Este texto que aqui vai resumido foi publicado na página 06 do Caderno de Ciência e Tecnologia do Jornal do Commercio (Manaus), edição de 19/03/2001 e só agora, 14 anos depois, aparecem arautos defensores dos bioprodutos, esquecendo que ajudaram a inviabilizar o Centro de Biotecnologia do Amazonas. Eis um resumo levemente modificado do texto de 2001, o primeiro ano do século 21.
Há uma preocupação da inteligência mundial com a perda diária e irreparável de organismos e genes em todo o Planeta, um problema que atinge maiores proporções nos países pobres, porque os ricos já extinguiram a quase totalidade de sua biodiversidade. O Brasil é um exemplo emblemático dessa destruição por falta de planos adequados de acesso e uso do incalculável capital natural de nossos organismos, ecossistemas e cenários.
AS CAUSAS
Esse descaso tem algumas causas entre as quais: 1) a dificuldade de valorar e valorizar a biodiversidade; 2) a falta de preparo intelectual da classe politica; 3) a ambição, os interesses pessoais e a usura que, inexplicavelmente, sobrepujam os interesses coletivos.
Para a finalidade deste artigo, é fundamental entender que a transformação da biota em riqueza e bem-estar depende, basicamente, de: 1) disponibilização de recursos para a pesquisa científica; 2) desenvolvimento de tecnologia de produção e de beneficiamento que permita agregação de valor; 3) colocação do produto com preços competitivos no mercado nacional e internacional; 4) adoção de um modelo de construção de uma sociedade moderna de biomassa.
Esse modelo é muito antigo existindo desde a época das caravelas, quando a humanidade já coletava produtos do capital natural para o então precário comércio nacional e internacional. Hoje muitos outros organismos foram adicionados e são vendidos ao redor do mundo, como commodities ou com beneficiamento industrial.
E AGORA JOSÉ?
O que é novo e estarrecedor é a incongruência de ver que a degradação da biodiversidade amazônica ocorre em um momento de aumento da demanda mundial por novos produtos e que as oportunidades estão sendo perdidas exatamente quando teríamos sustentáveis opções para exportar nossos produtos que não têm competidores.
A BIODIVERSIDADE E O AMAZONAS.
Entre os programas voltados para acesso e uso da biodiversidade pelo menos um deles foi especificamente criado para o desenvolvimento (não apenas do crescimento econômico) do Amazonas – o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) – que acenava sustentabilidade da economia, mas foi defenestrado pelos governos central, estadual e municipal, assessorados por asseclas sem preparo.
Para executar esse projeto foi criada uma parceria entre o CBA uma OCIP – Bioamazônia – e um acordo com uma grande empresa internacional de biotecnologia que já tinha três fábricas no Brasil. A alegação histérica-escandalosa de biopirataria levou, através de uma parlamentar do Amazonas (sic) essa questão técnica para o palanque político e o governo central (leia-se FHC) com medo, tomou a péssima decisão de suspender o acordo e editar uma Medida Provisória (nº 2052) que provocou atrasos irrecuperáveis para o aproveitamento de nossa biodiversidade e ainda deixou a pesquisa científica sob vigilância policial.
Evidentemente essa infantilidade política não conseguiu evitar que nossos organismos e o conhecimento tradicional associado saíssem da região, com a biopirataria acontecendo através da água bombeada para abastecimento de navios de turismo e carga, através da exportação de peixes ornamentais, folhas, flores, frutos, madeira, etc. E dos minúsculos microrganismos escondidos em frascos de produtos de beleza, em dobras de roupas, em fundos falsos de sapatos, em correspondências via correio, etc., etc., etc.
O novo marco da biodiversidade publicado ontem no Diário Oficial da União é mais uma parafernália ineficaz. O Amazonas precisa resgatar o Centro de Biotecnologia do Amazonas, colocando-o no núcleo da transformação da biodiversidade em riqueza.
Claro que o artigo foi modificado, pois o espaço que tenho agora é muito menor do que eu tinha naquele ano de 2001, mas a essência foi preservada para mostrar que os novos adeptos poderiam ser velhos entusiastas da construção de uma sociedade moderna de biomassa. Mas…
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