Manaus, 19 de junho de 2025

Moacir Andrade

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E difícil pensar na arte amazonense sem pensar em Moacir Andrade. No entanto, este pintor de técnica apurada e fidelidade ao seu próprio mundo em constante mutação não é um artista fácil de se classificar e tem sido mais prático minimizar sua obra através do conveniente rótulo de regionalista.

Moacir Andrade, no entanto, é mais universal do que muitas pensam. Assim, comecemos pela ideia de que é um artista regionalista. É certo que seu tema jamais se afasta de sua geografia, mas isto muitos grandes e universais artistas também assim o fizeram. Desde muitos anos convivo com as obras de Moacir Andrade. Nenhum outro artista de nossa cidade está mais presente e exposto do que ele. Quase todas as repartições públicas, salas de espera de empresas e coleções privadas ostentam obras do artista. Numa terra sem tradição de museus e ga1erias de arte, este artista conseguiu escapar do gueto das coleções privadas, e foi para as paredes pouco nobres onde o povo pode olhar. Talvez por isso mesmo ele tenha se tornado invisível para a crítica.

Faz muitos anos que pude apreciar as telas de Moacir, quando ele trabalhava barcos regionais ancorados em barrancas e fazia reluzir o choque do urbano com o mundo ribeirinho em suas pinceladas largas, cores vibrantes e luminosas.

Uma pintura cheia de vitalidade numa arte preste a se tornar cerebral pelo experimentalismo e pela dissolução das formas. Moacir Andrade era a marca do entusiasmo de sua geração, a turma de artistas e boêmios do Clube da Madrugada, que trabalhava a expectativa de uma nova manhã de glórias e mudanças para o Amazonas e o Brasil, Olhar as telas que foram criadas naqueles anos de juventude é voltar a experimentar a esperança de uma geração. E é neste momento que o artista escapa da província e expõe pelo Brasil e pelo Mundo. Lendo os comentários, as críticas e as notícias, vemos que Moacir Andrade de certo modo não decepcionava seus admiradores internacionais, especialmente os europeus, exatamente por levar na sua obra a pulsão esperada dos artistas da América, como os norte-americanos, que também chegavam naqueles anos finais da década de 50 do século passado, unindo sofisticação e crueza, procedimento bruto e delicadeza. A recepção da arte de Moacir Andrade como a de muitos outros artistas de seu tempo, vai sofrer mudanças profundas na segunda metade do século xx. O figurativismo em suas diversas expressões vai ser diluído pela ilustração publicitária e pela repetição exaustiva das técnicas e dos temas como mera decoração. Certamente que tal tendência podia falsificar até mesmo destruir autenticidades, mas a vulgarização comercial acabou por criar o conceito de “arte regional”, ou “pintura amazônica”, que não apenas abastarda a expressão do mundo amazônico, mas tende a soterrar na vala comum talentos como o de Moacir Andrade. O rótulo de regionalismo e a insistência em enfiar tudo o que se produz na Amazônia como coisa “regional”, é uma espécie de maldição que precisa ser negada e combatida. A obra de Moacir Andrade é bem maior que este rótulo miserável.

Sua evolução é como uma linha sublinhando os desafios da modernidade, do grafismo figurativo a um pontilismo desvairado a recontar mitos ancestrais, para chegar ao abstracionismo de sua fase mais recente. Em cada uma dessas fases, uma segurança no uso da técnica, uma firmeza em seu ofício, não fosse ele professor e um grande desenhista. Por isso era bom celebrar cada vez que Moacir Andrade exibia suas obras. E prantear a nossa pobreza cultural atual no momento em que ele parte cheio de glória.

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Uma resposta

  1. REALMENTE A HISTÓRÍA PICTÓRICA DA AMAZÔNIA ,SE CONFUNDE COM AS PINCELADAS FIRMES E SENSÍVEIS DE MOACIR ANDRADE. UM MÁGICO DAS CORES E DO ROMANTISMO AMAZÔNICO .

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