Manaus, 30 de novembro de 2023

Uma política pública para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos: O estado do Amazonas, um caso ilustrativo Parte VIII a: A municipalização da ciência, tecnologia e das artes no Amazonas, em bases sustentáveis TEXTOS 14-15/30

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O conjunto de textos publicado no Blog do Francisco tem mostrado que, com os devidos reajustes, é possível construir e implantar uma Política de Desenvolvimento Sustentável Decolonial para a Amazônia, em especial para o Estado do Amazonas. A herança colonial e as relações de poder desiguais entre as regiões brasileiras continuam guiando as políticas públicas na Amazônia. A vigência de uma universalização científica ‘carimbada’ em algumas de suas instituições regionais precisa ser desconstruída. E direcionada à promoção de seus povos, também, a partir de seus municípios.

Os artigos anteriores reafirmam a importância cultural e ecológica do Amazonas ao Brasil e à Humanidade. Apresentaram, também, vários programas estruturantes ao seu desenvolvimento sustentável, que por sua vez só será materializado, em forma plena e equânime, se esta política pública, também, se consolidar em todos os seus municípios, sem exceções. ACORDA AMAZONAS!!! Este e o próximo artigo tratam esta questão.

Nesta semana do meio ambiente, desde 5 a 9 de Junho de 2023, é importante reafirmar os compromissos estaduais e municipais amazonenses com o uso sustentável da natureza. O Amazonas é a mãe-natureza do mundo. Entretanto, atualmente, Manaus é uma das cidades com as redes hídricas mais poluídas do planeta; rivaliza com Nova Delhi, embora esta cidade, capital da Índia, possua cerca de 29 milhões de habitantes. A falta de proteção de seus igarapés, das suas nascentes d’águas, a higienização deficiente de seus espaços públicos, a ineficiente rede de esgotamento sanitário, a destruição dos fragmentos florestais urbanos, a ausência de uma política de reciclagem de resíduos sólidos, uma política pública de transporte e acessibilidade desastrosa, a falta de segurança pública, e o desmatamento e a posse ilegal das florestas nas bordas da cidade já foram naturalizadas. A contaminação de seus igarapés e rios por mercúrio já é uma realidade incontestável. E a miséria social aumentando. Triste, mas é verdade: Manaus está morrendo; os seus parlamentos políticos, os seus governos – estadual e municipal – e as suas instituições públicas e privadas continuam silenciadas esperando que o ‘mundo’ venha resolver os seus problemas. Pode-se dizer que a qualidade de vida no Amazonas é uma das piores do Brasil.

O Estado do Amazonas, principal lócus ecológico do planeta, está muito doente e afetado por um crescente processo de miséria social e ambiental construído por seus governantes. Como explicar que Belém será a sede da COP 30, em 2025, em detrimento de Manaus? Importante evento, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, promovido pela ONU, em parceria com o Governo Federal e o Governo do Pará, contará com a participação de mais de uma centena de países, para discutir estratégias ao combate das mudanças climáticas. Continuamos reféns das ações políticas e das gestões temerárias no Estado do Amazonas. A ausência de representação política e governamental do Amazonas nos principais fóruns e decisões sobre as questões ambientais brasileiras e internacionais é outro desrespeito ao povo amazonense. O silêncio de seu governo e dos seus gestores públicos sinaliza um futuro sem futuro aos seus jovens.

