Manaus, 20 de junho de 2025

Raízes da Amazônia Lendas I

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*Wilma Tereza dos Reis Praia

Introdução

Raízes da Amazônia é uma coletânea de lendas dos povos que habitaram, e de outros que ainda habitam a região amazônica, cujas existências são raízes de uma raça, que subsiste ainda hoje, mesmo mesclada com outras etnias, estrangeiros que se misturaram aos indígenas ao longo das conquistas territoriais, assim formando o mestiço.

A Amazônia é a maior região de florestas tropicais do mundo. Ocupa uma área de 7.800.000 km2, distribuídos entre: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A Amazônia Legal brasileira corresponde a 60% do território nacional, abrangendo oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e a maior parte do Maranhão. A Amazônia brasileira com mais de 11.000 quilômetros faz fronteira com os outros países amazônicos, com exceção do Equador. Possui grande importância para a estabilidade ambiental do planeta. Estão fixadas nela grandes quantidades de carbono. Sua massa vegetal libera grandes toneladas de água anualmente para a atmosfera. “A bacia amazônica possui 1/5 da água doce da Terra” (NORONHA, 2003, p.65).

Possuidora de uma rica fauna e flora, a Amazônia apresenta ampla diversidade de substrato geológico, solos, climas e a maior bacia hidrográfica do mundo. Com toda essa riqueza, não se estranha o fato de que sobre ela sempre hão de pairar olhares de cobiça ou encantamento.

Conhecer a Amazônia é um esforço que se constrói no balanço da própria história da região, bem como das sutis formas como é construído o imaginário popular, ou melhor, das formas de pensar do nativo da região que, com suas crenças e seu folclore tem contribuído para o enriquecimento cultural da região Amazônica e de outras regiões.

Penetrar no imaginário popular é buscar conhecer as lendas, os diversos formatos e os “causos” que as permeiam.

Toma-se, por exemplo, o Eldorado, não aquele Eldorado que muitos ainda procuram na Amazônia, mas o Eldorado das lendas que nos contam seus mistérios, quando falam sobre o encantamento da Iara; do uirapuru, cujo trinado harmonioso emudece os outros pássaros que se calam para ouvi-lo; da bela índia que por amor transformou-se na vitória-régia.

Quem não conhece as lendas amazônicas, poderá conhecê-las agora. Vai saber como se originou a noite; como a vaidade e o orgulho separou o Sol e a Lua; por que o Japiim imita os outros pássaros; que fazer para que Curupira não atrapalhe a caça e a pesca; como nasceu o fruto do guaraná; por que o boto é chamado de “encantado”.

Vai saber, também, quem eram as “mulheres guerreiras” chamadas “Amazonas”; conhecerá um pouco sobre o notável Ajuricaba; qual a origem da mandioca. Aprenderá a respeitar o descanso da natureza não caçando e pescando fora do tempo, sob pena de encontrar o terrível Mapinguari.

A medicina moderna não seria a mesma sem o curare. Planta de onde se extrai uma espécie de veneno usado nas flechas pelos índios da Amazônia, para paralisar a caça ou matar seus inimigos, a tubocurarina, substância ativa do curare, e atualmente seus derivados, fazem parte dos principais anestésicos em uso clínico produzidos pelas empresas farmacêuticas multinacionais.

Qual o mistério da Matinta Perera, a origem do açaí, o segredo da pedra pintada, que deu nome à cidade de Itacoatiara. Essas e outras lendas serão expostas nestas páginas, que cuidadosamente foram aqui colocadas através de pesquisas exaustivas e depoimentos de alguns caboclos contadores de histórias das beiradas do rio.

Não poderia deixar de citar a seringueira, cuja a matéria-prima, o látex, que produz a borracha, foi responsável pela construção de um dos mais belos teatros do mundo, o Teatro Amazonas, no coração da selva, símbolo do apogeu gomífero numa época chamada “Belle Époque”.

Pela importância do conjunto de riquezas que representa, a fauna e a flora da região amazônica, as lendas estão relatadas em partes:

I – Fauna: presentes nas lendas estão o uirapuru, o boto, o japim, o pirarucu, etc.

