
*Wilma Tereza dos Reis Praia
Continuação…
Flora
VITÓRIA-RÉGIA, SÍMBOLO DA AMAZÔNIA
A vitória-régia ou mumuru, também, denominada uapé é uma planta típica da região Amazônica, pertencente à família das Ninfeáceas. Suas folhas verde-escuras bóiam sobre as águas, e são de formato circular, com bordas como de uma bandeja, alcança 2 metros de diâmetro.
Delicadamente perfumada, as flores da vitória-régia podem ser brancas ou rosadas, misturadas ao amarelo. Possuem várias camadas de pétalas e, no meio, um botão circular onde ficam as sementes.
As flores se abrem à noite e chegam a ter 30 centímetros de diâmetro. É cultivada nos jardins botânicos de muitos países, por ser considerada uma planta preciosa. As folhas maiores suportam até quarenta quilos de peso.
Seu nome foi dado em homenagem à rainha Vitória da Inglaterra. Pois um famoso jardineiro conseguiu levá-la para a Inglaterra e fazê-las germinar, com a mesma temperatura da Amazônia.
A planta produziu mais de cem folhas de um metro de diâmetro e com 120 flores. O jardineiro colheu uma flor levando-a à rainha Vitória (1838-1901), que num gesto de gratidão, promoveu-o a baronete, e a flor indígena uapé ganhou o nome de vitória-régia.
A lenda indígena, conta como surgiu a vitória-régia, a flor que existe apenas na Amazônia.
Segundo os índios, as estrelas que estão no céu são as virgens que, presas aos encantos do luar, abandonaram a taba para viverem ao lado do bem-amado.
No tempo em que os velhos eram moços, nasceu uma índia que fazia pulsar de amor o coração dos bravos e todos a queriam por esposa. Maraí, esse era seu nome, mostrava-se indiferente aos jovens; parecia esperar por alguém que não conhecia ainda.
Certa noite muito quente, o luar era tão claro que se enxergava à noite como se fosse dia, perto da lagoa onde habitava uma importante tribo de índios. O velho cacique estava admirando a vitória-régia. As crianças indígenas pediram-lhe que contasse uma história, o cacique então pensou e disse: “vou lhes contar a história da vitória-régia”.
– Faz muito e muitos anos. Vivia em nossa tribo uma índia, muito moça e muito bonita, de nome Maraí a quem haviam contado que a Lua (Jacy), era um guerreiro forte e poderoso. Maraí apaixonou-se por ele e não quis casar-se com nenhum dos moços da tribo. Não fazia outra coisa senão esperar que a Lua surgisse. Aí então punha os olhos no céu e não via mais nada. Só o poderoso guerreiro.
A índia acabou ficando cansada de ver as outras pessoas de sua tribo e muitas vezes ela desandava a correr pela floresta, com os braços erguidos, procurando agarrar a Lua que brilhava tão formosa.
Todos da tribo tinham pena de vê-la dominada por um sonho tão louco. E o tempo foi passando. Ela queria ir para o céu. Queria transformar-se numa estrela tão bonita que fosse admirada pela Lua. Mas a Lua continuava distante, desprezando o desejo da pobre moça.
Quando não havia luar, Maraí permanecia aborrecida em sua maloca sem falar com ninguém. Uma noite em que o luar estava mais bonito do que nunca, transformando em prata a paisagem da floresta, a moça repetiu sua tentativa. Chegando à beira da lagoa, viu a Lua refletida no meio das águas tranquilas e acreditou que ela havia descido do céu para banhar-se ali. Finalmente ia conhecer o famoso e poderoso guerreiro.
Sem hesitar, a moça atirou-se às águas profundas e nadou em direção à imagem da Lua. Quando percebeu que havia sido ilusão, tentou voltar, mas as forças lhe faltaram e morreu afogada.
A Lua, que era como um guerreiro forte e poderoso, uma espécie de deus, viu o que havia acontecido e ficou compadecida. Sentiu remorso por não ter transformado a jovem índia em uma estrela do céu. Agora era tarde.
