Manaus, 19 de junho de 2025

Um modelo equivocado

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Já repeti várias vezes e volto a insistir que considero o modelo desenvolvimentista imposto pela ditadura militar para a Amazônia um erro brutal, diria mesmo um crime. E pela lógica, a implantação da Zona Franca uma decisão estúpida.

Primeiro, além de estilhaçar a unidade regional, transformou Manaus num tumor canceroso que está destruindo o tecido social do Estado do Amazonas. Este blastoma social direcionou a nossa economia para a mão única da indústria de montagem. Na verdade, quem historicamente estimula a renda estadual é o comércio, que gera empregos e aqui deixa os impostos, pois a Zona Franca drena a maior parte dos recursos para fora, além de sorver recursos do tesouro que beneficiam multinacionais como a Samsung, a Sony e a Honda, em detrimento de investimentos nas melhorias sociais que o estado tanto necessita. Um dos poucos pontos positivos é a manutenção da Universidade Estadual do Amazonas, e o Distrito Industrial faz a contragosto. E mais, sabemos que a mão única da economia industrial primária é instável e já levaram à catástrofe cidades como Detroit, Cleveland e Buffalo, só para citar três delas inseridas na maior economia do planeta. Nenhuma sociedade pode sobreviver com uma capital que representa 60% da economia e 55% do eleitorado, deixando lá atrás, comendo poeira, os demais municípios. A capital amazonense não é uma cidade simples. Os desafios são inúmeros e o processo histórico da cidade se fez – com raras exceções -, sem planejamento, sem espírito republicano. Nos últimos anos Manaus experimentou um crescimento populacional como nenhuma capital brasileira, comparável apenas ao fenômeno de migração interna que explodiu a população de São Paulo nos anos 50. A tragédia é que as duas cidades não desenvolveram políticas que respondessem às demandas dos n0VOS habitantes. Ao contrário, permitiu-se até mesmo o crescimento de preconceitos que isolaram ainda mais os imigrantes. O ensino, é evidente, foi degradado e nivelado por baixo, permitiu-se a invasão desordenada das terras urbanas e as massas miseráveis serviram apenas como pasto eleitoreiro. O resultado foi a criação de uma Megalópoles desumana e brutal, que é São Paulo, em permanente decadência, e ama cidade agonizante e sem identidade que é Manaus, em permanente autodestruição. Não consigo ver no horizonte uma política capaz de reverter tal situação, fruto de um populismo degenerado que tem desprezo pela ordem democrática. Também tenho dificuldade em acreditarque, na atual correlação de forças, alguma mudança seja possível. Para as elites locais a Zona Franca é uma tentativa de exorcizar o fantasma da bancarrota e da decadência enquanto sublimam que tiveram de engolir sem espernear os projetos megalomaníacos da ditadura militar. O quinhão que nos coube na paranoia do regime de segurança nacional, foi o modelo dá Zona Franca de Manaus, que já não existe mais de tão remendado e fuxicado pelos tecnocratas de plantão e pelos interesses econômicos dos grandes grupos industriais que foram capturados pelos atrativos dos incentivos fiscais. Mas a dura realidade é que a Zona Franca apresentou desafios que foram ignorados pelas administrações públicas. Tivemos uma fieira de governadores e prefeitos desastrados, corruptos e incompetentes. Se fosse possível traçar um perfil desses políticos, teríamos personalidades de cultura rústica, de escolaridade medíocre, de horizontes limitados, imediatista no uso do cargo em benefício próprio. Esta pequenez mental se reflete nas proporções acachapadas das “obras” que deixaram. A cidade perdeu sua história e sua paisagem urbana. O exemplo é o Centro Histórico em decadência, que demandará milhões de reais para sua recuperação. Sem um modelo de paisagem urbana como dar exemplo aos migrantes e suas ocupações desordenadas?

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