II – Flora: sobre a flora temos as lendas da vitória-régia, borracha, guaraná, mandioca, etc.,

III – Outras lendas dizem respeito à maneira simples de como o caboclo vê o mundo e explica a origem dos astros, do rio, de alguns animais as quais aprenderam com os ancestrais indígenas. Algumas de suas estórias são um alerta a preservação da natureza, da vida, são histórias do povo da mata, de onde vieram, como surgiram algumas cidades, etc., como a lenda das amazonas, do eldorado, de pedra pintada etc.

Uma vez divididas as lendas, além de facilitar a leitura, pretende suscitar uma reflexão sobre um tão debatido, mas imprescindível assunto: a sobrevivência do planeta através da preservação da natureza, dos ecossistemas naturais da Terra, cuja ação depredatória pode atingir o universo, porque transpassando a camada natural da atmosfera, em ação prejudicial pela poluição e seus efeitos, pela derrubadas das árvores e incêndios na floresta com certeza um mínimo de diferença fará num todo, devastando a vida.

As lendas aqui relatadas são raízes da civilização do povo da Amazônia, raízes que se vão misturando geneticamente, se descaracterizando, deixando saudade da simplicidade de uma vida pura, sem muitas pretensões a não ser a de se viver bem em harmonia com o Todo.

São lembranças, gritos de socorro direcionados à razão e ao coração, para que não se deixe cortar as raízes, pois a cultura indígena é herança recebida dos antepassados que a legara através de lendas, ensinamentos que jamais se deve esquecer.

Fauna

UIRAPURU

O Uirapuru, também chamado corneta ou músico, é um pássaro típico da Amazônia, da família dos trogloditídeos; sua plumagem pardo-avermelhada é muito simples e quem o vê, parece não acreditar que dele sai um canto com tamanha exuberância e tão grande beleza. Meio desajeitado, bico forte, pés grandes e, alguns, trazem nos lados da cabeça, um desenho de cor branca.

Ao cantar na mata virgem, seu canto puro e delicado ressoa como que o de uma flauta doce, como se tivesse sido entoado por uma entidade divina. Os caboclos da mata e os índios dizem que, quando canta o Uirapuru, a floresta silencia. Acreditam, que todos os outros pássaros silenciam para ouvi-lo em reverência ao maestro. Mas o Uirapuru canta para atrair sua fêmea, seu canto tem a duração de mais ou menos 15 minutos.

Encontra-se o Uirapuru em quase toda a Amazônia brasileira e em outros países amazônicos como Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia.

Em sua crença o caboclo afirma que, o uirapuru morto e preparado pelo pajé da tribo traz felicidade e fortuna para quem o possui.

Na teogonia tupi o Uirapuru é um deus que toma a forma de pássaro e anda sempre rodeado de outros pássaros. Segundo a crença popular o Uirapuru nunca repete seu canto, por isso ele é raro e precioso. É o professor de canto de outras aves.

UMA VERSÃO DA LENDA

Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa de um grande cacique, mas não podia aproximar-se dela. Então pediu a Tupã que o transformasse num pássaro.

Tupã fez dele vermelho-telha.

Todas as noites, Uirapuru cantava para sua amada. Mas foi o cacique que notou seu canto. Tão fascinante era o canto, que o cacique perseguiu a ave para prendê-la só para ele. O Uirapuru voou para a floresta. O cacique se perdeu para sempre. O Uirapuru voltou à noite e cantou outra vez para a amada e assim ele canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto.

OUTRA VERSÃO DA LENDA INDÍGENA

Contam ainda os índios do Amazonas que numa tribo, havia um cacique que era amado por duas índias muito bonitas. As duas se esmeravam para agradá-lo, porém o cacique só poderia escolher uma para esposa.

Então, o jovem cacique resolveu que casaria com aquela que apresentasse melhor pontaria. Ambas aceitaram a prova e as duas índias atiraram as flechas, entretanto, Oribici errou no arremesso e a da outra índia acertou o alvo, fato que ocasionou, o casamento entre a índia vencedora da prova e o cacique.

