Manaus, 28 de novembro de 2023

O maçom e os santos

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“O responsável pela organização civil da visita do Papa João Paulo II ao Amazonas, era um maçom, e, ainda mais, havia muitos outros membros.”

Muito antes que um grupo de membros da Maçonaria Amazonense enfrentasse duro embate com o então pároco da igreja de Nossa Senhora dos Remédios de Manaus que vinha atuando pela imprensa e nas suas pregações para denunciar que os maçons deveriam ser excomungados pela Igreja, e não poderiam frequentar o templo religioso, muito antes de nossa reação, sob a liderança de Humberto Figliuolo e minha, em nome da Academia Amazonense Maçônica de Letras, realçando a impropriedade dessa alegação, um ilustre amazonense, lá pelos idos de 1932, deu clara demonstração de respeito, fé católica e isenção.

Era muito difícil acreditar na postura do religioso, principalmente ao saber-se que, na mesma época dessa crítica, o responsável pela organização civil da visita do Papa João Paulo Il ao Amazonas, era um maçom, e, ainda mais, havia muitos outros membros da sublime ordem contribuindo decisivamente, para o feito histórico e religioso, alguns dos quais eram frequentadores assíduos das   santas missas.

O fato que desejo relatar, entretanto, se deu na terra do boi-bumbá, na bela ilha de Parintins de tanto encanto e emoção. Foi lá que no come co dos anos 1930 Alexandre de Carvalho Leal filho do republicano de alta gema o professor positivista Domingos Theophilo de Carvalho Leal, maçom ilustre por todos os títulos e grande patriota-amazonense ainda não reconhecido condignamente como tal, salvou de um grande desastre toda a coleção de imagens sacras da igreja parintinense

Como é do conhecimento de muitos, a construção da igreja principal de Parintins foi feita por muitos anos, edificada com sacrifício e tenacidade, e se constitui em um dos mais belos exemplares de templos católicos de todo o Estado, imponente e ampla.

Naqueles anos, depois de formado em odontologia e direito e na condição de funcionário do Ministério da Agricultura, Carvalho Leal estava residindo na terra do Caprichoso e Garantido depois do casamento com Amélia Rebelo de Albuquerque, e, diante do alto risco de desabamento do teto da igreja da cidade, ou como lembra mestre Agnello Bittencourt, do esboroamento da torre da igreja e mutilação do corpo do Templo, foi ele que acolheu em sua residência todas as imagens que ornavam os altares sagrados.

Morando em casa da mesma praça, portanto, vizinho do templo católico, não parece ter havido dificuldade para que transferissem não só as imagens como todos os materiais e objetos usados nos rituais da igreja católica apostólica romana, os quais ficaram acondicionados, condignamente na residência e sob a guarda do mestre maçom e de sua família, até que fossem realizadas as obras de forro da nave e da torre.

Com votos dos parintinenses e de muitos outros municípios amazonenses e com a força do partido do governo, tempos depois Carvalho Leal foi eleito deputado federal pelo Amazonas de 1935 a 1937, retornando depois em 1951, após ter cumprido período prospero como prefeito de Manaus, nomeado pelo interventor Waldemar Pedrosa, em 1933, e de combater corajosamente e como voluntário na Batalha Naval de Itacoatiara.

Foi com essa conduta de solidariedade e de votamento a Nossa Senhora do Carmo, sem prejuízo de seu irrepreensível comportamento de um bom malhete na Maçonaria, que Carvalho Leal deu exemplo a seus filhos Maria José Leal, Alexandre de Carvalho Leal Filho e Maria do Carmo Leal e legou a todos nós, mais um bom exemplo.

Um acidente trágico, no Rio de Janeiro, ceifou sua vida em 1957, sem que o Amazonas desse a ele o reconhecimento devido pelo desempenho político e social, e defesa ardorosa dos ideais republicanos e democráticos.

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