Manaus, 18 de junho de 2025

Vultos da Medicina Amazonense

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*Aristóteles Comte de Alencar Filho

Os 100 primeiros médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas

Continuação …

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO AMAZONAS

A criação do Conselho Regional de Medicina foi antecedida por protestos realizados por médicos que trabalhavam em Manaus, como poderá ser constatado a seguir.

PROTESTOS CONTRA A CRIAÇÃO DO CONSELHO

DE MEDICINA NO ESTADO DO AMAZONAS

Em Manaus, a notícia da criação do Conselho de Medicina por parte do Presidente Getúlio Vargas não foi bem aceita pela classe médica, que seguia a mesma linha de pensamento de médicos de outros estados brasileiros. O movimento local foi comandado pelo respeitado médico Doutor Adriano Jorge, que estava com 66 anos de idade e contou com a assinatura de 54 médicos de diversas faixas etárias. Os médicos não deixaram bem claro o motivo da insatisfação, provavelmente o corporativismo estivesse influenciando essa iniciativa. Seria a primeira vez que os médicos estariam sendo submetidos a um controle externo.

Na edição do Jornal do Commercio de 20 de outubro de 1945, em Manaus, foi publicada a seguinte notícia.

Protestam os clínicos contra a criação dos Conselhos de Medicina, para todo o país.

Os telegramas daqui enviados ao pres. Vargas e aos srs. Marcondes Filho, Álvaro Dória e Adriano Bondé.

Um grande movimento de protesto, encabeçado pelo Dr. Adriano Jorge, difunde-se no seio da classe médica do Amazonas em torno da recente criação dos Conselhos de Medicina, para todo o país, contra os quais se pronunciaram, até o momento, quase todos os médicos aqui domiciliados.

Ratificando os seus pontos de vista, os médicos amazonenses expediram telegramas ao presidente Getúlio Vargas; titular do Trabalho, Marcondes Filho; professor Álvaro Dória, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Social e do Trabalho e professor Adriano Bondé, presidente da Comissão Permanente dos Congressos Médicos Legais e da Associação Bahiana de Medicina.

Ao presidente Getúlio Vargas foi expedido o seguinte rádio:

Presidente Getúlio Vargas – Palácio do Catete – Rio.

Os médicos do Amazonas solicitam a V. Excia. a imediata revogação do decreto-lei que instituiu os Conselhos de Medicina, organizações sob todos os pontos indesejáveis, condenadas, recentemente, pelos Congressos Médico-Sociais de São Paulo e Bahia, cujas conclusões representam o pensamento da classe médica brasileira. Outrossim, aplaudimos o ato que criou os órgãos de assistência médica nos municípios, providência de grande alcance e que contribuirá para melhoria da situação premente das populações rurais.

Pleiteamos, igualmente, a extinção do salário-mínimo aos médicos, conforme foi decretado por V. Excia. em benefício dos profissionais que trabalham em serviços públicos, em organizações autárquicas bem assim a modificação dos créditos que classificaram as remunerações e índices demográficos, uma vez que não correspondem a realidade do custo de vida, principalmente no Amazonas.

Associando-nos ao justificado clamor dos demais colegas do país esperamos que V. Excia, atenderá nossas justificadas reinvindicações.

Saudações respeitosas.

(ass) Adriano Jorge, João Veiga, João Batista, Jorge Abrahim, Avelino Pereira, Moura Tapajós, Cavour Teles, J. S. Gama e Silva, Danilo de Aguiar Correa, Edson Stanislau, José Gonzalez, Wilson Calmont, A. Luiz Monteiro, Humberto Vasconcelos, Garcia Comes, José Colyer Hosannah da Silva, Ângelo Durso, Oder Poggy, Luiz Montenegro, Waldi de Medeiros, Carlos Melo, Flávio de Castro, Romualdo Seixas, Comt Telles, Franco de Sá, Carlos Andrade, Rayol dos Santos, F. Martins Vidal, Alberto Carreira da Silva, Celso Caldas, Madureira Pinho, José Tavares Iracema, Antônio Correa Lima, Donizzetti Gondim, Antônio Jorge de Almeida, Hyder Correa Lima, Waldemar Palma Lima, Adveldo Ribeiro Vidal, Alípio Paes de Azevedo, W. Menezes Vieiralves, Cunha Costa, J.A. Palhano, Sabbas Teles da Rocha, Vivaldo Palma Lima, Aristides Celso Limaverde, Almir Pedreiras, Menandro Tapajós, L. C. Krichanã da Silva, Benedito Bezerra de Carvalho, Carlos A. da Silva, Joaquim de Paula Gonçalves e Arthur Monteiro.2

Pelo visto os protestos dos médicos brasileiros não surtiram o efeito desejado, pois em 1951, o Conselho Federal Provisório de Medicina foi criado à revelia de todas as manifestações da classe médica.

