Manaus, 11 de dezembro de 2023

Rota cultural

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(Itacoatiara, 18/10/2023)

Continuação…

VI – Ainda sobre a Praça Nossa Senhora do Rosário, ou Praça da Catedral (inclusos a Pedra Histórica, ao centro, e o prédio da Catedral, aos fundos).

Considerações Iniciais. Praça pública é um espaço democrático de convivência e lazer, que deve ser planejado de forma inteligente para atender às necessidades da comunidade. Geralmente, a grande maioria das pequenas e médias cidade do Brasil não possuem, nesses espaços públicos, os elementos indispensáveis ao prazer, à comodidade e à segurança públicos.

Ao debruçar-se sobre o tema, um grupo de pesquisadores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) elaborou o trabalho “A importância do cuidado com as praças nas cidades”, segundo o qual,

“Os espaços de lazer públicos estão diretamente relacionados na qualidade de vida da sociedade e assim interferem no meio urbano e social das cidades. Deste modo, a indiferença com as praças, situadas tanto em bairros quanto em áreas centrais, pode acarretar em consequências como: a inutilização pela falta de manutenção adequada. Considera-se de suma importância a remodelação de espaços públicos, […] o abandono destes [pode levá-los] a ser considerados “mortos”, afeta de forma negativa o seu entorno uma vez que esta ação provoca perigos para a sociedade”.

A atual Praça (ou Largo) da Catedral Nossa Senhora do Rosário encontra-se razoavelmente revestida dos elementos necessários ao lazer e à distração: assentos, árvores, iluminação e segurança – itens que possibilitam aos moradores da cidade a regular frequência ao local em diversos horários do dia. Entre suas carências ressaltam a falta de flores e de um bom gramado para tornar o ambiente mais atrativo; a inexistência de câmeras de segurança para ajudar a conter a onda de violência e assaltos que vêm crescendo a cada dia; de um playground para crianças brincarem; e de um coreto ou área para eventos, que poderia ser utilizado para apresentações musicais, teatrais, feiras e outros atos que promovam a cultura local.

Um elemento atualmente dispensável é o quiosque construído no centro da Praça: a antiga livraria da Prelazia. Uma construção bem feita, mas encontra-se desativada, sem utilidade alguma para o local. Poderia ser substituída por uma estátua típica em tamanho natural; uma escultura representando a figura do fundador da cidade. Outro ponto a ser considerado são as lancheterias, os “churrasquinhos” e outros postos de venda colocados inadequadamente nas laterais da Praça, que avançam para o interior do espaço público, dificultando a circulação de pessoas e tornando o ambiente mais acanhado e feioso.

Precisamos de uma política ambiental pública que privilegie o plantio de árvores ornamentais e frutíferas e a criação de jardins pela cidade. No caso particular da Praça da Catedral, urge que se plante e replante não somente oitizeiros, mas também árvores floríferas, como ipê-amarelo, branco, rosa e roxo; magnólea, flamboyant, espatódea, bouganvilles e roseiras de todos os tipos e cores.

Considerações Sobre a Pedra Histórica

A Pedra Histórica, colocada no centro da Praça da Catedral, remete-nos ao distante passado desta cidade, quando nesse local despontava somente a mata virgem, pontoavam muitas tribos indígenas. Contestada por uns e aplaudida por outros, a localização da Pedra Histórica no centro da Praça da Catedral tem sua razão de ser. Não confundí-la com uma das “pedras pintadas” que podem ser visualizadas somente nas épocas de vazante (períodos de seca) do rio.

Ressalto, aqui, um pouco do que escrevi nas páginas 131/133 do livro “Fundação de Itacoatiara”, 2ª edição/2017, a respeito desse poderoso monumento histórico e símbolo maior do nosso Município. A Pedra Histórica foi retirada, em meados de 1970, da orla do Jauarí e transferida para o centro da cidade; colocada em diferentes locais, anos depois finalmente foi posicionada defronte ao edifício da antiga Matriz, a atual Catedral. Sua face inicial leva desenhos, símbolos religiosos e inscrições em português.

A Pedra revela as datas de 1744 e 1754 – a primeira alusiva à passagem pelo sítio Itaquatiara do sargento-mor Francisco Xavier de Morais (1700-c.1788), o qual, em missão do governo de Portugal, por ali transitou e deixou nela o seu registro. A segunda data foi gravada em ferro e fogo para marcar a passagem pelo lugar do capitão-general e governador da Amazônia, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1700-1769).