A relevância da Amazônia para a cultura e à estabilidade ecológica do planeta lhe reserva um lugar especial nos fóruns econômicos e políticos mundiais. A rápida extinção da diversidade cultural e ecológica no planeta precisa parar. O Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, publicado em agosto de 2021, registra evidências concretas do aquecimento global. Destaque para o aumento da temperatura média do planeta em 1,6°C até 2040, descongelamento das camadas de gelo do Ártico antes de 2050 provocando a subida do nível do mar em 55 cm, ou mais, e ao aumento cíclico das temperaturas extremas, entre outros impactos.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, COP26, realizada em Glasgow, Escócia, durante 31/10/2021 a 12/11/2021 estabeleceu uma agenda global para a próxima década, insuficiente para deter a crise climática que põe em risco o bem estar e a perenidade da espécie humana. Os resultados desta Conferência assim como os das anteriores, sobre esta temática e os seus impactos, são pífios. Posterga para o futuro as medidas práticas estruturantes para desacelerar as mudanças climáticas, e proteger a vida e o planeta. Em forma difusa, a agenda desta COP26 estabelece a lenta diminuição do uso dos combustíveis fósseis e das emissões dos gases de efeito estufa. Estabelece ainda a intenção em fomentar um fundo de investimento e intensificar os acordos de cooperação entre os países em desenvolvimento para mitigar as causas e os efeitos das mudanças climáticas, construindo a transição para o desenvolvimento limpo.

Propõe a proteção da natureza, a imediata diminuição do desmatamento, em especial nas regiões tropicais, e a construção de inovações tecnológicas para o desenvolvimento sustentável. Associa, também, o crescimento da pobreza com a destruição da natureza. A complexidade deste quadro mundial ‘abraça’ a Amazônia congelando-a no tempo e no espaço.

A solução dos múltiplos problemas em rede que compõem este período crítico da humanidade exige sabedoria e determinação política, na escolha da mais simples, a saber: a construção de alternativas que possibilitem a mudança radical das relações humanas com a natureza, e o combate das desigualdades sociais. A gravidade deste quadro não admite mais postergações. A Amazônia continua sendo destruída. Ela está morrendo. Quem, como e quando ela será salva? Sua destruição precisa parar. É necessário que a juventude conheça as suas potencialidades culturais e ecológicas. E a sua crescente importância diante do impasse global na solução dos problemas associados às mudanças climáticas.

Institucionalizar uma plataforma de ciência, tecnologia e artes em seus municípios possibilitará acelerar a melhoria de suas políticas públicas e a sustentabilidade na região. Certamente, esta ação terá impactos regionais e globais mais consistentes e integrados às demandas públicas municipais e, simultaneamente, à governança global da crise climática.

A municipalização da ciência, tecnologia e artes no Amazonas: desafios e propostas

A consolidação do desenvolvimento sustentável na Amazônia é muito dependente da interiorização das estruturas das ciências, tecnologias e artes. Esta ação criará novas articulações entre os poderes políticos, instituições de ensino e pesquisa, setor produtivo, sociedade e políticas públicas municipais, estaduais e federais. Em forma ampla, contribuirá para melhorar os índices de desenvolvimento humano, modernizar os processos de gestão das políticas públicas, incorporar ciência, tecnologia e artes aos processos e arranjos produtivos locais e construir novos programas de empreendedorismo, geração de renda, empregabilidade e inclusão social nos municípios. Possibilitará também criar novas demandas científicas, tecnológicas e artísticas para a juventude, priorizar as aplicações da ciência, tecnologia e artes na educação, na indústria e comércio, segurança alimentar, saúde, tecnologia naval e telecomunicação, biotecnologia e cultura, numa perspectiva sustentável. A implantação desta plataforma de ciência, tecnologia e artes pressupõe a organização de um conjunto básico de programas, ações, metas e um processo de avaliação contínua que possibilitarão a sua conectividade com todos os atores e setores da sociedade, assim como com as demais políticas públicas municipais e estaduais.

Pressupõe também uma política fiscal e tributária específica para esta plataforma tecnológica. O financiamento desta proposta de desenvolvimento, com alcance municipal, estadual e global, pode ser efetivado por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento Social, BNDS, do Fundo Amazônia, da Financiadora de Estudos e Projetos, FINEP, de um Fundo específico da “Zona Franca de Manaus”, de parcerias público-privadas, e de outras parcerias e colaborações internacionais. É importante observar que diversas orientações apresentadas nesta série de artigos podem ser replicadas em outros estados amazônicos assim como para a panamazônica.