Foto em preto e branco de grupo de pessoas posando para foto

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Médicos antigos de Manaus, em uma solenidade na Beneficente Portuguesa do Amazonas em 1973. Esquerda para direita: Doutores Franco de Sá, Moura Tapajós, Sabbas Teles, Avelino Pereira, Comendador José Cruz, Doutores Rayol dos Santos e Miguel da Silva, que não havia assinado o manifesto contra a criação do CRM-AM. Fonte: Abrahim Baze. [1]

Doutor Adriano Augusto de Araújo Jorge (*20.08.1879 +03.11.1948), que liderou o movimento contra a criação do CRM-AM. Fonte: Abrahim Baze. [1]

Doutor Adriano Jorge, que faleceu em 3 de novembro de 1948, não presenciou esse fato que foi considerado uma ameaça ao poder do médico. Interessante observar que Doutor Djalma Batista não assinou essa petição, pois já estava envolvido em atividades de pesquisa.[2] A relação que virá a seguir contém vários nomes de médicos que mesmo tendo assinado esse manifesto de repúdio, inscreveram-se no Conselho de Medicina do Amazonas mostrando que com a criação dessa entidade, passou a existir a obrigatoriedade legal de estar inscrito para poder exercer sua atividade profissional.

CRIAÇÃO DO CRM-AM

A legislação relativa aos Conselhos de Medicina se inicia o Decreto-Lei n.º 7.955 de 13/9/45, no governo do Presidente Getúlio Vargas; no entanto sua aplicação só teve início em 1951, quando constituído na forma da lei, o Conselho Federal Provisório de Medicina.[3]

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Amazonas foi fundado em 20 de dezembro de 1958 e seu Presidente Interino foi o Doutor Oswaldo Gesta. A história do CREMAM foi contada ao Jornal da entidade em dezembro de 1993 pelo Doutor Walter Dantas Corrêa de Góes, que ocupou o cargo por sete diretorias consecutivas. Formado em 1936, pela Faculdade de Medicina da Bahia, Doutor Walter iniciou suas atividades em 1937 como médico da Caixa Econômica. Em 1961, veio para o Amazonas, nomeado para o cargo de Delegado Federal de Saúde da 2.a Região, que compreendia o Estado do Amazonas, e os Territórios do Acre, Rondônia, pelo então Presidente Jânio Quadros. Em 17 de maio de 1996, inscreveu-se no CREMAM com o número 130. Nesse me ano, em 1966, iniciou seu primeiro mandato no CREMAM. Ele foi comunicado pelo então Presidente da entidade, Doutor Oswaldo Said, diretor do Sanatório Adriano Jorge, que fora escolhida uma nova diretoria para o Conselho e ele seria o Presidente. O Vice-presidente seria o Doutor Moura Tapajós, Secretários Doutores Clóvis Frota e Carlos Fábio de Araújo, e Tesoureiro o Doutor Juarez Klinger. Mesmo surpreso com a notícia e pela escolha, aceitou o cargo onde permaneceu até o ano 1984. Eram tempos difíceis, pois o valor das anuidades era muito baixo e não cobria as despesas. O CREMAM chegou a funcionar em diversos locais antes de possuir sua sede própria: Hospital Getúlio Vargas, Faculdade de Medicina e Delegacia Federal de Saúde. Em março de 1973, Doutor Walter Góes foi designado para ser o Diretor da Faculdade Medicina da Universidade do Amazonas.[4]

_________________________

2 JORNAL DO COMMERCIO, Manaus, 20 out. 1945, p. 3.

Continua na próxima edição…

*Médico cardiologista formado na Universidade do Amazonas. Doutor em Cardiologia pela Fac. Medicina da UNESP/ Botucatu. Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia. Membro da Academia Amazonense de Medicina e da Academia Amazonense de Letras, da qual é o atual presidente.

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