Oribici chorou tanto e tanto, que suas lágrimas formaram um grande lago que transbordou, formando, por sua vez, um córrego. Lembrou-se então de Tupã e, reportando-se a ele, pediu que a transformasse num pássaro porque queria visitar o cacique sem ser reconhecida. Tupã, penalizado ao ver o sofrimento da índia, e, ao mesmo tempo, vendo o seu grande amor pelo cacique, decidiu fazer a sua vontade.

Ao perceber, entretanto, que o cacique amava a sua esposa, Oribici resolveu abandonar aqueles lugares. E voou para bem longe. Como consolo, Tupã deu-lhe um canto melodioso, por isso o Uirapuru canta de saudade e para esquecer as suas mágoas.

Os outros pássaros, quando o escutam, calam-se para ouvir sua canção melodiosa, enquanto a mata toda emudece e ouve o seu canto.

Ainda hoje, há quem acredite que com uma pena ou um pedaço do ninho do Uirapuru, pode-se confeccionar um precioso talismã. E que o rapaz que dele possuir uma pena será irresistível aos encantos das mulheres, assim como terá grande sorte nos negócios.

O ninho trará sorte às mulheres trazendo seus maridos fiéis e apaixonados para sempre.

Diz ainda a lenda que quem ouvir o canto do Uirapuru e, nesse momento, fizer um pedido, este será realizado.

O BOTO

Desenho de uma pessoa

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Ser mitológico que seduz as moças ribeirinhas. Ser encantado que aparece nas primeiras horas da noite e tem o poder de transformar-se em gente.

No Amazonas temos o boto tucuxi, o boto-cor-de-rosa também chamado de boto vermelho.

Conta a lenda que o boto costuma perseguir as mulheres que viajam pelos rios e inúmeros igarapés; às vezes, tenta virar a canoa em que elas se encontram.

O boto é um ser encantado dos rios. Transformando-se num belo rapaz, vestido de branco e portando um chapéu, para esconder o furo no alto da cabeça, por onde respira, se lhe pedirem que tire o chapéu o tal furo aparece e logo ele é desmascarado. O boto percorre as vilas e povoados ribeirinhos, frequenta as festas e seduz as moças, quase sempre as engravidando.

Transformado em homem, o boto anda sempre em cima dos paus derrubados nas beiradas dos rios; tem preferência pelos buritizeiros. Nas festas onde aparece procura dançar com as cunhãs bem jovens e as mais bonitas, com elas sai para um passeio ao luar e elas sempre engravidam, e ele, o Boto, desaparece. Por isso é tomado por pai de todas as crianças que nascem sem pai conhecido.

Os índios dizem que o boto é o deus dos rios e protetor dos peixes e gostam muito de se divertir, por isso não perdem uma festa onde se transformam em homens, para poder sair.

Quando chega a noite, os botos saem da água e vão passear na cidade. Entram nos lugares que acham mais interessantes.

Antes de amanhecer, os botos têm que voltar para a água, pois quando eles se encontram nas festas ou em outros lugares, ao chegar à meia noite, eles se transformam novamente em boto.

Quando uma mulher se achega à beira d’água, e o boto se aproxima dela, vendo que é uma moça bonita, ele sai à noite e vai à sua procura. Nas festas, fingindo-se ser um homem bem-educado, ele a namora e a engravida. É por isso que em muitos lugares ainda hoje, há quem acredite na lenda do boto.

O MISTÉRIO DO BOTO

Conforme a lenda, o Uauiara é o deus dos rios e protetor dos peixes. Aparece em forma de um boto. Logo que vê à beira do rio uma índia jovem e bonita, transforma-se num belo rapaz e procura dela se aproximar.

O Uauira, transformado agora em rapaz, entoa lindas canções. As índias não resistem ao seu canto maravilhoso e acompanham o boto, que as arrasta para o fundo dos rios. Nas noites de luar, eles se reúnem, à margem dos igarapés, para cantar e dançar.

UMA VERSÃO DA LENDA

Um jovem guerreiro apaixonou-se pela esposa de um grande cacique, mas não podia aproximar-se dela. Então pediu a Tupã que o transformasse num pássaro.