Imagem da Pedra Histórica. Mebarak (2012). Disponível em: https://goo.gl/t3GUk9 in pág. 132 do livro Fundação de Itacoatiara/2017

Com a missão de delimitar a fronteira entre Portugal e Espanha, Mendonça Furtado, à frente de uma comitiva de mais de 1.000 pessoas, entre soldados, assessores, pilotos, índios remeiros e escravos – transportadas em 25 embarcações movidas à vela e a remo – deixou Belém a 12 de outubro de 1754 e foi encontrar-se no alto rio Negro com o representante do governo espanhol. Mas não fez viagem direta: foi visitando as povoações situadas ao longo do rio Amazonas.

À tardinha de 29 de dezembro a expedição aportou no sítio Itaquatiara. Antes de retomarem a viagem, no amanhecer seguinte, foi rezada missa. E na Pedra que serviu de altar, Mendonça Furtado mandou gravar a palavra TROPA (simbolizando a presença do poderio militar português), uma cruz sobre uma escada (a presença do representante da Igreja Católica) e a data de 1754.

Considerações Sobre a Catedral.

O imponente prédio da Igreja Catedral Nossa Senhora do Rosário levanta-se à margem esquerda da rua Adamastor de Figueiredo fazendo frente para a Praça (ou Largo) da Catedral. Substitiu à Igreja Matriz anterior que havia sido inaugurada em 1946.

Casa com torre e relógio

Descrição gerada automaticamente

Foto – Igreja Catedral Nossa Senhora do Rosário. Gentileza de Fundação A. Maggi/Lygia Rodrigues

Conforme escreví nas páginas 278/279 do livro de minha autoria “Cronologia Eclesiástica de Itacoatiara”, editado e lançado nesta cidade em 2018:

Concluídas no final de outubro de 2012, as obras de restauro e ampliação da Catedral Nossa Senhora do Rosário, de Itacoatiara, duraram exatos 9 anos. O investimento somou mais de um milhão de reais: mais de noventa por cento desse valor foi arrecadado na Itália, entre amigos de dom Carillo Gritti (1942-2016). Também ajudaram o fato do bispo Carillo ser engenheiro e o esforço e a dedicação de dezenas de trabalhadores envolvidos na obra, daí resultando uma bem-cuidada construção, um edifício mais amplo e deveras imponente. A respeito, manifestou-se o arcebispo metropolitano de Manaus, dom Sérgio Eduardo Castriani, em artigo no jornal Amazonas Em Tempo, edição de 30/07/2017: “[…] Quem vai a Itacoatiara não pode deixar de notar a belíssima igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Se já era bonita e imponente, ficou muito mais bela depois da reforma feita por dom Carillo Gritti, bispo e arquiteto, morto há pouco mais de um ano. Homem de personalidade forte e de uma fidelidade a toda prova, conseguiu exprimir arquitetonicamente essas duas virtudes quando conservou a antiga igreja e ao mesmo tempo fez uma nova. É essa sensação que se tem ao entrar no majestoso templo. É a mesma igreja, mas é também uma outra.  Coisa de artista”. Realmente, toda ela foi reconstruída, do chão ao telhado. As colunas reforçadas e os tijolos assentados deitados. Para ganhar mais espaço ao fundo, o altar antigo foi transferido para a lateral direita do templo, entre os túmulos dos bispos Jorge Marskell e Carillo Gritti, e levantado um novo altar, de madeira entalhada, construído pelo artesão João Maria Barroso. O piso anterior, de tacos de madeira, foi trocado pelo granito; as telhas de fibrocimento foram trocadas por outras de barro. A torre ganhou um novo andar, para acompanhar a nova estrutura, que ficou mais alta que a igreja antiga. Na parede do altar-mor foi reservado um espaço, em forma de coroa, para a imagem de Nossa Senhoea, um outro para o ostensório onde é exposto o Santíssimo Sacramento, e ainda mais abaixo o sacrário, que foi feito pelo próprio dom Carillo em sua oficina na residência episcopal. O altar-mor, o púlpito, a Cátedra e os bancos foram confeccionados em madeira de lei e revestidos de entalhos. No lado esquerdo fica a pia batismal. O edifício inteiro foi pintado nas cores cromo suave com detalhes trabalhados manualmente na cor marrom e as colunas de terracota.

Texto, Carta

Descrição gerada automaticamente

Foto da Placa de inauguração da Catedral, afixada na entrada desse edifício. Gentileza de Paula Guimarães

Como referido na Placa de Inauguração, a obra foi iniciada no dia 26 de outubro de 2003 e dedicada no dia 1º de novembro de 2012 (festa de Nossa Senhora do Rosário). À época, chefiava a Igreja Católica o Papa Bento XVI; o Bispo Prelado era dom Carillo Gritti – falecido em 9 de junho de 2016; e o Pároco da Catedral, o Padre Danilo Monteiro de Oliveira.

