“O que vem sempre a mente e faz palpitar mais forte o coração, é que vivi cada momento, intensamente, e as recordações são belas”
Dias desses, talvez motivado pela aproximação do fim do ano ou em razão das festas e premiações escolares de dois dos meus netos, bateu uma saudade das escolas onde estudei e dos professores que, com paciência e generosidade, foram decisivos para o que possa ter auferido de conhecimento, responsabilidade pessoal e social e preparação para a vida, como se costuma dizer. Creio que todos da minha geração tem as suas boas lembranças dos tempos da escola e, também, gostam de recuperar no fundo da memória.
A primeira e eterna professora -a minha mãe ensinando e conduzindo por todos os caminhos, alertando pelo exemplo e demonstrando como fazer, e, quando preciso, no aperto dos apertos, fazendo junto comigo. Com ela, o pai extremado, daqueles que ao ensinar mostrava caminhos e, como se diz, dava a vara para pescar, mas jamais se negou a ouvir e a falar com palavras carinhosas e firmes. A casa de nossos pais – porque somos nove irmãos -foi a mais importante escola pela qual passamos e em relação a qual as saudades só aumentam à proporção que os anos vencem.
No grupo escolar, como se dizia das primeiras instituições de ensino que todos frequentamos, público e gratuito e de grande qualidade e alto nível de exigência, seja no Antônio Bittencourt à época sendo inaugurado no modesto bairro da Glória, foi a jovem professora Glória que marcou pela compreensão e apreço, e a diretora Janete Serejo pela alegria contagiante com a qual dirigia a tudo e todos; no Marechal Hermes, mais elitizado, no centro da cidade, dona Maria Amélia Donadio com seu ar de autoridade, mas de profunda dedicação ao ensino ao lado da diretora Alzira Góes, aquela para quem a educação era essencial para o desenvolvimento dos jovens. Nos grupos, desde cedo, o exercício da poesia, do teatro, dos folguedos juninos, das feiras de ciências e trabalhos manuais, a organização dos festejos cívicos e tudo o mais que foi se enraizando em meio de nós que frequentavamos as aulas com assiduidade.
No preparatório ao exame de admissão ao Instituto de Educação, em casa, com meus pais, estudo barra pesada sem hora para terminar, todos os dias, enquanto a bola corria solta na calcada da rua entre os amigos do futebol. Afinal, tratava-se de instituição das mais respeitadas e que formara minha mãe, em 1931, com distinção e louvor apesar dos atropelos que passara com a morte dos pais. Depois, aprovado para a grande aventura de vestir as primeiras calças compridas e integrar uma das salas do velho casarão da Eduardo Ribeiro, novos e grandes metres como Cláudio Nobre, Rita Calderaro, Aristóteles Alencar, João Chrysostomo de Oliveira, João Braga, Cleomar Feitosa, Nelson Ferreira, Garcitilzo do Lago e Silva, Origenes Martins, Lourenço Braga, Carlos Alberto Ramos, Nazaré Xavier, Martha Falcão, Jacobede Oliveira, Benício Leão, Lila Borges de Sá, Evanir Barroso… e muitos outros também dedicados, sérios e de aulas preciosas. Todos suportaram muito bem as nossas peripécias juvenis.
Neste caso foi o tempo, também, de experimentar as olimpíadas culturais e participar das danças folclóricas organizadas por José Braga e Lauro Henrique Machado, da politica estudantil, criar e dirigir os jornais “O idealista,” “O leano” e “O Radar” em par com alguns colegas como Ruy Alencar, Roberto Lavor, Vera Lúcia Cordeiro, Samuel Leão e Hamilton Cidade estimulados pelas aulas de Língua Portuguesa e, conforme sonhávamos, em preparação para grandes embates nas campanhas eleitorais que não chegaram para todos nós, mas que tive a ventura de experimentar para logo depois fugir delas com força e vontade.
O que vem sempre a mente e faz palpitar mais forte o coração, é que vivi cada momento, intensamente, e as recordações são belas.