“O baile em traje à rigor teve início às 21 horas com término pré-marcado para meia noite. Foram três horas “de vivo fulgor (…)”
Espero que o leitor não fique surpreso em saber que nos idos de 1927, quando o regime republicano já estava consolidado em todo o País, a fina sociedade manauense viveu dias de glória com a realização de verdadeiro baile imperial que movimentou damas, cavalheiros, jornalistas curiosos e aqueceu as línguas acostumadas a intrigas e futricas na província, especialmente daqueles que não mereceram o destaque do convite para o ágape.
Estando de passagem pela capital amazonense em honrosa visita, membros da Família Imperial brasileira tomaram a iniciativa de realizar baile especial em agradecimento pela boa acolhida que tiveram quando, dispostos a conhecer mais de perto a região da floresta amazônica e as cercanias da cidade mais distante do Norte, acabaram por propiciar verdadeiro burburinho e disse-me-disse nas rodas sociais da época.
O cronista que teve a oportunidade de descrever a festança não contou conversa e deitou falação sem medida, lançando o fato na primeira página de jornal, com detalhes e requintes que, nos dias.de agora, estimularam recontar o evento.
A recepção que os príncipes de Orleans deram ao melhor grupo da nossa sociedade foi requintada, como não poderia deixar de ser.
Foi realizada no Palacete Mello Rezende, localizado na Praça do Torquato Tapajós a que o povo chama de Praça dos Remédios, em cujo edifício sofisticado e decorado por Domenico De Angelis os príncipes se achavam hospedados.
O baile em traje à rigor teve início às 21 horas com término pré-marcado para meia noite. Foram três horas “de vivo fulgor em que a nossa sociedade teve ocasião de privar com os nossos augustos hóspedes”, como disse o jornalista em linguagem comum daqueles anos.
A organização geral do evento foi dos Mello Rezende, com música a cargo do maestro e professor Mozart Donizetti e orquestra montada para a ocasião.
A parte da dança foi iniciada em par pela princesa Isabel e por Luiz Crehange, cônsul de França, seguidos do príncipe D. Pedro e da princesa Elizabeth.
A festa foi considerada “distinta e seleta”, com serviço de buffet excelente e a presença dos cônsules do Peru, Alemanha, Bélgica, Chile, Argentina, Estados Unidos, Equador, França, Itália, Japão, Inglaterra, Colômbia, México e Paraguai.
Da prata da casa manauense estavam por lá, entre brindes, bailados e na maior elegância, os casais Raul Azevedo, Huascar de Figueiredo, Nunes de Lima, Bretislau de Castro, Luna Alencar, Paulino de Mello, Raul da Matta, Maxinino Corrêa, Araújo Lima e Costa Porto, muitas jovens senhorinhas como Honorina Amora, Natércia Coelho, Nair e Nadir Chaves e Mello, Mercedes Borba, HelmosaFadul desfilando a sua beleza inconfundível, Delfina Loureiro, e mais os senhores Análio Rezende, Arthur Cardoso, Madureira de Pinho, major Floriano Machado, Vivaldo Lima, Lyra Pessoa e Américo Ruivo; dentre outros.
A programação oferecida aos príncipes foi pomposa, dela constando visitas a Fábrica de Cerveja e ao Tarumã que eram verdadeiros cartões postais da cidade, ao porto flutuante, ao Club Inglês, aos Correios, ao Instituto Geográfico Histórico do Amazonas, ao Clube Alemão, passeio fluvial no vapor “Inca”, sessão de cinema no Polytheama e recepção pela Academia Amazonense de Letras, na sede do Ideal Clube.
Fico a imaginar a sofisticação dos trajes, perfumes, charutos, bengalas, chapéus, sedas, cristais, vinhos e champanhes, tudo isso à serviço de uma noite de gala que deve ter se aproximado do último baile na Ilha da Fiscal- aquele da derrocada do império -, só que este foi realizado na silenciosa ‘noite de uma cidade que ainda sonhava em ser Liverpool ou Paris, mesmo encravada na selva selvagem.
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3 respostas
Boa tarde. Onde o autor obteve a informação de que os afrescos do Palacete Mello Rezende foram pintados por Domenico De Angelis? Grato desde já pela resposta
A descrição relata a presença de sua alteza o príncipe Dom Pedro de Orleans e Bragança (1875-1940), bem como de sua esposa Princesa Elizabeth Dobrzensky de Dobrzenicz e de sua filha a princesa Isabel de Orleans e Braganç. A comitiva real fazia visitas a capitais da região norte. Em Manaus chegaram em 23 de maio e permaneceram ate a tarde do dia 30 de maio de 1927, para realizarem deslocamento via fluvial até a cidade de Belém no Estado do Pará.
Dom Pedro de Orleans e Bragança também era também Príncipe do Grão-Pará (1875-1891), Príncipe Imperial do Brasil (1891-1908) e Príncipe de Orleans e Bragança. Era filho da Princesa Isabel e do Conde D”Eu e neto de Dom Pedro II;
Elisabeth Maria Adelheid Dobrzensky de Dobrzenicz (1875-1951) – filha de Jan Vaclav II (1841-1919), conde de Dobrzenicz, e de sua esposa, Elizabeth de Kottulin e Krzischkowitz (1850-1929). Sua titularidade era apenas de cortesia visto que somente os filhos varões herdavam os titulos de condes. Mesmo assim por estas questões e por motivos dinásticos assinadas em 1908 criou-se o título de príncipe de Orléans e Bragança para que os seus descendentes não perdessem os direitos titulares aos tronos visto que por tradição os , cuja legitimidade é contestável. E pela tradição real matrimônios seriam respeitados somente com dinastas de casas monárquicas (ou seja, membros de famílias reais, mesmo de reinos já extintos), jamais casariam apenas com um membro da nobreza, e descartava-se também o casamento com um plebeu. A titularidade de tal principado vigora entre os descendentes de Elisabeth e Pedro de Alcântara, que formam o denominado ramo de Petrópolis.
Elisabeth e Pedro de Alcântara desposaram-se no dia 14 de novembro de 1908, em Yvelines, na França.
Elisabeth Dobrzensky faleceu aos setenta e cinco anos, na Quinta dos Anjinhos, em Sintra, Portugal. Ela já estava viúva de seu marido havia onze anos. Seus restos mortais encontram-se no Mausoléu Imperial, em Petrópolis, Rio de Janeiro.
Bom dia, gostaria de obter mais informações sobre o Américo ruivo, jornalista que esteve presente no baile imperial,ele era tio do meu marido.