Constituem prioridades deste plano de gestão, os programas e as ações que se seguem.

Ciência, tecnologia e artes para o desenvolvimento municipal amazonense

Este programa visa instalar, expandir e aperfeiçoar a infraestrutura tecnológica, científica e artística para o desenvolvimento social e econômico do respectivo município. Suas ações propõem: 1. Induzir e promover os programas de formação e pós-graduação estratégicos ao município. 2. Melhorar a infraestrutura física para os arranjos produtivos e as tecnologias apropriadas locais. Implantar programa de ciência, tecnologia e artes para apoiar os micro e pequenas empresas e promover o empreendedorismo. 3. Apoiar a pesquisa, as suas aplicações e as inovações tecnológicas para a solução de problemas do município. 4. Implantar estruturas laboratoriais estratégicas, em forma integrada e consorciada com instituições públicas e privadas. Em especial os projetos para o desenvolvimento de plataformas tecnológicas e artísticas para a(o): bioindústria, biodiesel, tratamento de resíduos sólidos, desenvolvimento das várzeas; serviços ambientais; artes plásticas; literatura, design; música; e programas de mecanismos de desenvolvimento limpo. 5. Implantar programas de cooperação estadual, nacional e internacional em ciência, tecnologia, artes e inovação. Estando todas as ações permeadas pela sustentabilidade.

Em princípio, recomenda-se construir um projeto para cada ação. Destaque para a ação 4, apesar de sua amplitude e complexidade.

Ciência, tecnologia, artes e inovação para a inclusão social nos municípios amazonenses

Este programa propõe-se desenvolver ações de ciência, tecnologia, artes e inovação para a promoção do desenvolvimento humano e da cidadania nos municípios amazonenses. Suas ações priorizam projetos estratégicos, tais como: 1. Ciência e educação; 2. Ciência e inclusão digital; 3. Ciência e saúde; 4. Ciência e cultura; 5. Ciência e segurança pública; 6. Ciência e sustentabilidade.

Conforme o programa anterior sugere-se construir um projeto para cada ação. Ênfase para as ações 1 e 3, que também abarcam a educação intercultural e a prescrição e o uso orientado dos medicamentos naturais, respectivamente. Estas ações terão impactos positivos nas políticas públicas municipais.

Faz-se necessário implantá-las e ampliá-las conforme as demandas e as prioridades técnicas das respectivas políticas públicas municipais.

Gestão, difusão e popularização da ciência, tecnologia e artes nos municípios amazonenses

Este programa desenvolverá ações para coordenar, formular, planejar e avaliar os programas e ações de ciência e tecnologia no, respectivo, município. Possibilitará, também, difundir e democratizar o acesso ao conhecimento científico e tecnológico e aos seus benefícios, pelos setores sociais e econômicos, com vistas ao desenvolvimento social e à elevação da qualidade de vida da população do município.

Destaque às ações que se destinam a: 1. Assessorar os gestores públicos em programas e projetos de ciência, tecnologia e artes, e promover e coordenar o planejamento e a execução das atividades desta política municipal. 2. Fazer prospecções e buscar novas formas de fomento à pesquisa científica, tecnológica e artística para os municípios. Avaliar os programas de ciência, tecnologia e artes em desenvolvimento, e produzir indicadores científicos, tecnológicos e artísticos nos municípios. Supervisionar os convênios de ciência, tecnologia e artes com as instituições locais e as agências financiadoras nacionais e internacionais. 3. Criar e manter acervos e programas de difusão de informações e conhecimentos de ciência, tecnologia e artes sobre o respectivo município e a Amazônia. 4. Promover programas de introdução às culturas científicas, literárias e artísticas em espaços não formais de educação. 5. Induzir a implantação, modernização e manutenção de museus, centros e laboratórios para o ensino de artes, ciências e matemática. 6. Difundir experiências de educação artística, literária, científica e tecnológica. 7. Planejar e promover programa de educação ambiental, preservação e conservação da natureza. 8. Promover e coordenar um programa editorial municipal sobre ciência, tecnologia e artes.

