Suas águas negras
Escondem o mistério
De uma sociedade mal contada.
De suas artes rupestres
De dez mil anos.
Sempre quando molho minh ‘alma em ti
Ouço gritos das cunhãs, dos curumins,
Fugindo daquele louco do Favella em 1664
Mas,
Tu me acalentas!
Quando vejo o sorriso do boto brincalhão,
Do peixe-Arari, danado, de jeito de menino.
Pequeno e lindo.
E garças brancas manhosas,
Igualmente às mulatas lá de casa.
Eu não entendo Rio urubu
Por que falas
Comigo!
Sou um homem simples das ribanceiras.
Não posso ajudá-lo.
Que queres?
Diga-me, oh! Rio Urubu.
Falas de sonho?
De humanidade ?
Diga-me…
Quando toco na metafisica dos teus rostos.
Naqueles rostos riscados nas pedras
Sinto o calor da tua humanidade.
Tuas ribanceiras me dão imagens de milhares de pessoas belas,
De outrora.
Da Moara bela!
Em suas curvas corporais sagradas,
Do orgasmo espectral da lua
Caindo ao rio, em ti, Rio Urubu.
Cheio de cio e amor.
Devorando-te.
O poeta não te canta?
ROGEL SAMUEL
Falou de ti.
Eu sei Rio Urubu…
Teus rostos
São redondos,
São quadrados,
São ovais.
Têm ternura
Têm flor da Amazônia
Que boia à meia noite
Perto da enseada do Cantagalo,
Com sua fragrância de amor.
AMOR
Com letras maiúsculas.
Tem o tucunaré
Brabo
Prateado, cor de ouro que reluz ao sol,
Esplêndido como pote de barro
Da velha aruaque.
Aruaque!
A mulher aruaque:
Mapioh!
Tinha pele amorenada
Devido ao sol que molhava em ti, rio preto, rio buruburú.
Ah! Mulheres aruaques,
Tuas coxas grossas de Ceiba pentandra
Que abraçam ao vento,
O sonho
A vida,
O cio.
E o sorriso.
Foi firme!
Nunca foste submissa
Para os patéticos.
Que se atreveram a entrar no teu Mundo Metafísico e Sagrado.
Ah!… Rio buruburú.
A clorofila dos teus sonhos
Sempre ouço.
Urubu!
Rio Urubu tu me acalentas.
Acalentas…
Acalentas.