Manaus, 21 de novembro de 2024

Atlas de sandices manauaras

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Um de meus sete leitores sugeriu um título alternativo para o meu dicionário de subdesenvolvimento.

Como os temas são retirados de nossa triste realidade, para ele o título deveria ser “Atlas de Sandices Manauaras”, ou “Breviário Santa Etelvina de Leseira Baré”. Agradou-me sobremaneira o segundo. Mas o que significa um título frente a tanta agressão à nossa Manaus?

Mas, com tantos estímulos vindos de meus sete leitores, aqui vão mais dois “verbetes” para o rol das mazelas cotidianas deste burgo encravado em cemitério indígena.

Degradação cultural: A cidade de Manaus já foi uma cidade culturalmente sólida, embora marcada pela decadência econômica e pelo abandono político. Sua população carregava uma rica mescla de tradições culturais indígenas, europeias e brasileiras, alicerçada por uma elitista, mas sólida rede educacional. Era uma cidade que usufruía de uma cultura orgânica, coerente, perfeitamente inteligível para a esmagadora maioria da população. Em 1968 o regime militar após cortar ao meio a região amazônica, dividindo-a em Amazônia Oriental e Ocidental, impõe ao Amazonas a Zona Franca de Manaus, área de renúncia fiscal inspirada em soluções coloniais largamente utilizadas na África no século XIX. Do ponto de vista cultural foi um desastre. Entre 1968 e 1970 a cidade Manaus passa de cerca de 350 mil habitantes para 600 mil, para atingir a marca dos dois milhões em 2009. Nenhuma cidade suportaria tamanha explosão demográfica sem sofrer terríveis consequências. Especialmente por se tratar de uma explosão demográfica provocada não pelo aumento exponencial da taxa de natalidade dos nativos, mas pela intensiva migração. O Distrito Industrial, planejado para absorver 50.000 operários com baixos salários, tornou-se um polo de atração para os deserdados dos bolsões de miséria mais próximos.

Esta massa de imigrantes provinha de áreas onde não contavam com educação, sistema de saúde, trabalho ou segurança. Este tipo de massa oriunda do campo carregava um dilaceramento cultural profundo, e por isso, em sua nova terra de eleição, não conseguiram estabelecer vínculos ou compreender a cultura que os recebia, sem que os poderes públicos e a sociedade proporcionassem meios de recepção e integração.

Infelizmente isto não aconteceu.

Levas e mais levas de imigrantes sem qualificação, analfabetos, sem documentos, despidos de identidade, foram espalhados em invasões que se transformaram em favelas. No final do século XX aportavam em Manaus aproximadamente 140 famílias por dia, o que logo se transformou em maioria, soterrando os nativos e colonizando culturalmente a capital amazonense. Isto é subdesenvolvimento!

Incivilidade urbana: Sábado passado, pela manhã, caminhei pela Eduardo Ribeiro, antigamente a nossa Gran Via, a nossa Main Street, ou simplesmente A AVENIDA, para fazer uma compra.

As calçadas estão livres daquelas múmias de plástico imundo que serviam de mostruários aos camelôs. Livres das múmias, mas não de milhares de representantes desse lumpem proletariado que forma a maioria da população da capital, carregando nos braços ou pendurados nos pescoços as mercadorias que ofereciam aos transeuntes, Era uma prova cabal de que o estigma da incivilidade que se colou à nossa cidade cada vez fica mais difícil de ser superado. Ali estava uma de s as manifestações, arte da brutalidade social que gerou a ascensão de crimes violentos por motivos fúteis, a falta de educação, os baixos hábitos de higiene, o desrespeito deliberado aos códigos de postura que regem a ida nas cidades e a escolaridade insuficiente transformaram o convívio em mero exercício de sobreviver. E uma sociedade que apenas sobrevive, é porque mergulhou na barbárie. Isto é subdesenvolvimento!

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