Uma imagem contendo edifício, frente, em pé, olhando

Descrição gerada automaticamente

Imagem de Nossa Senhora do Rosário, Padroeira da Prelazia de Itacoatiara, exposta no Altar da Igreja Catedral. Gentileza de Paula Guimarães

VII – Academia Itacoatiarense de Letras

Entidade lítero-cultural fundada em 17 de maio de 2009, tendo por objetivo cultivar a língua portuguesa e a literatura nacional, resguardando suas características locais. Composta por 30 membros, a Academia desde 2011 vem funcionando no prédio histórico nº 429 da rua Conselheiro Ruy Barbosa, cedido à instituição pelo Governo do Estado do Amazonas. Conhecido como Palacete Lima Verde porque nele residiu a família do capitalista Joaquim Alves de Lima Verde, o qual, nos idos de 1900/1901, foi superintendente municipal de Itacoatiara.

Imagem da arquiteta e urbanista Márcia Honda, em frente ao prédio da Academia Itacoatiarense de Letras. Gentileza de Fundação A. Maggi/Lygia Rodrigues

Esse prédio de dois andares data de 1905. É uma herança do período áureo da borracha e por isso foi tombado como patrimônio público pela Prefeitura Municipal. Além do proprietário, alí residiram as famílias de José Henriques Souza Filho, Antonio Gesta Filho e Arlindo Santos; também sediou a representação do Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas e o Cartório Eleitoral da Comarca de Itacoatiara.

VIII – Capela de São Francisco de Assis  

Conforme referimos antes, a área ocupada pela Praça de São Francisco fez parte do antigo Cemitério São Miguel, o segundo da cidade, que funcionou no período 1890/1903. Mas a Capela de São Francisco independe do Cemitério. Ela data de 1919 e sua construção foi feita por iniciativa e às expensas do ex-superintendente do Município Joaquim Alves de Lima Verde, como paga de uma promessa. São Francisco de Assis é um dos mais populares santos da Igreja Católica e sua festa litúrgica em Itacoatiara, comemorada anualmente a 4 de outubro, faz parte do calendário turístico municipal e para a qual acorrem fiéis e simpatizantes de várias partes do Estado do Amazonas.

Igreja em frente a casa

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Foto recente da Capela de São Francisco de Assis. Gentileza de Márcia Honda

IX – Conclusão. Completada a visita ao último ponto histórico constante da Rota Cultural – a Capela de São Francisco de Assis – os caravaneiros deram por concluída sua missão retornando ao Centro Cultural Velha Serpa. Passava das 18hs daquele memorável 18 de outubro de 2023. Caminhar em busca de sorver um pouco da trajetória cultural de Itacoatiara é um misto de cansaço e felicidade. Todos estávamos cansados, porém felizes. Nossas lembranças remetiam ao poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), autor do dístico: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

Placa branca com letras pretas

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Foto das placas referindo os superintendentes municipais responsáveis pela construção do antigo Matadouro e a firma concessionária do mesmo. Gentileza de Márcia Honda

O Centro Cultural Velha Serpa ocupa um prédio antigo da cidade, que tem um valor histórico e arquitetônico significativo – sediou, durante mais de meio século, o Matadouro Público da cidade. Tombado como patrimônio cultural de natureza material, o imóvel foi cedido à Fundação André e Lúcia Maggi pela Prefeitura, com o aval da Câmara Municipal de Itacoatiara. Reformado em 2009, deu lugar a um ambiente cheio de vida. É um Espaço Coletivo dedicado pela FALM ao desenvolvimento de atividades sociais, capacitação e disseminação da cultura itacoatiarense.

Homem segurando uma placa

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Foto – O historiador Francisco Gomes diante da placa de inauguração do antigo Matadouro. Gentileza de Márcia Honda

Referido prédio teve sua construção iniciada em meados de 1918, na administração do superintendente municipal João da Paz Serudo Martins (1917-1919), e concluída em 1920, na do superintendente Francisco Olympio de Oliveira (1920-1922). O relato de sua construção e a importância do velho matadouro na atividade econômico-social deste município constam do meu livro Cronografia de Itacoatiara, 2º volume, pgs. 106 a 109 e, mais detalhadamente, no artigo de minha autoria sob o título “Centro Cultural Velha Serpa”, inserido na seção de História do Blog https://franciscogomesdasilva.com.br, edição de 2 de abril de 2014.

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