Para muitos brasileiros do Sul e do Sudeste Manaus só tem uma história. A história da floresta, dos rios, dos índios e dos ribeirinhos. É a única história. O Rio de Janeiro, por exemplo, tem várias histórias. Não só as das favelas e das balas perdidas. O Rio tem histórias de Copacabana. De Ipanema e sua garota famosa. Da Lapa e seus mistérios. Da bossa nova. Do Cristo Redentor e do Corcovado. Do samba e do Carnaval. Histórias conhecidas por brasileiros e estrangeiros. E nossa Manaus? Qual a história que eles conhecem? Rios, matas e caboclos remando canoas.
Quando vou ao Sudeste ou recebo aqui amigos de lá percebo que ficam surpresos com a Manaus urbana. Cidade metrópole com shoppings, avenidas, arranha céus, trânsito, bons restaurantes, casas noturnas, bons bares e condomínios residenciais de luxo.
E surpreedem-se porque Manaus só é conhecida por uma única história. Aquela dos rios, da floresta e dos ribeirinhos. Não sabem ou poucos estudaram o Ciclo da Borracha. Época que tínhamos o maior PIB do Brasil e a moeda corrente aqui era a libra esterlina.
Mas o imaginário persiste. Em época de eleição o Jornal Nacional mostra as famosas urnas eletrônicas sendo transportadas em canoas e rabetas. É aquela única e persistente história.
Nesse fatídico ano de 2020 nossa querida cidade completa 351 anos de muita História. Conquistas, avanços e maus tratos, governos e desgovernos. Mas habitada por gente de valor. Que trabalha, estuda, empreende, luta, acredita, ama. E gosta de viver aqui. E sabe que não temos só a história que eles conhecem. Dos rios e das matas. Que tanto nos orgulha.
Nesse triste ano de pandemia Manaus ficou conhecida como a cidade onde a Covid foi excepcionalmente mais perversa. Nos primeiros meses da pandemia o Jornal Nacional propagava para o Brasil e o mundo uma cidade que não conseguia enterrar seus mortos. Fileiras de covas de nossos cemitérios eram mostradas para o Brasil e o mundo.
Graças a Deus as coisas melhoraram. Mas viajando ao Sudeste fui questionado. Nossa você é de Manaus? A cidade do Covid?
Tínhamos uma única história conhecida no Sul e no Sudeste. A dos rios e da floresta. Agora temos uma segunda história. A do Covid.
O que desejo nesse aniversário? Que os nossos irmãos brasileiros não nos conheçam por essas duas únicas histórias.
Precisamos mostrar que temos muitas Histórias. Nosso Teatro, nossos festivais de ópera, jazz e o de Parintins. Nossa culinária fantástica. Nosso pólo industrial. Nossa herança histórica. Nosso mobiliário urbano. Nossa gente miscigenada e feliz. Nosso porto e nosso Rio. A nossa ponte, nossos palácios e museus.
Não merecemos ter só duas histórias. Não merecemos ser a Manaus da Covid. Manaus é maior que duas únicas histórias. Sabemos disso.
Feliz aniversário Manaus. De muitas Histórias e de muitos amores. Ah! Se eles soubessem!