Tupã fez dele vermelho-telha.

Todas as noites, Uirapuru cantava para sua amada. Mas foi o cacique que notou seu canto. Tão fascinante era o canto, que o cacique perseguiu a ave para prendê-la só para ele. O Uirapuru voou para a floresta. O cacique se perdeu para sempre. O Uirapuru voltou à noite e cantou outra vez para a amada e assim ele canta sempre, esperando que um dia ela descubra o seu canto e o seu encanto.

OUTRA VERSÃO DA LENDA INDÍGENA

Contam ainda os índios do Amazonas que numa tribo, havia um cacique que era amado por duas índias muito bonitas. As duas se esmeravam para agradá-lo, porém o cacique só poderia escolher uma para esposa.

Então, o jovem cacique resolveu que casaria com aquela que apresentasse melhor pontaria. Ambas aceitaram a prova e as duas índias atiraram as flechas, entretanto, Oribici errou no arremesso e a da outra índia acertou o alvo, fato que ocasionou, o casamento entre a índia vencedora da prova e o cacique.

Oribici chorou tanto e tanto, que suas lágrimas formaram um grande lago que transbordou, formando, por sua vez, um córrego. Lembrou-se então de Tupã e, reportando-se a ele, pediu que a transformasse num pássaro porque queria visitar o cacique sem ser reconhecida. Tupã, penalizado ao ver o sofrimento da índia, e, ao mesmo tempo, vendo o seu grande amor pelo cacique, decidiu fazer a sua vontade.

Ao perceber, entretanto, que o cacique amava a sua esposa, Oribici resolveu abandonar aqueles lugares. E voou para bem longe. Como consolo, Tupã deu-lhe um canto melodioso, por isso o Uirapuru canta de saudade e para esquecer as suas mágoas.

Os outros pássaros, quando o escutam, calam-se para ouvir sua canção melodiosa, enquanto a mata toda emudece e ouve o seu canto.

Ainda hoje, há quem acredite que com uma pena ou um pedaço do ninho do Uirapuru, pode-se confeccionar um precioso talismã. E que o rapaz que dele possuir uma pena será irresistível aos encantos das mulheres, assim como terá grande sorte nos negócios.

O ninho trará sorte às mulheres trazendo seus maridos fiéis e apaixonados para sempre.

Diz ainda a lenda que quem ouvir o canto do Uirapuru e, nesse momento, fizer um pedido, este será realizado.

Continua na próxima edição…

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6 respostas

  1. “Se você é apaixonado pela riqueza cultural e histórica do Brasil, Raízes da Amazônia Lenda é uma leitura imperdível! A obra nos transporta para as profundezas da floresta amazônica, revelando suas histórias, mitos e a força das suas raízes culturais. É uma jornada que conecta o passado ao presente e nos faz refletir sobre a importância de preservar nossa identidade e nosso meio ambiente. Vale muito a pena mergulhar nessa leitura inspiradora!”

  2. “Se você é apaixonado pela riqueza cultural e histórica do Brasil, Raízes da Amazônia Lenda é uma leitura imperdível! A obra nos transporta para as profundezas da floresta amazônica, revelando suas histórias, mitos e a força das suas raízes culturais. É uma jornada que conecta o passado ao presente e nos faz refletir sobre a importância de preservar nossa identidade e nosso meio ambiente. Vale muito a pena mergulhar nessa leitura inspiradora!”

  3. A Amazônia é um lugar de riqueza cultural e mítica, com muitas lendas e histórias fascinantes. Aqui vai uma mensagem inspirada em uma lenda amazônica:

    “Você é como o rio Amazonas, que flui sem parar, sempre mudando e se renovando. Lembre-se de que a vida é um fluxo constante, e que você tem o poder de criar seu próprio caminho.

    Assim como o rio, você pode enfrentar obstáculos e desafios, mas nunca perca a coragem e a determinação. Continue fluindo, continue crescendo, e sempre lembre-se de que você é conectado à natureza e à magia da Amazônia.”

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