A moça ia pertencer para sempre às águas profundas da lagoa. Porém já que não era possível transformá-la em uma estrela do céu, como a jovem tanto desejara, podia transformá-la em uma estrela das águas, numa flor que seria a rainha das flores aquáticas.
E assim a formosa índia foi transformada na vitória-régia.
Á noite, essa maravilhosa flor se abre, permitindo que a Lua a ilumine e revele sua impressionante beleza.
Foi assim que nasceu a vitória-régia.
O GUARANÁ
A lenda do guaraná explica como surgiu o guaraná e como se deu o nascimento da nação Saterê-Maué, constituída de índios que habitam entre outros lugares o sudeste do Estado do Amazonas, no município de Maués.
A lenda do guaraná possui várias versões. Entretanto, só foram mencionadas pelos historiadores a partir do século XIX, em decorrência dos efeitos medicinais do fruto do guaraná, que ficaram conhecidos na comunidade científica, como também por meio do folclore apresentado em diversas cidades da Amazônia, mais precisamente em Maués, onde acontece a Festa do Guaraná.
O guaraná é um fruto da Amazônia usado para fazer soda ou refrigerante de sabor doce e agradável. É uma bebida bastante popular na Amazônia.
Os Maué, acreditam que o guaraná é o filho de uma índia que conhecia as plantas medicinais e sabia como preparar os remédios da floresta. É o fruto que lhes traz saúde, curandoos de enfermidades e livrando-os de outras, equilibrando a vida em seu habitat, a floresta virgem. Entre eles existe perfeita integração entre os homens, os animais e as plantas.
A LENDA I
Na aldeia dos índios Maué vivia um casal de índios muito feliz. Os dois davam-se muito bem e toda a tribo gostava deles. Desejavam, porém, ter um filho e foram pedir a deus Tupã que realizasse o seu desejo. Tupã lhes deu um menino muito forte, bonito, bom e inteligente. Era querido por toda a tribo. Com o tempo a criança ficava cada vez mais forte e bonita, era um menino muito vivo e estava sempre fazendo alguma coisa de útil, ajudando a mãe nos afazeres ou ia com seu pai à caça ou à pesca. Não gostava de matar nenhum animal. Quando podia ia visitar os outros índios com os quais sempre aprendia alguma coisa, pois era inteligente e curioso. Seu coração era cheio de bondade e, assim, era admirado por todos. Por isso, Jurupari, o espírito do mal, sentia inveja diante do carinho com que a criança era tratada e começou a ter raiva dela.
Perto da aldeia, várias castanheiras marcavam o início da parte menos explorada da floresta. Os índios mais velhos contavam estórias estranhas de seres que ali habitavam. Há muito a imaginação empolgada do menino incitava-o a explorar a região proibida.
Certo dia, aproveitando a ausência dos seus guardiões, que o julgavam dormindo, deixou a cabana e partiu em direção às árvores. Chegando às castanheiras, subiu na mais alta rapidamente procurando ver algo que haviam criado em sua imaginação. Mas nada viu e, desiludido, desceu da árvore. Jurupari, que há muito o seguia, vendo uma oportunidade para realizar sua maldosa intenção, esperava-o rente ao tronco em forma de uma cascavel.
Os índios esqueceram de ensinar-lhe o que era o perigo, assim o menino viu a cobra, mas ficou indiferente diante de sua presença e a cascavel picou-o. Surpreso o indiozinho procurou correr até a aldeia, mas, vencido pelo veneno, caiu ao solo e ali ficou até morrer.
Na aldeia deram pela falta do curumim e todos saíram à sua procura, logo encontraram o pequeno corpo. Imediatamente compreenderam o que havia acontecido, tomaram-se de desespero e gritaram as suas lamentações. Enquanto toda a tribo chorava, um trovão ribombou e um raio caiu junto ao menino. Diante de um grande clarão a voz de Tupã se fez ouvir:
– Plantem os olhos do menino e reguem a terra, pois deles nascerá uma planta que dará frutos milagrosos.
