Manaus, 1 de dezembro de 2023

As frotas das demarcações

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1 – A Expedição de Mendonça Furtado

As fronteiras entre as colônias da Espanha e de Portugal, na América do Sul, particularmente as da Amazônia, não estavam definidas até a primeira metade do século XVIII. Assinado, a 13 de janeiro de 1750, o Tratado de Madri foi uma vitória diplomática portuguêsa, pois em troca da Colônia do Sacramento, das Filipinas, das Molucas e da margem esquerda do Amazonas acima do Japurá, a Espanha cedia as Missões a Portugal e lhe reconhecia a posse definitiva da maior parte da Amazônia, além da linha de Tordesilhas.

Para tratarem das demarcações decorrentes daquele Tratado foram destacados como governadores e capitães generais Francisco Xavier de Mendonça Furtado, com jurisdição sôbre o Estado do Grão-Pará e Maranhão, criado, a 31 de julho de 1751, a nova denominação do anterior Estado do Maranhão e Grão-Pará, com a sede em São Luís, depois transferida para Belém, e Gomes Freire de Andrade, responsável pelas do Estado do Brasil.       Mendonça Furtado, irmão de Pombal, logo embarcou para ocupar o seu cargo, mas sofreu um naufrágio, nas costas do Maranhão, tendo chegado à Belém, por terra, a 24 de setembro de 1751, sendo, a 30 de abril de 1752, designado para demarcar, junto com o plenipotenciário espanhol José de Iturriaga, as fronteiras do Javari, Japurá, Negro e Madeira, conforme as instruções do Tratado de Aranjuez, de 24 de junho daquele mesmo ano.

As providências para a viagem ao rio Negro demoraram, pois somente em agosto de 1754, foi executada uma derrama de farinha, para prover a expedição, sendo desatendida pelos missionários, principalmente pelos jesuítas, os detentores do poder temporal sobre a maior parte dos índios.

Apesar deste contratempo, após ouvir missa na igreja de Nossa Senhora das Mercês, em Belém, e passado o governo da cidade ao bispo Miguel de Bulhões, seguiu Mendonça Furtado para as demarcações, em uma das maiores expedições até então organizadas, visando o reconhecimento da Amazônia.

A frota estava formada por vinte e três grandes canoas, das quais a maior pertencia ao governador, sendo do tipo hiate, com uma câmara adamascada e uma equipagem de vinte e seis remeiros. Outras canoas menores acompanhavam a expedição, muitas destinadas à pesca, para a alimentação diária dos participantes. Nela viajavam 1025 pessoas, sendo 411 índios, 205 soldados, 24 pilotos e 62 criados, além das índias e suas crianças. Durante a viagem, cerca de 165 índios remeiros desertaram, pelos maltratos e pelos trabalhos pesados, que lhes eram impostos.

Da comitiva participavam os ajudantes de ordens João Pereira Caldas e João Batista de Oliveira,  o secretário João Antonio Pinto da Silva, o padre José da Gama, o físico mor Pascoal Pires, os cirurgiões Antonio de Matos, André Panelli, Domingos de Souza e Daniel Pancik, o sargento mor Gabriel de Souza Filgueiras, os capitães de engenheiros João André Schwebel e Gaspar João Geraldo de Grunfeld, engenheiros ajudantes Felipe Sturn e Adão Leopoldo de Breuning, os astrônomos João Angelo Brunelli e Miguel Antonio Ciera, o ajudante Antonio Henrique Galluzzi, o desenhista Antonio José Landi, os tenentes João Wilkens e Manuel Gotz, o jesuíta João de Szentamartony e o tesoureiro Lourenço de Anvers Pacheco.

A expedição estacionou, em Mariuá, hoje Barcelos, onde foram construídos numerosos prédios, ali ficando Mendonça Furtado, até 1756, à espera de Iturriaga.

Neste entretempo foram reconhecidos muitos rios da região e os jesuítas espanhóis acabaram  expulsos da margem direita do Guaporé.

Iturriaga, o plenipotenciário espanhol, somente sairia de Cadiz, em 1754, chegando à região, em 1759, quando Furtado já regressara a Portugal. Tentando apoderar-se do alto rio Negro, foi dali expulso pelo capitão José da Silva Delgado, fundador da casa forte de São Gabriel, depois uma fortaleza, construída por Felipe Sturn, em 1775, na mesma época em que se consolidou o domínio sobre a bacia do rio Branco.

2 – A Expedição de João Pereira de Caldas

Com a Carta Régia de 20 de agosto de 1772, o Estado do Grão-Pará e Maranhão foi dividido em dois: o Estado do Maranhão e do Piauí, com a capital em São Luís, e o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, sediado em Belém, este dirigido pelo capitão general João Pereira de Caldas, no período de 21 de novembro de 1772 a 4 de março de 1780, quando, investido na função de plenipotenciário das demarcações do Tratado de Santo Idelfonso, viajou para o alto Amazonas, onde exerceu cumulativamente a Capitania do Rio Negro, por ser a maior autoridade portuguêsa, na região.

O Tratado de Santo Idelfonso decorrera da invasão do sul do Brasil, pelo vice-rei do Rio da Prata Dom Pedro de Ceballos, que, entre 1776 e 1777, conquistara Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Por esse tratado Portugal recuperava as duas capitanias, mas cedia a Colônia do Sacramento, as Missões e algumas possessões da África e da Oceania, embora a Amazonia já não fosse mais objeto de disputa. Caldas chegou a Barcelos, em agosto de 1780, sendo o responsável pelas demarcações que iam do rio Branco ao  alto rio Negro, e dali até o Jauru, afluente do Paraguai. Com ele vieram Antonio Pires da Silva Pontes e Ricardo Franco de Almeida Serra, que traçaram as fronteiras do Branco e do Mamoré, Francisco José de Lacerda e Almeida, Teodoro Constantino de Chermont, Eusébio Antonio Ribeiro e Henrique João Wilkens.

A delegação espanhola chefiada por Ramon Garcia de Leon y Pizarro, depois substituído por Francisco de Requeña y Herrera, instalou-se, em Tefé, tentando incorporar o Solimões à Espanha.

Na continuidade dos trabalhos, Caldas foi substituído por Manuel da Gama Lobo d´Almada, o autor da mudança da sede da capitania para Manaus, que conseguiu a saída de Requeña, do Solimões, em 1791.

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