Manaus, 19 de junho de 2025

Quase presidentes

Arenga de gigantes

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“…sem demérito aos que exerceram o encargo presidencial e o fizeram sempre com dedicação e zelo, esses fatos marcantes da história acadêmica constituíram uma lacuna indecifrável para os dias de hoje …”. 

o título desse artigo decorre de uma importante obra do sociólogo e escritor Gilberto Freyre, cuja amizade foi muito honrosa para mim, a qual ele denominou de “Quase prefácio”, ao reunir algumas apresentações de autores que ele andou fazendo mundo afora. Tomei-o por empréstimo, confesso, imitando-o quase que inteiramente, mas creio ser bastante apropriado para o tema.

A verdade é que no curso dos cem anos de existência da Academia Amazonense de Letras, que secompletam em 2018, a entidade atravessou momentos de intensa animação cultural e outros nos quais não teria sido possível manter a mesma dinâmica de realizações, naturalmente, por motivos alheios ao empenho e interesse de presidentes e diretores. Há registros de imprensa, especialmente da lavra de Aristophano Antony, ressaltando algumas dessas fases, afinal, uma instituição desse porte e sem recursos financeiros próprios está sujeita, a cenários nem sempre favoráveis aos desejos e aos sonhos acadêmicos.

Do mesmo modo, na intimidade acadêmica, por motivos que jamais foram revelados, pelo menos que tenham chegado ao meu modesto conhecimento, algumas figuras exponenciais e dedicadas à Casa, mesmo que tenham cultivado o ardente desejo de exercer a curul presidencial, não conseguiram, o que, ao sabor da minha memória, conversas antigas e leituras, reputo que tenha sido injustamente. Por isso o título do artigo.

Foram quase presidentes, por assim dizer, os inolvidáveis Benjamim Franklin de Araújo Lima, João Leda e Genesino Braga, todos grandemente merecedores dessa honraria. Benjamin, ao ser fundada a Academia e como um dos seus idealizadores, teria sido convidado para inaugurar a cadeira presidencial e disso teria pedido dispensa, quem sabe por razões de saúde pessoal, ou por sua transferência para o Rio de Janeiro, o que teria sido efetivado pouco tempo depois. João Leda, vice-presidente, a certa altura assumiu interinamente o cargo e pretendia a eleição para o mandado seguinte, não obteve êxito, dando-se a eleição de Pericles Moraes. Teria sido um equívoco a preterição do dedicado escritor, embora Pericles tivesse todos os méritos para o cargo, inclusive, como um dos três mosqueteiros que cultivaram originalmente a ideia de fundar a Academia, ainda com o nome de Sociedade de Homens de Letras. O terceiro que pode ser considerado nesse mesmo grupo de presidenciáveis preteridos foi Genesino Braga que, em tempos mais recentes, também teria acalentado o justo desejo de presidir a Casa de Adriano Jorge, sem, contudo, ser elevado ao importante cargo, o que o teria deixado desgostoso e pode ter sido responsável por um certo recolhimento que passou a manter em relação à Academia.

Com isso, sem demérito aos que exerceram o encargo presidencial e o fizeram sempre com dedicação e zelo, esses fatos marcantes da história acadêmica constituíram uma lacuna indecifrável para os dias de hoje, e a instituição que deixou de ter a colaboração maioral desses importantes vultos das letras no Amazonas.

Em versão um pouco diferente sucedeu com Paulo Pinto Nery que, depois de deixar o cargo de governador do Estado, quando convidado, aceitou ser candidato à presidência, elaborou carta-programa e, para não ferir interesse especial de um amigo, abandonou a candidatura logo nos primeiros dias de campanha. O mesmo ia sucedendo em relação ao desembargador Oyama Cesar Ituassu da Silva que, tendo integrado uma ala de reação a alguns “catedráticos”, junto com Paulo Jacob, só veio a ser presidente em ação de conciliação que tomei a frente de promover, vindo a realizar excelente administração.

Esses fatos veem à tona como registros históricos no centenário da Academia, descobrindo as intimidades acadêmicas.

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