Passou quase em silêncio do desconhecimento a data sagrada ao bicentenário da Adesão do Amazonas à Independência do Brasil visto que esse fato histórico transcorreu em 9 de novembro de 1823, na então Barra do Rio Negro, e sucedeu na presença de autoridades da comunidade e da Câmara da Vila de Serpa a qual o lugarejo rio-negrense estava subordinado por não haver sido elevado à vila ou cidade.
O que esperavam os barrenses de então, depois manauenses, era que com a adesão e juramento à Constituição do Império do Brasil fosse concedida autonomia política e governo próprio, e, em razão disso, cuidaram de eleger Junta de Governo Independente rompendo os laços de subordinação que nos ligavam ao Grão-Pará, tal como vinha desde a Carta Régia de 1755 que criou a Capitania de São José do Rio Negro.
Não foi o que aconteceu, pois o governo de Belém rechaçou essa iniciativa do Rio Negro, impôs a continuidade da subordinação política, econômica e social que lhe era favorável em razão de produtos da floresta e indígenas aprisionados e escravizados, e chegou a enviar comissário militar para combater os pequenos grupos locais interessados em liberdade.
O evento da adesão foi retumbante para a vida local, como retumbante foram as comemorações do centenário, em 1923, quando o brilhante orador, professor e poeta Álvaro Botelho Maia proferiu o famoso discurso do glebarismo em solenidade realizada no Teatro Amazonas sob a liderança do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, mensagem que ressoou e ressoa como verdadeiro hino de amazoneidade e brasilidade glebária.
Em 1973, quando do sesquicentenário da incorporação do território amazonense ao Brasil independente de Portugal, os festejos foram grandemente significativos, em praça pública e no mesmo local e horário em que havia sido procedida a reunião de 1823 – o pedaço restante do Largo da Trincheira que, à época, se resumia a pequena praça de chão batido com duas palmeiras imperiais e não mais a imensidão de terras abertas para o rio. Foi neste recanto que o governador do Estado, comandantes militares, líderes da maçonaria e das igrejas, professores, estudantes e parcela da população se reuniu pelas onze horas da manhã para as solenidades oficiais de cujo ato participei ao lado de Matheus da Silva, André Araújo, Mário Jorge Couto Lopes, Rodolpho Valle e Junot Frederico integrando comissão do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas instituição que, naquela noite, realizou sessão solene e designou sócios para palestras em emissoras de rádio da capital e em escolas públicas.
Guardo em arquivo cópia de fotos da ocasião e uma via do discurso ali proferido pelo governador João Walter de Andrade que tem as impressões literárias e digitais de mestre Genesino Braga que o assessorava em Palácio Rio Negro.
Por agora, no bicentenário, somente o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, em esforço hercúleo do presidente José dos Santos Pereira Braga, registra o acontecimento e prepara publicação que conterá o juramento à Constituição do Império proferido em 1823, o discurso de Álvaro Maia em 1923, o discurso do senador José Lindoso no Senado da República em 1973 conclamando a sociedade aos festejos e estudo acadêmico sobre a adesão tardia à Independência que foi apresentado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 2022.
É assim que o IGHA, criado em 1917 para ser o fiel guardião da História do Amazonas e a Casa da Memória, cumpre seu papel.
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