Não sei quem será nomeado como superintendente da Suframa, espera-se que o critério seja técnico, de preferência que o escolhido seja amazonense e que tenha profunda compreensão dos problemas que a Zona Franca trouxe para a cidade e para o estado. As transformações sociais e culturais da Zona Franca em Manaus são bastante distintas daquelas que aconteceram durante o ciclo da borracha.
Enquanto a cidade era a capital mundial da borracha, Manaus rapidamente se consolidou como centro urbano, e desenvolveu os primeiros sistemas de serviços públicos, como eletricidade, distribuição de agua e esgotos.
Naquele período a cidade teve suas ruas pavimentadas, o seu crescimento planejado, viu crescer o número de hospitais e abriu-se para as influências culturais cosmopolitas. Criou uma Universidade e construiu uma casa de óperas. ~ claro que todas aquelas vantagens eram direcionadas aos ricos, àqueles que lucravam com O comércio do látex. No entanto, O desenvolvimento de Manaus durante o ciclo acompanhou o crescimento populacional, sem degradação dos serviços. O oposto ocorreu com a Zona Franca de Manaus. O aceno de 50.000 empregos atraiu uma população de migrantes que nunca mais cessou de aportar em Manaus. A rápida instalação de empresas comerciais, as lojas de artigos importados que pululavam pelo centro histórico da cidade, a chegada de empresas multinacionais no distrito industrial, as firmas de consultoria, os institutos de pesquisas, as novas sucursais de instituições públicas, a horda de turistas em busca de aparelhos · eletrônicos baratos e a vaga de migrantes em busca de novas oportunidades transformou a cidade num inferno.
Especialmente porque tal demanda chegava num momento em que a estrutura da cidade estava decadente. Em 1960 a cidade de Manaus ainda conseguia acomodar seus 200 mil habitantes, embora tudo estivesse à beira do colapso. As telecomunicações eram impraticáveis, a distribuição de luz e água precária e os prédios públicos estavam quase em i ruínas. Em 1984, a cidade continuava com a mesma infraestrutura apodrecida e Manaus começava a inchar. ‘Com inúmeras favelas surgindo por todos os lados. O fenômeno do crescimento desordenado de Manaus faz parte dos problemas gerados pelos programas de desenvolvimento postos em práticas pelo governo federal, desde 1964. Um dos problemas óbvios é o aumento da população urbana na Amazônia, configurando uma das maiores fronteiras urbanas do mundo. O censo de 1980 mostrava que metade da população amazônica vivia em cidades. Dez anos depois 58% da população estava urbanizada. Capitais como Manaus, Belém e Porto Velho sofreram declínios de importância regional, na medida que certos aglomerados urbanos espalhados pelo interior se organizaram e estabeleceram ligações diretas com os centros econômicos nacionais e internacionais. Mas as capitais tradicionais da região continuam a desempenhar seu papel local, por sediarem as sucursais das agências federais, controlarem os orçamentos públicos estaduais e manterem as máquinas administrativas e burocráticas.
No entanto, enfrentam novos desafios, como as massivas imigrações, criação de favelas e crescimento do setor informal na periferia urbana. A partir dos anos 90 a região assistiu uma mudança urbana bastante dramática, que foi o declínio da cidade de Belém em relação à Manaus. A vitória da capital amazonense na velha competição entre as duas cidades foi apenas aparente impossível prever o que vai ser a cidade de Manaus no futuro, depois que o processo da Zona Franca passar. O novo gestor deve assumir a tarefa de preparar esse novo tempo.