Similar aos dois programas anteriores recomenda-se construir um projeto para cada ação. Estas ações, também, terão impactos positivos nas demais políticas públicas, em especial na de educação, e no diálogo dos gestores públicos com a sociedade. A sustentabilidade é a ‘ideia-força’ que movimentará este programa em todas as suas dimensões sociais e econômicas.

Este portfólio de programas científicos, tecnológicos e artísticos para os municípios amazonenses, com as devidas adequações, pode ser generalizado para a Amazônia. A sua organização contribuirá para a construção de elementos técnicos e políticos que possibilitarão implantar os seus desenvolvimentos sustentáveis, em bases consistentes e integradas.

Reafirmo a importância estratégica em se implantar uma rede municipal de núcleos de inovações em novos materiais, especialmente em produtos biotecnológicos, integrados entre si, e conforme as vocações e os interesses socioeconômicos locais. A UFAM, UEA, o INPA e as parcerias privadas têm papeis estratégicos neste empreendimento. Vejam bem, nas atuais circunstâncias técnicas e políticas, importar novas experiências nacionais e internacionais em pesquisa e desenvolvimento articuladas às iniciativas acadêmicas sem a discussão e a participação das instituições regionais é mais um engodo imposto ao povo e às instituições amazônicas e ao Brasil.

Não há “salvadores da pátria” nem milagre para este tipo de atividade produtiva. Os amazonenses têm que se posicionarem criticamente perante as promessas falaciosas e milagreiras de certo setor da ciência e da economia brasileira. A consolidação da bioindústria na Amazônia não é tão simples como eles propagam por diversas razões que omitirei neste texto, devido a falta de espaço. Tem que se ter muito cuidado com as experiências fantasiosas do tipo: barco da esperança, biblioteca do futuro, bioindústria libertadora, entre outras, apregoadas como a ‘redenção da Amazônia’ pelas academias de ciências e pelos grupos internacionalistas posicionados estrategicamente na mídia, em setores do governo federal e nas instituições públicas e privadas brasileiras. O fracasso do ‘Programa Ciência sem Fronteiras’, financiado parcialmente com fundos públicos amazônicos, é uma prova deste tipo de fantasia, materializada em mais um projeto brasileiro mal planejado, elaborado e executado com resultados desastrosos.

Como afirmado anteriormente, a consolidação da bioindústria no Amazonas é muito dependente da formação especializada de nossa juventude, incluindo a interiorana. Depende também de parcerias internacionais com segmentos econômicos que detém a hegemonia em setores estratégicos desta plataforma tecnológica global, em perspectivas que interessem as instituições e as economias regionais. Esta atividade exige esforços concentrados e foco na organização de laboratórios bem equipados, formação de recursos humanos, financiamento público e privado, certificação clínica e ambiental, registro de marcas e patentes, produção em escala, parcerias privadas, marketing, entre outros secundários. As manifestações ingênuas, muitas vezes ficcionais, de vários gestores e especialistas em economia regional confundem a juventude amazonense que é induzida a acreditar num tipo de plataforma de bioindústria que pode nunca se materializar. Pelo menos na escala de tempo curto desta geração. Trata-se de uma Era amazônica que denomino: “A ilusão da bioindústria amazônica”. Este tipo de atividade exige muito trabalho, investimento e participação induzida da iniciativa privada e das instituições acadêmicas regionais. No artigo 20, sobre a Zona Franca de Manaus, analisarei alguns aspectos estruturantes sobre este arranjo produtivo no Amazonas.

O próximo artigo apresentará diversos arranjos produtivos regionais que ilustrarão a potencialidade e a diversidade da vida, dos materiais, das representações simbólicas, dos aromas e dos sabores amazônicos. Reafirma a importância dos arranjos produtivos municipalizados e sustentáveis para o desenvolvimento do Amazonas.

