Manaus, 18 de junho de 2025

Mano Jorge

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*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro

Biografia de Dom Jorge Marskell

continuação …

CAPÍTULO 3

CONVITE E RESPOSTA

Enquanto em 1960 os seminaristas Jorge Eduardo e Douglas se preparavam para serem ordenados presbíteros, o Arcebispo de Manaus, Dom João de Souza Lima, diante da imensidão da Arquidiocese de Manaus e dos poucos padres para trabalhar na região, solicitou à Pontifícia Comissão para a América Latina, em Roma, que oferecesse à Sociedade das Missões Estrangeiras de Scarboro, canadense, a oportunidade de assumir o trabalho de evangelização numa Prelazia a ser criada: a de Itacoatiara.

Aceito o desafio, a Sociedade começou os preparativos para o envio do primeiro grupo: Francisco Paulo McHugh, o superior, Miguel O’Kane, Vicente Daniel, Douglas MacKinnon e Jorge Eduardo Marskell, os dois últimos ordenados em 21 de agosto de 1960./Escreve Miguel O’Kane:

o verão de 1961 foi um tempo de preparação para mim e meus quatro colegas, e o Brasil era o assunto do momento. Estar envolvido nesta cruzada e missão moderna era um privilégio e um desafio.

Após a despedida, realizada em outubro de 1961 na Catedral de Toronto, partiram para o Brasil.

Situada na margem esquerda do rio Amazonas, Itacoatiara naquele tempo era uma pequena cidade com uma população de onze mil habitantes, aproximadamente.

A chegada dos padres foi um acontecimento na história de Itacoatiara. Quando pararam no cais e as amarras do barco foram jogadas para a atracação, centenas de pessoas alinhadas na beira entoaram hinos de boas-vindas. Presentes também para a recepção oficial estavam os dois padres residentes Alcides Peixoto e Francisco Pinto e várias autoridades locais.

Desejosos de aprender mais depressa a língua portuguesa e conhecer a cultura brasileira para melhor se comunicarem com o povo, alguns missionários foram para o Cenfi (Centro de Formação Missionária) em Anápolis, no Estado de Goiás.

Aí, padre Jorge apanhou hepatite, sentindo assim os primeiros impactos da inculturação. Esta foi difícil: clima, língua, costumes diferentes.

O jovem padre Jorge queria compreender e ser compreendidos pelo povo; para isso esforçava-se muito. Aproximava-se das crianças, e conversava com elas. Os curumins corrigiam seus erros e até riam com ele das faltas cometidas.

Para melhor adaptação, os canadenses usaram por pouco tempo as batinas pretas, adotando os trajes civis, menos quentes e mais práticos para as numerosas viagens nos barcos.

Alguns adotaram também costumes locais como o uso de redes para dormir, o consumo da farinha de mandioca que o padre Jorge comia com colher como a maioria do povo.

Na chegada à Itacoatiara os missionários passaram os primeiros dias na velha casa de Monsenhor Peixoto e de suas duas irmãs, Maria e Teresa. Em seguida mudaram-se para a casa paroquial, onde moraram alguns anos, até passarem para o andar superior do prédio situado na rua Monsenhor Pereira, que mais tarde se transformou no Colégio Nossa Senhora do Rosário, o Colegião.

Em 13 de julho de 1963 foi criada por Paulo VI a Prelazia de Itacoatiara, abrangendo os municípios de Itacoatiara, Itapeaçu,2 Itapiranga, Silves, Urucará,” São Sebastião do Uatumã e Urucurituba.

Os padres canadenses encontraram aqui um sis- tema de desobriga3 e “um povo extremamente religioso, de um catolicismo tradicional, trazido pelos colonizadores” e que se perpetuava. O povo dava grande importância às novenas, procissões e promessas, enquanto a luta pelo bem-estar pessoal e comunitário era posta em outro plano. Havia grande separa- ção entre fé e vida.

Durante os três primeiros anos, os missionários de Scarboro não introduziram grandes mudanças; continuaram a evangelização que valorizava a sacra- mentalização e quase não atuavam na área social. Várias circunstâncias os levaram a mudar sua atuação.

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2 Mais tarde, extinto como município, Itapeaçu foi reintegrado à Urucuri- tuba donde havia sido desmembrado (SILVA, 1999).

3 Desobriga – Tem como origem a obrigação de cumprir, desobrigar-se do preceito quaresmal: confessar-se e comungar ao menos uma vez por ano. Para isso, os missionários passavam nas várias localidades e povoados reunindo o povo para a administração dos sacramentos, batizando, presidindo casamentos, ouvindo confissões e celebrando a missa. Não havia tempo para uma catequese mais profunda.

Continua na próxima edição…

*Sylvia Aranha de Oliveira Ribeiro, nascida no Rio de Janeiro em 1930 e criada em São Paulo, formou-se em Filosofia e Pedagogia, obtendo um mestrado em Filosofia da Educação. Em 1977, mudou-se para Itacoatiara como missionária leiga, trabalhando na Prelazia com comunidades eclesiais de base e na formação de lideranças populares. É cofundadora da Associação Dom Jorge Marskell (desde 2001) e membro da Academia Itacoatiarense de Letras.

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