Assim fizeram os índios e, em poucos dias, uma planta rompeu a terra; mais alguns dias e apareceram os frutos, que eram semelhantes aos olhos do menino. Foi assim que nasceu o guaraná.
LENDA II
Conta a lenda que havia um amor proibido entre Cereçaporanga a bela índia da tribo Saterê-Maué, e um jovem guerreiro Munduruku, tribo inimiga que vivia em guerra com a nação dos Maué.
Jaci, a lua, deusa da beleza, protegia Cereçaporanga, concedendo-lhe vida longa e formosura. Muito amada, e mesmo adorada pela sua tribo, Cereçaporanga apaixonou-se por um índio de uma tribo inimiga com ele fugindo.
Foram muito perseguidos pelos guerreiros, que queriam convencê-la a voltar. Sabendo dessa perseguição, Cereçaporanga propôs ao seu amado um pacto de morte. Ela sabia que se fossem alcançados ele seria trucidado pelos guerreiros de sua tribo. Assim mataram-se junto a uma sapopema.
Ao vê-la morta, quando chegaram, os guerreiros ficaram muito tristes e imploraram à deusa Jaci que não deixasse que o espírito de Cereçaporanga os abandonasse.
Jaci, comovida com o amor dos guerreiros, fez nascer dos olhos da índia morta uma planta cujas sementes, quando amadurecidas, lembram um par de olhos negros.
As sementes trituradas e transformadas em chá dariam aos irmãos de Cereçaporanga uma grande vitalidade, sendo um alimento energizante tornando-os fortes para combaterem em guerras e caçadas. A árvore do guaraná traria a beleza de Cereçaporanga e seu fruto proporcionaria vida longa aos que o ingerissem feito chá.
LENDA III
Segundo a tradição dos índios Saterê-Maué, o guaraná nasceu dos olhos de um curumim, filho de Onhiamuçabé, jovem que morava com os irmãos Okumatô e Ycuamã; possuía estranhos poderes e tomava conta do Noçokem (lugar sagrado). A Onhiamuçabé não era permitido se casar, para não revelar os segredos nem perder a força mágica.
Num de seus passeios pela mata, Onhiamuçabé, fora tocada por um animal e ficou grávida, nascendo-lhe um curumim bonito e forte.
Quando o menino começou a entender as coisas, a mãe contou-lhe que antes de senti-lo no ventre, plantara uma castanheira delicada no Noçokem, recomendando ao menino que não se aproximasse do local, porque os irmãos lhe haviam tomado o sítio, quando a expulsaram de sua companhia por causa da gravidez.
O curumim desejou comer as castanhas, mas o lugar estava sob a vigilância da cutia, da arara e do periquito, que avisaram os seus tios. Quando o menino voltou, no outro dia, os guardas o esperavam para matá-lo.
Pressentindo a morte do filho, a mãe corre em seu encalço, mas já o encontra morto. Arrancou-lhe, então, o olho esquerdo e plantou-o, nasceu o falso guaraná. Em seguida, arrancou o olho direito e plantando-o, nasceu o verdadeiro guaraná.
Então, sentindo seu filho vivo, Onhiamuçabé exclamou: “Tu, meu filho, serás a maior força da natureza, farás o bem a todos os homens, livrarás os homens de umas doenças e curarás de outras”.
Passado algum tempo Onhiamuçabé foi atraída por um ruído que provinha da sepultura do filho. Cada vez que abria a sepultura, saía de dentro um animal.
Assim, nasceram o macaco coatá, o cachorro do mato, o porco queixada etc. E o mundo foi também povoado pelos bichos. Outros ruídos se fizeram ouvir e vinham da sepultura de onde saiu uma criança, que foi o primeiro Maué, origem da tribo. Era o filho de Onhiamuçabé que ressuscitara.
Continua na próxima edição…
*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.
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Uma resposta
Muito bom!