Uma política pública para o desenvolvimento sustentável nos trópicos úmidos: O estado do Amazonas, um caso ilustrativo

Parte VIIIb: Os arranjos produtivos e as políticas públicas municipais sustentáveis TEXTO 15/30

O artigo anterior apresentou os fundamentos do design de um programa de ciência, tecnologia e artes para o desenvolvimento municipal amazonense. Este décimo quinto texto apresenta diversos arranjos produtivos regionais que ilustram a potencialidade e a diversidade socioeconômica dos municípios. Destaca a importância em se valorizar as tecnologias apropriadas, tais como: as tecnologias navais, artísticas, alimentares, minerais, cerâmica-oleiro, produtos e serviços ambientais, hidrológicas, florestais, várzeas, agroecologia, pecuária, informação e comunicação, educativas, ecodesign, cultura, biojóias e artesanato tecnificado, ecoturismo, ecomovelaria, desenvolvimento limpo, bioindústria, novos materiais, banco de sementes e de micro-organismos, entre outras. Todas permeadas pela afirmação da sustentabilidade e a mitigação das mudanças climáticas.

Neste sentido, faz-se necessário construir as bases estruturantes para o desenvolvimento municipal vocacionado e assentado em inovações técnicas que se desdobrem na melhoria de suas políticas públicas, e reafirmar a importância dos arranjos produtivos municipalizados e sustentáveis para a matriz econômica e o desenvolvimento do Amazonas. Numa conjuntura na qual os jovens interioranos têm sido induzidos a exercerem as práticas ilícitas devido à inexistência de matrizes ocupacionais formalizadas e regulamentadas, em seus respectivos municípios.

Garimpo, crescente tráfico e uso de drogas, pirataria nas hidrovias, desmatamento para fins agropecuários e comerciais, ocupação e usurpação de áreas rurais, tráfico de animais e pássaros, entre outras, são atividades ilegais exercitadas por crescente parcela de jovens amazonenses nas sedes e nas zonas rurais do estado do Amazonas. Práticas ilícitas e setores econômicos não apreendidos pelas estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, e pelo usufruto das conquistas geradas pelo desenvolvimento econômico brasileiro, exclusividade e refém de uma parcela das populações sediadas nos grandes centros urbanos.

Juventude sem futuro, sem acesso aos empregos formais e às políticas públicas, em todos os níveis. ‘Empurrada’ em direção à marginalidade e à subserviência dos empregos precários ofertados pelas relações de poder municipalizadas ou estadualizadas. Este quadro social e econômico precisa mudar, por meio de intervenções políticas e científicas nas conjunturas municipais guiadas por um crescente processo de pauperização e marginalização.

Inovar e empreender são verbos-ação estratégicos para a mudança desta realidade que precisa ser arejada pela interiorização das instituições estaduais e federais promotoras de desenvolvimento econômico. Mobilidade e acessibilidade, política de segurança alimentar, educação integral e saúde básica, cultura e arranjos tecnológicos vocacionados, bioindústria e novos materiais hightech em bases sustentáveis, gestões e modelagens climáticas e ambientais, assessoria técnica e extensão rural, parcerias público-privadas e crédito, ordenamento territorial e licenciamento ambiental, e inspeções e certificações sanitárias e ambientais são prioridades técnicas e sociais para a organização do tecido econômico e social das municipalidades amazônicas, e a ruptura com os seus isolamentos físicos e políticos, em especial no estado do Amazonas.

Há diversidade de arranjos produtivos e tecnologias apropriadas que podem ser estruturadas nos municípios amazonenses, tais como: estruturas de bioindústria, em três níveis, coleta e higienização de produtos naturais, incorporação de técnicas e inovações às gestões e aos preparos dos produtos naturais e, finalmente, a industrialização hightech com laboratórios sofisticados. Ênfase também aos produtos alimentícios desde a coleta na floresta e o plantio ecológico à transformação em produtos de consumo, em bases sustentáveis.

