Manaus, 28 de novembro de 2023

Amor e paixão

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“Na arena, em noites retumbantes, o que se vai ver e o que já se viu por muito tempo, é fruto do saber e da vocação do ser humano para tratar do belo, é a doação da alma”

Depois de muitos anos presente no cotidiano da preparação e execução do Festival Folclórico de Parintins, e de haver sido público e presidente dos jurados antigamente, conhecendo de perto e por dentro grande parte da operação artística e funcional do evento que reúne dois grandes grupos de idealistas e sonhadores, de artistas por excelência que são genialmente festejados, na ocasião em que escrevo este artigo estou nos preparativos finais para assisti-lo de camarote, mas refastelado na poltrona da minha casa e bem distante do local da festança, nesta sexta-feira, 24 de junho, a data consagrada a São João e noite de abertura desse importante momento do folclore brasileiro.

Estarei ligado na transmissão televisiva para ouvir o rufar dos tambores das duas agremiações, ver as galeras explodirem de emoção, perceber a alegria esfuziante da multidão colocando para fora o grito de guerra depois de dois anos de silêncio. Terrível silêncio imposto pela pandemia, o tempo do desespero que provocou dias e noites de sofrimento atroz para muitas famílias apaixonadas pelo azul e pelo vermelho do seu boi bumbá, e consumou a perda de entes queridos.

Tenho certeza que a ilha de Parintins vai tremer ao som ritmado da Marujada e da Batucada e ao canto dos seus artistas. Assim será durante esses dias e noites que serão iluminados pela tradição que rege a vida dos torcedores das agremiações. Afinal, não se trata somente de brincadeira folclórica como foi no começo de Caprichoso e Garantido, há muitos anos, precisamente quando reuniam as famílias para a dança do dois pra lá e dois pra cá e os desfiles pelas ruas da cidade. Nem depois, quando foram para a quadra de esportes, para o arraial da igreja ou para o estádio de futebol, até chegarem ao bumbódromo, feito com exclusividade para esse show.

Mesmo permanecendo como a brincadeira mais alegre e feliz desse tempo de São João, São Pedro e São Marçal, o que o povo desse lugar encantado conseguiu construir com qualidade, sem dúvida, foi uma das maiores festas tipicamente brasileiras e que ainda vai crescer mais, e muito mais, à proporção que for ganhando ainda maior visibilidade nacional e internacional, principalmente pelas lentes e focos de rede de televisão dessa competência e qualidade.

Sem perder as características essenciais das danças, bailados, alegorias, ritmos e cantorias, o Festival se firmou como a possibilidade econômica mais viável e indestrutível para o desenvolvimento da cidade, com reflexos por toda a região. Basta ver as transformações urbanas, nos serviços públicos de segurança, aeroportuários, bombeiros, saúde, educação, arte, de comunicação e meios de transporte pelas quais passou Parintins nos últimos anos, resultado direto do crescimento e da importância dessa festa.

Se algo possa ter feito ao tempo em que fui Secretário de Estado de Cultura por 21 anos e no qual tive a responsabilidade de ser o representante do Governo do Estado na realização do evento, acompanhado por uma jovem e entusiasta equipe que também se apaixonou pelo azul ou pelo vermelho – e tanto se fez -, se algo possa ter feito, repito, o que me dá imenso orgulho e satisfação histórica é a instalação e fixação permanente do Liceu de Artes Claudio Santoro com estrutura completa e invejável de escolas de arte, biblioteca, cinema, memorial dos bois, enfim, ambientes dedicados às artes e ao estudo e que tem permanecido, e, desde o início, atendido as populações circunvizinhas com irretocáveis.

Na arena, em noites retumbantes, o que se vai ver e o que já se viu por muito tempo, é fruto do saber e da vocação do ser humano para tratar do belo, é a doação da alma, a impregnação da paixão nos campos das artes e do folclore, com a habilidade para a contação de lendas e descrição de mitos.

É o amor e a paixão em duas cores.

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