O grande filósofo italiano Norberto Bobbio trouxe para a filosofia contemporânea o conceito de “mitezza”. O vocábulo italiano é traduzido como serenidade, moderação, mansidão.
Por seu turno o francês Sartre, pai do Existencialismo, nos ensina que somos livres, condenados a ser livre. E temos que fazer escolhas. Isso as vezes é angustiante. O Brasil vive um momento de extremismos. A Nação está polarizada. Escolher é parte da nossa existência. Não temos opção de não escolher. Não fazer nada. Não escolher é uma escolha.
Minha escolha pessoal é pela “mitezza” de Bobbio. Verifico que a sociedade se tornou violenta. A polarização política retroalimenta essa violência, criando inimizades, opressão, medo, desconfiança. O que nos resta a não ser a esperança? Esperança de que o bem vai vencer.
E repito, me agarro no conceito de “mitezza”, compreendido como mansidão: “Bem-aventurados os mansos porque eles possuirão a terra”.
Essa proposta de “mitezza”, de mansidão não deve e não pode ser confundida com submissão nem tampouco com humildade. Nós, cidadãos brasileiros devemos deixar a força, o confronto, os acordos para a seara da política e seus agentes. Nós, enquanto povo, enquanto sociedade em comunidade devemos exercer a “mitezza”, reconhecendo no outro a beleza e a necessidade de bem se relacionar.
No “Louvor à Mitezza”, Norberto Bobbio ensina que para responder à violência, nós traímos a “mitezza”, desconsideramos a nossa própria mansidão. São as escolhas angustiantes que temos que fazer, como nos lembra Sartre.
Bobbio explica que a “Mitezza”, ou seja a mansidão, na verdade, não é uma virtude recíproca: “O manso não pede, não exige qualquer reciprocidade: a mansidão é uma disposição para com outros que não precisa ser pago para se revelar em todo o seu escopo.”
O Brasil parece estar numa encruzilhada. As cartas estão dadas. Devemos ter responsabilidade para deixar e oferecer às novas gerações um país melhor, mais desenvolvido, mais igual e próspero. E penso que para isso é necessária a “mitezza”, a mansidão. Abominando a agressão. Temos que construir uma sociedade onde ninguém seja covarde. Que possamos ouvir a voz dos que não têm voz. Precisamos fazer renascer a justiça e a verdade. Mas com “mitezza”, sem pisar ou vilipendiar ninguém.