Destaque às técnicas de pré-preparo dos alimentos, tais como: seleção, higienização, fracionamento, adição de ervas naturais e temperos exóticos, defumação, desidratação, certificação, acondicionamento e transporte desde as zonas rurais às sedes municipais e aos grandes centros urbanos. Há, também, diversidade de potências de novos materiais, dos cheiros e sabores dos trópicos úmidos a serem explorados e empreendidos, desde a escala local à global.

A fruticultura, a piscicultura, a criação de animais silvestres, e a agricultura das várzeas em bases sustentáveis constituem arranjos produtivos locais que podem ser manejados em todos os municípios amazônicos. A educação intercultural para os povos originários põe-se como prioridade neste quadro econômico e social. Política pública que prioriza a educação diferenciada na língua-mãe, desde o pré-escolar à Universidade Intercultural. E, também, valoriza a dinâmica cultural nos territórios e as relações destes povos com a natureza. A presença das instituições universitárias amazônicas na organização deste novo modelo de desenvolvimento agilizará a sua consolidação.

É premente que o poder público implante as logísticas e as estruturas adaptadas para recepcionar as plataformas de informação e comunicação, incluindo os centros de inovação tecnológica essenciais para modernizar os arranjos produtivos locais e incorporar melhorias técnicas às políticas públicas municipais. Similarmente é fundamental que se garanta as condições adequadas para a guarda, a conservação, a certificação, o transporte e a distribuição dos produtos desde a origem às cadeias de consumo nas zonas urbanas.

Os usos estratégicos das tecnologias de convergência, incluindo a telemedicina, a educação técnica e formal à distância, as prevenções e os monitoramentos de tragédias sociais, territoriais e ecológicas, a comunicação inter-regional, os drones e os aplicativos para a construção das cartografias dos locais, das agroecologias, das floras, faunas e das paisagens e dos ambientes naturais potencializam o sucesso da interiorização do desenvolvimento sustentável no Amazonas.

Integrar os municípios regional e nacionalmente, desenvolver os seus arranjos produtivos desde a escala local à global, construir as parcerias público-privadas, implantar as logísticas de produção e distribuição de processos e produtos, e aperfeiçoar as suas políticas públicas são desafios aos seus gestores e aos seus desenvolvimentos sustentáveis. Seus futuros prósperos são, também, dependentes da materialização das sociedades do saber, centradas no entrelaçamento do conhecimento tradicional com as ciências e tecnologias assentadas nos dispositivos inteligentes e na transcendência.

Quadro econômico e social materializado pelas culturas e tecnologias tropicais, em especial pelas biofábricas e os serviços ambientais compondo os polos industriais limpos e sustentáveis. As implantações de museus naturais articulados às suas unidades de conservação e às plataformas para difusão de suas culturas e ecologias, em âmbito global, constituem diferenciais que promoverão e reafirmarão a presença da Amazônia numa cadeia produtiva global, a partir de seus municípios.

Os três próximos artigos propõem uma plataforma de educação científica e tecnológica ao Estado do Amazonas. Questão estratégica à implantação do desenvolvimento sustentável em forma consistente e integrada à região. Finalizando apresento o poema “Amazônia e a Universidade Intercultural”.

AMAZÔNIA E A UNIVERSIDADE INTERCULTURAL**

Amazônia, tesouro da humanidade,
Natureza molhada por um mar d’água doce,
E morada de infindáveis jardins exóticos.
Amazônia, guardiã dos segredos da vida,
De múltiplas gêneses,

Da cura de doenças físicas e espirituais,
E da estabilidade atmosférica planetária.
Amazônia inventada pela sabedoria
De seus povos e pela cartografia colonial,
Com muita dor e sofrimento.

Amazônia e as suas florestas,
Esconderijos de estrelas desorientadas,
Palco de diálogos entre as suas faunas e floras,
Autorregeneradas por seus mitos, suas águas,
E a luz solar policromática.

Amazônia, centro do universo,
Onde os espíritos dos mundos
Vivo e inanimado convivem
Numa dimensão ecumênica,
Coletiva e diversa.

