“A vida mundana continuava como nos áureos tempos de 1890 a 1910, especialmente na chamada alta sociedade representada, à época, também, pelo Ideal Club que estava instalado na principal avenida da cidade (…)
No ano de 1912 a economia da borracha vinha dando sinais de enfraquecimento, mas a maioria dos amazonenses, empresários, jornalistas, políticos, seringalistas, comerciantes não acreditavam que não houvesse recuperação, afinal os seringais nativos seriam imbatíveis.
A vida mundana continuava como nos áureos tempos de 1890 a 1910, especialmente na chamada alta sociedade representada, à época, também, pelo Ideal Club que estava instalado na principal avenida da cidade, acostumada a grandes e sofisticados saraus, tertúlias, conferências e a animadas festas carnavalescas.
A chegada do Rei Momo naquele ano abalou a capital amazonense.
Quem sabe para evitar transparecer as preocupações com a economia local, o desemprego
que começava a crescer nos seringais, a redução dos investimentos públicos apesar dos empréstimos externos.
No mês de fevereiro, no qual foi festejado o aniversário de Heliodoro Balbi, o grande tribuno, o baile do Ideal foi algo muito especial.
Distribuídos em grupos especiais, os diretores e alguns sócios destacados cumpriram em a missão de organizar o evento na noite do dia 17 de fevereiro, um dos mais importantes acontecimentos sociais de então.
As comissões de recepção, reconhecimento, buffet, e aquela encarregada da orquestra, atuaram com eficiência, afinal, eram bastante experimentados nesse tipo de atividade.
Por lá, Antero de Rezende, João Pamplona, Carlos Figueiredo, José Ignácio de Medeiros, Jayme Ramos, Godofredo Castro, Augusto César Fernandes, Américo Rebello, Luiz Lesko, Gaspar Guimarães, Miguel Cruz Neto, Alexandre Colares, Luciano de Moraes Rego, Bogéa de Sá, Antônio Miranda Corrêa e Emiliana Affonso, cada qual cuidando dos seus encargos e devidamente atentos ao público convidado e aos sócios que, normalmente, engalanavam esses festejos.
A orquestra, composta com esmero embora não fosse propriamente profissional, estava sob a batuta dó maestro Donizetti, preparada para executar um programa que, nos dias de hoje, se apresenta completamente fora de moda e sem a menor condição de ser compreendido como especial para baile carnavalesco, mas que, naqueles anos, representava o que havia de melhor para alegria dos frequentadores do clube.
Valsas, polcas, quadrilhas eram entremeadas para animar os salões daquele que se transformaria em símbolo da elite da borracha, da aristocracia propriamente dita, na sua sede elegante, ricamente decorada que naquela noite, segundo a Imprensa da cidade; “iria encher de graça e espírito das nossas gentis patrícias”.
Como sempre, eram eventos bastante concorridos e representavam a oportunidade para a
exposição de belos vestidos, decotes generosos, fantasias, máscaras, joias sofisticadas, cavanhaques e bigodes bem afiados, e costumes clássicos normalmente escuros.
Os drinques, naturalmente, regados a bebidas francesas e bem escolhidas pelo requinte da
ocasião e o. nível dos frequentadores, alguns dos quais ainda não se davam conta de que, em breve, poderiam cair em bancarrota, afinal, era tempo de carnaval no qual o que impera é a alegria, a descontração e a folia, tudo por conta do Rei,
A sede e seus ricos salões, depois de muitos anos e de muitas festas sofisticadas, foram salvos de vir abaixo por intervenção do governo do Estado por meio da Secretaria de Cultura passando a servir de local de ensaio para grupos de arte e a sediar um teatro que homenageia Gebes Medeiros, tudo isso quando o prédio carecia de investimentos que o clube não mais conseguia fazer.
De todo modo fica-se a pensar nos bailes mais antigos que tomaram o Ideal e venceram
a madrugada entre saracoteios e tilintar de cristais. .
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