Manaus, 6 de dezembro de 2023

A farsa da intentona

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“Esses alarmes ganharam certa veracidade porque há poucos dias quatro bombas haviam explodido na sede do Onze Brilhante Futebol Clube, associação bastante conhecida.

Em meio à reconstitucionalização do país em 1934 e à promulgação da Constituição do Estado de 1935, e após a eleição indireta de governador que redundou na escolha de Álvaro Maia liderando uma articulação com apoio de todos os partidos – Socialista, Trabalhista Amazonense e Republicano, o clima político não serenou na capital amazonense, nem mesmo com a eleição de Cunha Mello e Alfredo da Matta para o senado da República, também por via indireta.

Na votação de outubro de 1934 os trabalhistas haviam perdido a vaga de deputado federal que tinham conquistado na Constituinte Nacional e fora ocupada por seu principal líder, o Comandante Luiz Tirelly. O jeito foi partir para uma composição com Álvaro e promover a criação do Partido Popular, com a extinção do Partido Trabalhista Amazonense e a incorporação de setores socialistas, de modo a assegurar o retorno de Tirelly à Câmara Federal com novo mandato e reduzir o poderio “melista”, tal como sucedeu.

Os grupos contrários, especialmente inúmeros socialistas sob o manto de Cunha Mello e Ribeiro Júnior, reagiram a essa composição e lançaram candidatos à eleição suplementar de 7 de setembro de 1935, pouco depois de tomarem uma bela surra quando da escolha de vereadores de Manaus em agosto daquele ano, porque o Partido Popular elegeu cinco dos sete edis da capital.

Foi então que em novembro de 1935, em meio ao clima de insegurança nacional que circularam em Manaus, amplamente, notícias ditas como verdadeiras e de fonte segura, de que estava sendo preparada uma intentona na cidade. Esses alarmes ganharam certa veracidade porque há poucos dias quatro bombas haviam explodido na sede do Onze Brilhante Futebol Clube, associação bastante conhecida, a qual costumava manter parque de diversões e realizar festejado arraial, no bairro da Cachoeirinha.

A principal notícia que corria de boca em boca era de que na noite do dia 11 de novembro o paco governamental seria atacado com o fim de promover a deposição do governador Alvaro Maia ou levá-lo à renúncia de suas funções, mesmo que ele mantivesse apoio de 28 dos 30 deputados estaduais, estivesse em harmonia com o judiciário e com a imprensa e fizesse um governo de austeridade. O tiro dos alarmistas saiu pela culatra. O governo não se intimidou e, pior que is so, as dez da noite do dia aprazado para a intentona amazonense, o Palácio Rio Negro estava repleto de cidadãos armados e dispostos a defender o poder constituído e o próprio governador.

Havia na sede governamental, pelo que verifica em jornais da época, pessoas de todas as classes sociais dispostas a defender a legalidade, como se dizia dos governos constituídos com base na lei, ou daqueles que estavam investidos das condições de mando, bastando ter a caneta e a chave do cofre em mãos.

Tais ameaças e notícias que se revelaram falsas, partiam dos descontentes com a política de austeridade e com a acachapante vitória do grupo alvarista nas eleições federais, estaduais e municipais daquele ano, destronando Cunha Melo, Ribeiro Júnior, Aristides Rocha, Júlio Lima e muitos outros que se consideravam intocáveis e donos do cutelo, mas tidos e havidos como oposicionistas declarados e chamados de inimigos do Amazonas.

Para quem nunca ouviu falar nesse fato, é bom registrar e, quem sabe, pode surgir alguém querendo escarafunchar papeis velhos para fazer disso um atentado à democracia quando pode ter sido tão somente mais uma artimanha “melista” e “riberiana”, ou uma tentativa de antecipação da intentona que, pouco depois, explodiu em Natal, Recife e Rio de Janeiro, mas que em Manaus redundou em prisões somente em 1936.

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