Amazônia, farol da sustentabilidade,
Portal de entrada à nova Era,
Permeada pela valorização da vida,
Da natureza, da paz,
E pela práxis emancipatória.

Amazônia e filosofia; Amazônia e ciência;
Bioindústria e tecnologias limpas,
E Amazônia e sociedades do saber,
Exigências à sua sustentabilidade.
As suas diversidades, belezas e culturas

Povoam imaginações e sonhos,
Desafiam mentes e corações,
Opõem-se ao capitalismo predatório.
A Universidade Intercultural mergulhará
Neste universo complexo e instigante;

Propõe-se construir perspectivas
Para promover os seus povos e a humanidade.
Incorporará temáticas e saberes
Que articulam o ser e o estar indígena
Ao conhecimento científico,
Ambos centrados na Amazônia,
E em seus 385 povos originários.
Universidade Intercultural,
Portal entre diferentes civilizações,
Fonte de liberdades assentadas

Nas culturas e nas naturezas de seus povos,
Em seus programas interculturais,
E em seus nexos com a educação científica.
Incorporará inovações sustentáveis
Às suas formas de intervir na natureza,

E alinhará a sabedoria de seus mitos
Às linguagens formais e explicativas
Sobre os ciclos biogeoquímicos.
Aperfeiçoará as leituras e as abordagens
Tradicionais sobre os domínios

De seus grandiosos e complexos territórios,
Vítimas de desmatamentos e queimadas.
Criará pontes entre a preservação ecológica,
As mudanças climáticas e as culturas indígenas,
Conforme as suas perspectivas civilizatórias.

Desconstruirá as histórias do domínio
E da opressão colonial,
E reafirmará as suas antropologias,
E representações materiais e simbólicas;
Difundirá as suas sustentabilidades plenas,

Às instituições nacionais e internacionais.
Mostrará alternativas fecundas
Às intervenções destrutivas na natureza,
À opressão social e ao racismo.
Alternativas materializadas em programas

Que articulem seus hábitos e tradições
Com as políticas públicas,
Sempre valorizando a evolução das técnicas,
E os seus ambientes,
Na perspectiva antropológica

E histórica de seus povos;
Destaque à invenção de modelos
De desenvolvimento sustentável
Centrados em suas culturas, naturezas,
E em suas artes e transcendências;

Quadro que valorizará os seus arranjos
Produtivos e fortalecerá as suas identidades
Antropológicas e geográficas.
Criará novas alianças políticas
E cooperações científicas e tecnológicas,

E desenvolverá formalismos jurídicos
Às situações de conflito e tragédias
Emergentes,
A Universidade Intercultural é um tesouro,
Revelado e compartilhado com o mundo,

Formará professores interculturais,
Difundirá o saber tradicional,
Desenvolverá novas tecnologias às florestas,
Às águas e ao bem-estar da humanidade.
Uma benção às futuras gerações, aqui e lá.

Encantará a humanidade com as suas artes
Imbricadas nos espíritos dos cantos,
Das belezas e das generosidades;
Mostrará novas visões e sentidos de vida,
E formas em se exteriorizar as felicidades.

A Universidade Intercultural,
Marco na história da educação brasileira,
Terá participação de xamãs
E de professores indígenas.
Produzirá reflexões e estudos na fronteira

De suas tradições com a filosofia,
As ciências da natureza
E as ciências humanas.
Terá atenção especial com os idosos,
E as crianças da sustentabilidade.

Sua organização é uma dívida histórica
Do estado Nacional com estes povos.
Urge sua implantação,
Em parcerias com as instituições nacionais.
Amazônia e Universidade Intercultural,
Patrimônios da humanidade.

**Poema publicado no livro “Tributo à Amazônia”, Kindle Direct Publishing – Amazon Book, 2022

Manaus, 8 de Junho de 2023

Marcílio de Freitas

Referência: https://www.amazon.com.br/kindle-dbs/entity/author?asin=B0BB3D1DBX

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