Se essa insensatez se volta ríspida.
E nos meus bordões, se descarta insipida…
Bélico?… quase me anuncio,
Quando as horas do eu-romântico me faz cênico
Numa realidade em soluços semiesquizofrénicos.
Mórbido?…corro disso infinitamente,
Se as alusões do holismo engasgam os passos
E deixam atônitas as amizades e os abraços…
Efêmero? Sim…quase…veladamente,
Quando as insinuações que já me selam ínfimo,
Fazem amar-me em teus sussurros híbridos.
Fujo do ser dissimulado e hesito um cântico,
Me percebo em 3 ângulos sintéticos:
Solitário,
Soliloquio, mas…
Solidariamente poético.
INTRANOITE
(Uma canção aos poetas…)
Noite! Consolido-te no silêncio abafado e híbrido,
E em teu seio mergulho, paulatina das orgias…
Na tua lerda sinfonia, nua e seminua de luar,
Acompanho o intumescido mosquito agonizar,
E outros gafanhotos… Num silêncio de gritos.
E sombra que se borda em fabulosos ritos…
Ave amada turva,
O silêncio é dom Bosco…
Enalteço-te, noite vasta, no vasto ermo
Cortado de súbito no ranger daquela mesa,
No piscar da luz e de uma mera tristeza!
Tantas noites que passaram, e passam ainda,
Mas essa, sem dúvida é uma conotação.
A osga atrai e pega a mariposa… Ladra o cão.
Ó Madrinha escura cheia de graça,
O silêncio é dom Bosco…
Nessa noite, de borboletas e mosquitos,
Somam-se todas as rimas do infinito.
–madrugar bisonho –
Pelas pensadas chamas e pelos relentos.
Essa noite, portanto, não haverá sonho,
Apenas um anestesiado passamento.
Ó Aurora fria e vasta,
O silêncio é dom Bosco.
Para cantar-te… Plena.
SAYONARA
Todo dia, no segredo das pedras riscadas
Velavam-se em brincadeiras exóticas,
Fingindo mergulhos pela bela canção
Furtavam-se nas olhadas acrosticas.
E lá na praça… mãos seladas na súplica,
Eram beijos simétricos, som do bom Legião
No Ponto do sol, João e Jêni notívagos,
Traduziam-se, cismavam sonhos no olhar
Na maresia, na poesia do rio e no cantar…
Hoje, João em si é mera ausência.
Vai fugindo com seu pranto sem calor,
Sentindo as horas marcarem a dor.
Fecha a porta do seu quarto triste.
Só os cartazes que ainda resistem
E testemunham, ledos, o seu chorar.
Ela está longe…Fisgou o céu do Japão
João, com os discos dos Beatles,
Apenas apertava o seu coração
Nem o sol…nem ocaso, nem o ar,
Vão fazer Jêni, para ele voltar.
MOTIVOS
O sanhaço quer um ninho,
E as árvores se prostram para ele.
O peito-roxo quer um canto
E o vento move-lhe um galho
Para um embalo sereno.
O gavião cerca os pintos,
E a galinha fica eriçada…
O gavião vai ao sanhaço,
E este lhe deixa seus filhos.
…O menino quer escola,
E a mãe lhe afaga a costa.
O menino quer uma bola,
E ela olha o horizonte…
No campo, na cidade,
Na mata ou na água
Temos sim, tantos motivos:
De risos e de mágoas.
Dez / 1994
A PRESENÇA DA AUSÊNCIA
No teu olhar expansivo,
Há um suspiro de desejos…
Nos teus meigos olhares
Pintam-se nuances de beijos.
Sinto sobejo encanto, absorto.
Fico cego e quase mudo,
Viro-me assim, contudo,
Não estás aqui, fico morto!
Como sou rude em pensar…
Atiro-me no porto!
Continua na próxima edição…
*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.
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