Podem anotar. Não tenho a menor dúvida de que o CBA permanecerá tão inútil quanto hoje na formação da base de pesquisas locais voltadas à exploração da biodiversidade. Quem vai assumir a responsabilidade pelo malogro da instituição? Efetivamente a solução do MDIC não condiz em hipótese alguma aos interesses de aprofundamento dos investimentos em C,T&I tendo em vista viabilizar no médio e longo prazos a exploração racional dos recursos de nossa biodiversidade, especialmente nos campos dos fármacos, cosméticos, dos biotecnológicos, dos serviços ambientais, além do turismo ecológico. Não consigo realizar como os meios governamentais e políticos estão engolindo a esdrúxula solução de manter no INMETRO a administração do Centro.
A situação agrava-se mais ainda tendo em vista que os diretores escalados para geri-lo virão a Manaus apenas trimestralmente. Sem residir aqui não há como se integrar à comunidade empresarial, de ensino e pesquisa. Por essa e outras razões já examinadas a solução que mais diretamente interessa ao Amazonas compreende repassar sua gestão a um consórcio formado por Inpa, Embrapa e Universidade (Ufam e Uea). Sem maiores delongas. Transformar o CBA em agência em nada vai acrescentar ao futuro da ZFM; administrá-lo por teleconferência é puro artificialismo inútil e arbitrário. Senadores, deputados, vereadores, a secretaria estadual de planejamento, ciência e tecnologia e as representações de classe devem posicionar-se de imediato e decisivamente contrário a esse arremedo de solução. Na verdade apenas um ato a mais de manifesto e inequívoco desrespeito à região e ao estado do Amazonas.
Efetivamente, relegar o Centro de Biotecnologia da Amazônia, que congrega mais de 25 laboratórios subutilizados, implantados com recursos próprios da região, sem ao menos dispor do básico CNPJ e modelo de gestão definido, é um renomado absurdo e uma afronta a uma região cujo bioma detém 20% do banco genético do planeta. Viabilizar o uso desses recursos é uma necessidade cuja responsabilidade é impostergável. A implantação de um polo de biotecnologia, bioengenharia, nanotecnologia e de serviços ambientais deve se dar com a conjugação de esforços de pesquisa e desenvolvimento a partir da infraestrutura aqui instalada. O INMETRO tem seu campo de ação, o que o faz muito bem, consolidado na área de metrologia. De Amazônia nada entende. Ao contrário do Inpa, Embrapa e da Universidade, aqui incluindo as diversas unidades amazônicas. Além do mais o CBA já consumiu na sua implantação cerca de R$ 120 milhões provenientes de taxas recolhidas pelo polo industrial de Manaus à Suframa. Esse mesmo setor produtivo não é ouvido na hora da tomada de uma decisão dessa envergadura? O que pode justificar tamanho desrespeito?
O Brasil perdeu o timing de promover sua Revolução Industrial – como o fez o Japão a partir dos anos 1960, em seguida a Coreia do Sul nos anos 70 e 80 e mais recentemente a China. O distanciamento do Brasil em relação à performance dessas nações alarga-se em ritmo irrefreável. Na contramão, a indústria brasileira, de acordo com o IBGE, é de baixo valor agregado: minério de ferro, celulose, perfumaria, sabões, detergentes, vestuários e acessórios, borracha e plásticos, minerais não metálicos, calçados. Produtos de alta tecnologia estão fora da matriz industrial do País.
Por isso, não há dúvidas de que a exploração da biodiversidade, dos recursos naturais de base biotecnológica, da produção de alimentos em larga escala da Amazônia é o novo, o futuro. Desenvolver esta região e, por extensão a ZFM é função direta da exploração sustentável dessas riquezas potenciais. O CBA é parte integrante do elenco de soluções ajustadas às metas assim configuradas. Entregue ao INMETRO, lamentavelmente, não passará de um penduricalho a mais na teia da burocracia oficial. Contudo, ainda há tempo de corrigir o equívoco e evitar o mal maior.