Manaus, 18 de junho de 2025

Raízes da Amazônia Lendas I

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*Wilma Tereza dos Reis Praia

Continuação…

Fauna

A BORRACHA

O ciclo da borracha constituiu uma parte importante da história econômica e social do Brasil, estando relacionado com a extração e comercialização do látex. Este ciclo teve o seu centro na região amazônica, proporcionando grande expansão na colonização, atraindo riqueza e causando transformações culturais e sociais, além de dar grande impulso à cidade de Manaus, até hoje maior centro e capital do Estao do Amazonas. O período de 1890-1910 é conhecido como a “Fase áurea da borracha”. As construções tomam conta da cidade, que ganha o serviço de transporte coletivo de bondes elétricos, telefonia, e água encanada, além de um porto flutuante, que passa a receber navios das mais diversas bandeiras. Nos primeiros anos do século XX, a exploração da borracha leva riqueza para a região, é construído um dos mais belos teatros do mundo, o Teatro Amazonas.

A borracha já era conhecida dos índios antes do descobrimento da América.

Conta a lenda que um guerreiro, chamado Tataitá, aprendeu a fazer fogo friccionando duas pedras, o que aborreceu Tupã, que entendia que só a ele cabia esse privilégio. Para castigar o índio, mandou o tapuia encher com água trazida do rio, um grande vaso que existia no alto de uma montanha, onde costumava armazenar o que caia do céu.

A água só poderia ser transportada num cesto de cipó.

O índio começou a sofrer, pois jamais conseguiria encher o vaso. Iara, revoltada com o sofrimento de Tataitá, resolveu ajudá-lo.

Iara trouxe das profundezas do lago em que habitava uma concha, a qual entregou ao jovem, dizendo-lhe que no centro das matas encontraria uma árvore alta com folhas miúdas e frondosas, a qual deveria golpear e dela recolher o leite que haveria de escorrer do talho. Com o líquido deveria revestir o cesto, impermeabilizando-o.

E assim o índio pôde cumprir o castigo de Tupã.

Estava descoberta a borracha, produto nativo da floresta amazônica, que na década de 1910 foi o maior sustentáculo da ecomomia dos Estados do Amazonas e Acre.

O PRINCÍPIO DA FRUTA

Deus criou a terra, e com ela tudo o que existe, mas para alguns indígenas Deus criou a Terra e, depois, as frutas; é o que se entende quando lemos a lenda que explica a origem da fruta.

A lenda vem do povo da cachoeira do Uarakapuru, à margem direita do Alto Buopé. Bem no centro da Cachoeira do Uarakupuri existe uma pedra grande que segundo os indígenas é o tronco da árvore de onde vieram todas as frutas. Essa árvore é conhecida como tronco do loureiro. (AMORIM, 1987, p. 171)

LENDA NHEÊNGATÚ

Antigamente, no princípio do mundo, os humanos viviam como os animais e como eles comiam caruru, capim, matinhos verdes, ervas rasteiras. Havia roçado, mas os homens plantavam apenas mato e dele extraíam as folhas verdes. Mas era só. Não havia, flores mandioca, mamão, maracujá, nada do que se come hoje em dia, porque nada existia.

O vento, de vez em quando, como que a suscitar coisas boas, espalhava na terra um cheiro agradável de frutas. Aqueles que sentiam o cheiro tinham o desejo de comer. Alguns, ainda dormindo, sentiam o cheiro das frutas e corriam na direção dele, para ver de onde vinha. O vento, parece, brincava levando o cheiro de um lado para outro “enganando a gente”. E os homens ficavam sem saber o que fazer com aquele aroma gostoso, porque, quando chegavam a um certo lugar perfumado, logo o aroma sumia para outro canto.

Os homens como os animais procuravam desesperadamente de onde vinha o cheiro tão gostoso; também gente de muito longe vinha à procura do tal cheiro.

Gente do lugar contaram que havia uma roça nova, mas que o bicho andava comendo.

O dono da roça resolveu vigiá-la.

Um dia, pela manhã bem cedinho, ele viu um guabiru passar para o meio da roça comendo as plantas. Ele correu rapidamente conseguindo pegar o guabiru e sentiu o cheiro bom chegando ao seu nariz.

– Será que tu estás comendo minha roça? eu te mato agora para não me desgraçares.

Mas, ao sentir o cheiro gostoso, olhando as unhas do guabiru branquinhas, aguçou-lhe a curiosidade e ele disse ao animalzinho que se contasse onde estava a árvore que andava comendo, não o mataria. E, ainda, que ele poderia voltar a comer quando quisesse da sua roça.

O guabiru, contam, respondeu:

– Sim! Então vamos até à beirada do rio. Lá encontrarás a fruteira grande onde estão as comidas boas.

E juntos foram até o lugar onde estava a cachoeira do Uarakapuri, no Alto Buopé, e o guabiru, então, disse:

– Vês aquela grande árvore? Nela estão todas as frutas boas que só o acutipuru come.

Mostrou ao dono da roça cascas que se encontravam pelo chão, que comia aproveitando os pedaços nela deixados pelo acutipuru. – Cheira e depois comes, para veres como o acutipuru está comendo nossa comida boa.

O homem correu imediatamente para casa levando um pedaço de mandioca com um pouco de carne, contando a todos a novidade.

Toda gente se juntou para derrubar a grande árvore; precisavam tirar a semente, pois eles temiam que o acutipuru a devorasse toda.

Acontece que a árvore era de Uansquém, e, quando já os machados batiam no tronco para derrubá-la, Uansquém, dono da árvore, pensou consigo mesmo:

– Quem foi o tolo que mostrou esta árvore da fruta? Ainda não está tudo maduro. Deixa estar! Hei de saber quem foi este o mal-ouvido.

E foi para debaixo da árvore, aí encontrou cascas de mandioca, com as marcas dos dentinhos de acutipuru e disse:

– Ah! és tu que não me respeitas! Tu anoiteces em cima da árvore, hás de amanhecer embaixo dela.

Meteu imediatamente a flecha na zarabatana e procurou o acutipuru entre os ramos; como tinha luar logo viu acutipuru e atirou-lhe a flecha caindo o bichinho no chão. Caiu em cima da pedra que logo afundou, onde seu corpo bateu.

– Tu, grande tolo, estragaste as frutas para todos. Deixa estar! Tua espécie e essas gentes hão de ter fome um dia e só então hão de ver que eles próprios se desgraçaram por suas mãos. Dizendo isso, Uansquém desapareceu.

Desde a madrugada muita gente veio para perto da árvore e ali ficaram por algumas luas, até que fizeram cair a árvore.

Assim que caiu, toda a gente foi correndo tirar as frutas:

mandioca, batata, cará, abiu, cucura. Os pássaros vieram e começaram a beliscar o bacaba, o açaí, o muriti, o inajá, e patauá. Os outros animais tiraram uxi, cumaru, o resto que havia. No fim de tudo ainda apareceu o tapir, que só encontrou macucu e somente levou macucu.

Assim foi que o avô do acutipuru conseguiu estragar as frutas todas do pomar.

Se não fosse assim nós teríamos sempre frutas boas, doces e fáceis. Porque todas haviam de amadurecer e, então, Uansquém, que era bom, as faria aparecer e nós não sofreríamos agora, trabalhando e fazendo roça.

Continua na próxima edição…

*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.

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